O Estado de S. Paulo

3 em cada 4 casos de febre amarela em SP são em cidades fora do mapa de risco

Saúde. Áreas mais populosas do Estado não eram considerad­as como de circulação do vírus, mas foram as que registrara­m o maior número de casos no recente avanço da doença – 31 de 40 registros. Aumento de mortes de macacos, há 4 meses, levantou alerta

- Fabiana Cambricoli Giovana Girardi

Três em cada quatro casos confirmado­s de febre amarela no Estado de São Paulo ocorreram em cidades considerad­as pelo Ministério da Saúde sem risco para a doença. Boletim epidemioló­gico mais recente da Secretaria Estadual da Saúde paulista mostra que dos 40 registros da doença confirmado­s entre janeiro de 2017 até agora, 31 acontecera­m em áreas sem recomendaç­ão permanente de vacina.

São definidas como regiões com recomendaç­ão aquelas em que há risco de circulação do vírus. Nesses casos, devem se vacinar todos os moradores e viajantes que planejam visitar esses locais. Desde 2000, 445 dos 645 municípios paulistas, todos no interior, estão nesse grupo. As áreas mais populosas do Estado, no entanto, como as regiões metropolit­anas de Campinas e de São Paulo, não estavam nessa lista, mas foram as que registrara­m o maior número de casos no recente avanço da doença. Anteontem, a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) recomendou que todo o Estado seja considerad­o de risco.

Foram também nas regiões sem recomendaç­ão de vacina em que o Estado registrou, já há quatro meses, o aumento expressivo de casos de macacos mortos pela doença, dado que já indicava o avanço do vírus para áreas antes considerad­as livres dele. O número de animais doentes, que entre julho de 2016 e junho de 2017 foi de 187, saltou para 508 no mesmo período de 2017/2018.

“O que tem acontecido, já desde 2003, é um deslocamen­to da febre amarela cada vez mais à direita no mapa paulista, cada vez mais perto do litoral. Então acho que, de um modo geral, o Brasil deu uma cochilada”, comenta Celso Granato, professor de Infectolog­ia da Unifesp.

Pedro Luiz Tauil, do Núcleo de Medicina Tropical da Universida­de de Brasília (UnB), lembra que ainda não se sabe as causas da atual expansão da doença e diz que as campanhas estão se guiando por esse processo do vírus. “Ninguém vai propor vacinação onde não havia recomendaç­ão porque não tem vacina para todo mundo.”

Questionad­a sobre suposta falha na definição de áreas de risco, a Secretaria Estadual da Saúde informou que, desde o ano passado, passou a oferecer a vacina em 77 municípios, além dos considerad­os de risco. “Quem define a área de recomendaç­ão é o Ministério da Saúde. Mas estamos promovendo vacinação nos municípios que registrara­m casos de macacos mortos pela doença”, disse Regiane de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemioló­gica (CVE) da secretaria.

Bloqueio. Já o Ministério da Saúde afirmou, em nota, que desde 2016 vem acompanhan­do a circulação viral da febre, “o que permitiu realizar ações de bloqueio de vacinação em localidade­s que não pertencem a áreas de recomendaç­ão permanente”, como São Paulo. O órgão afirmou que tais decisões são tomadas em conjunto com Estados e municípios.

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