Davos questiona sustentabilidade da alta das ações
Fórum Econômico Mundial levanta temor de que movimento possa levar a outro episódio de ‘exuberância irracional’
Num momento em que mercados acionários de várias partes do mundo – inclusive no Brasil – registraram recordes de alta, o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, questionou ontem, em seu Relatório sobre Riscos Globais 2018, se a elevação dos preços dos ativos é sustentável. O documento lembra que nos últimos oito anos vem prevalecendo a tendência de alta nos pregões e teme que este possa ser outro episódio de “exuberância irracional”, numa sinalização de que as lições da crise financeira internacional de 2008 podem não ter sido totalmente absorvidas e que o ambiente possa se tornar propício a uma “correção profunda”.
O relatório cita que o Índice Dow Jones teve alta de 25% no ano passado; o S&P 500 subiu 19%; a Bolsa de Hong Kong avançou 35%; a japonesa, 19%; a alemã, 11% e a francesa, 8%. O Brasil não foi citado, mas registrou ganhos de 27% em 2017. No caso das bolsas americanas, o fórum salienta que em apenas dois momentos as ações subiram mais do que agora, justamente antes de períodos de crise, em 1929 e 2000.
As avaliações em relação a títulos de dívida são ainda mais “dramáticas”. Em meados de 2017, cerca de US$ 9 trilhões desses papéis registrou rendimento negativo e essa anomalia reflete o impacto dos enormes programas de compra de ativos lançados pelos bancos centrais na sequência da crise. O movimento, analisa o fórum, parece se divorciar da tendência dos preços dos ativos.
No caso de haver uma correção acentuada de mercado, conforme o documento, o impacto sobre a economia real seria indiscutivelmente maior em países mais expostos a setores e mercados nos quais as bolhas se formaram. Como exemplo, citou um país economicamente dependente das exportações de uma commodity, cujo valor pode desabar. “O impacto da confiança e dos efeitos da riqueza significa que os impactos da economia real também se sentiriam fortemente nos países – notadamente os Estados Unidos e o Reino Unido – em que a propriedade dos ativos financeiros é mais difundida”, trouxe o relatório.
O documento menciona ainda que não são apenas os preços de ações e títulos que aumentaram recentemente e dá como exemplo o segmento imobiliário. “A inflação em todas essas classes de ativos tradicionais foi reduzida por ativos mais especulativos, como a moeda criptografada bitcoin, que viu seu valor aumentar cerca de 1.200% em 2017”, ilustrou.
Uma nova fonte de risco potencial de mercado atualmente, segundo o fórum, é que as inovações em ativos financeiros e gerenciamento de ativos ainda não foram testadas em condições de crise. Um exemplo são os fundos negociados em bolsa (ETFs), que cresceram 500% em valor desde 2008 e agora representam US$ 4 trilhões de ativos e cerca de 25% de todas as ações no mercado de ações dos Estados Unidos.