O Estado de S. Paulo

Senador republican­o compara Trump a Stalin.

No Senado, Jeff Flake critica retórica ‘despótica’ do presidente americano e ataques contra liberdade de imprensa e de expressão

- WASHINGTON /

O senador republican­o Jeff Flake criticou ontem o presidente dos EUA, Donald Trump, por seus reiterados ataques à imprensa, dizendo que ele adotou a linguagem despótica do ditador soviético Joseph Stalin e inspirou vários aurocratas modernos.

“Nosso próprio presidente usa palavras infamement­e usadas por Josef Stalin para descrever seus inimigos. O despotismo é o inimigo do povo. E a imprensa livre é a inimiga do déspota, o que a faz guardiã da democracia”, disse o senador.

Em uma rara crítica vinda de um republican­o, Flake também afirmou que o fato de Trump retratar a imprensa como “inimiga do povo” foi imitado por regimes autoritári­os, como o dos presidente­s da Síria, Bashar Assad, e das Filipinas, Rodrigo Duterte. De acordo com ele, as declaraçõe­s de Trump são uma “vergonha para o povo americano”.

‘Inimigo’. “Já não podemos combinar os ataques à verdade com o nosso silencioso consentime­nto. Já não podemos fazer vista grossa ou nos fazer de surdos diante destes ataques contra nossas instituiçõ­es”, afirmou o senador. “Um presidente americano que não pode ser criticado, que constantem­ente deve desviar, distorcer e distrair, que deve encontrar alguém a quem culpar, está traçando um

caminho muito perigoso. E um Congresso que não atua como um mecanismo de controle do presidente aumenta o perigo.”

O senador republican­o do Estado do Arizona lembrou que o termo “inimigo do povo” foi proibido por Nikita Kruchev, sucessor de Stalin. O próprio Kruchev teria argumentad­o ao Partido Comunista da União Soviética que a frase havia sido criada para “aniquilar as pessoas que não estavam de acordo com o líder supremo”.

Após o discurso de Flake no Senado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, criticou o republican­o, dizendo que o ataque vinha de um senador “que recentemen­te esteve defendendo o opressivo governo de Cuba”.

Oposição. Flake foi um dos congressis­tas do partido que trabalhou mais insistente­mente na aproximaçã­o diplomátic­a com Havana durante o governo de Barack Obama. “Ele não está criticando o presidente porque é contra a opressão. Ele está criticando porque está mal nas pesquisas”, acrescento­u Sarah durante encontro diário com jornalista­s na Casa Branca.

Flake, de 55 anos, disse em outubro que não buscaria a reeleição este ano por não concordar com a nova direção do partido. Seus críticos, todos ligados ao presidente, dizem que ele não quis se candidatar porque sequer conseguiri­a vencer as primárias republican­as.

Em rota de colisão com a Casa Branca e com vários colegas no Senado, Flake garantiu ontem que seu discurso seria o primeiro de uma série de pronunciam­entos contra Trump que ele pretende fazer nos próximos dias, todos atacando a visão do presidente americano a respeito da democracia.

Denúncia

“Já não podemos fazer vista grossa ou nos fazer de surdos a estes ataques contra nossas instituiçõ­es” Jeff Flake

SENADOR REPUBLICAN­O PELO ARIZONA

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REUTERS Alerta. Flake diz que sem uma fidelidade de princípios à verdade a democracia não durará

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