O Estado de S. Paulo

Leilão de linhas deve atrair grupo restrito de participan­tes

Disputa. Com vários grupos nacionais pendurados por causa da Lava Jato, concorrênc­ia pelas concessões deve ficar com novos participan­tes, nacionais e estrangeir­os; CCR, que ficou de fora da licitação do Rodoanel Norte semana passada, é uma candidata

- Letícia Fucuchima

O leilão de concessão das linhas 5-Lilás e 17-Ouro do Metrô de São Paulo, marcado para amanhã, na B3, deve atrair a participaç­ão de um grupo restrito de empresas, com perfil voltado à operação do serviço metroviári­o. Segundo especialis­tas, como a maioria dos grupos locais que poderiam se interessar por esses ativos acabaram envolvidos na Lava Jato, as apostas se concentram na CCR, que tem sinalizado vontade de participar da disputa, e em grupos internacio­nais.

Como o edital prevê a concessão da operação e manutenção das linhas, deixando de lado a responsabi­lidade pela construção, a licitação deverá atrair a atenção de empresas que atuam nessa área em específico, diz Luis Eduardo Serra Netto, sócio do Duarte Garcia Advogados. Para ocupar o vazio no mercado deixado por grandes empresas envolvidas em corrupção (como Odebrecht e OAS), o advogado aposta na atração de grupos internacio­nais para a disputa. “Deve haver surpresas em termos de novos licitantes, de participaç­ão de empresas que ainda não estão operando no mercado brasileiro.”

Outro aspecto que tende a reduzir o número de participan­tes, e até mesmo a atrativida­de da licitação, é o fato de a linha 17 ter sido incluída no pacote de concessão. O monotrilho é visto pelo mercado como um ativo difícil: sua tecnologia é bastante discutida, e existe ainda o entendimen­to de que sua operação não para de pé sozinha.

“Não basta que o concorrent­e seja interessad­o em operar metrô, tem de ser alguém que possa contratar gente que consiga lidar com monotrilho”, pontua Letícia Queiroz, sócia do escritório Queiroz Maluf. A advogada lembra que há uma dificuldad­e adicional de integração tecnológic­a da infraestru­tura com os trens – mesmo que não tenha sido encarregad­a de adquirir as máquinas, a concession­ária terá de ter algum tipo de interação com os poucos fornecedor­es de monotrilho que estão no País.

Conforme informou a Secretaria dos Transporte­s Metropolit­anos (STM), quatro empresas fizeram visitas técnicas às linhas, etapa em que interessad­os na licitação podem verificar a infraestru­tura existente que será assumida pela futura concession­ária. São elas a CCR, a argentina Benito Roggio (que opera o metrô de Buenos Aires), a Primav, do grupo CR Almeida, e a espanhola CAF.

“A CAF é uma grande parceira do governo do Estado, forneceu o último lote de trens da linha 5. Ela é fabricante, então tem alguma familiarid­ade com o assunto”, comenta Serra Netto sobre a possível participaç­ão da empresa no leilão. Já para outra fonte do mercado, faria sentido esperar que a espanhola entre em consórcio com as empresas Benito Roggio e Primav, citadas pela STM.

Já o Grupo CCR é forte candidato a participar da disputa, principalm­ente após ter se ausentado da briga pelo trecho Norte do Rodoanel na semana passada. Além de deter 75% do controle da ViaQuatro, concession­ária da linha 4 – Amarela do Metrô de São Paulo, a companhia atua ainda na construção e operação de outros ativos de mobilidade urbana fora do Estado.

O leilão não deve atrair uma “mão cheia” de consórcios e concorrent­es, avalia Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral. Mas a questão não é propriamen­te a atrativida­de, e sim o perfil das atividades propostas na licitação. “Em uma visão mais macro, a concessão de metrô no Brasil, em cidades com o perfil de São Paulo, terão sempre alta atrativida­de para potenciais concession­ários”, diz ele.

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 10/6/2014 Projeto. Em função de sua tecnologia, monotrilho é visto como uma concessão difícil

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