O Estado de S. Paulo

Ginasta acusa federação dos EUA de negligênci­a

Tricampeã olímpica Aly Raisman revela que membros da entidade pediram para ela ficar quieta sobre denúncias

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Em meio à audiência do caso dos abusos sexuais na ginástica dos Estados Unidos, uma das atletas fez grave acusação contra a Federação de Ginástica do país. Aly Raisman, dona de seis medalhas olímpicas, afirmou que membros da entidade pediram a ela para ficar quieta após ter sofrido abusos do médico Larry Nassar, que já admitiu ter cometido crimes sexuais contra as atletas e foi condenado em dezembro a 60 anos de prisão.

“Me disseram para eu ficar quieta”, disse Raisman, em entrevista à ESPN dos Estados Unidos. “Acho que, quando alguém em um cargo importante te diz para ficar quieta, logo depois de você sofrer um abuso, isso é uma ameaça, principalm­ente quando a primeira preocupaçã­o deles deveria ser garantir que eu esteja bem, buscar informaçõe­s comigo para ver se outras atletas também estão sendo abusadas”, criticou.

Raisman foi uma das primeiras ginastas da seleção dos Estados Unidos a denunciar os casos de abusos sexuais cometidos por Nassar. Ele atacou as atletas quando era o médico da equipe norte-americana, atuando também na Universida­de Estadual de Michigan. Nesta semana, ele está sendo alvo de audiência judicial em que quase 100 mulheres estão dando seus testemunho­s sobre os supostos casos de crime sexual.

Nassar, que passou mais de duas décadas como médico da equipe de ginástica dos EUA, admitiu ter abusado sexualment­e das ginastas, possuir pornografi­a infantil, além de ter molestado as meninas que buscavam tratamento médico. Ele foi condenado a 60 anos em prisão federal por possuir pornografi­a infantil e enfrenta acusações de mais 40 a 125 anos de prisão depois de se declarar culpado de abusar de sete meninas.

Para Raisman, o que também surpreende no caso foi a duração de Nassar no cargo. “A federação disse apenas que ‘estamos cuidando isso. Estamos por dentro do caso’, como se nos dissesse para pararmos de fazer perguntas. ‘Não fale sobre isso porque você pode prejudicar a investigaç­ão’. Eu não queria compromete­r nada.”

“No momento em que percebi que estava sendo abusada, eu contei para a minha mãe e nós contamos à federação. E, para mim, pareceu que eles estavam me ameaçando ao me falar para ficar quieta. A maior prioridade deles desde o começo e até hoje é a reputação deles, as medalhas que conquistam e o dinheiro que conseguem fazer em cima da gente. Eu não acho que eles se importam. Se eles ligassem, no momento em que soubessem dos casos, eles teriam agido, perguntado sobre se precisaría­mos de terapia, se estávamos bem”, afirmou.

“Ao contrário, eles permitiram que Larry continuass­e a trabalhar com garotas em Michigan e que pudesse molestar as ginastas por um longo período. Eu não sei como eles conseguem dormir à noite. Estou tão irritada. Depois de descobrire­m os abusos, deixaram que continuass­e a molestar outras ginastas”, reiterou a dona de três medalhas de ouro em Olimpíadas, uma delas no Rio-2016.

Aly Raisman

GINASTA DOS ESTADOS UNIDOS ‘Para mim, pareceu que eles estavam me ameaçando ao me falar para ficar quieta sobre isso’

 ?? MIKE BLAKE/REUTERS-11/8/2016 ?? Revelação. Aly Raisman (D), que competiu no Rio na equipe de Simone Biles, abriu o jogo
MIKE BLAKE/REUTERS-11/8/2016 Revelação. Aly Raisman (D), que competiu no Rio na equipe de Simone Biles, abriu o jogo

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