O Estado de S. Paulo

Camex deve barrar hoje medidas antidumpin­g à importação de aço

Maioria dos ministros é contra barreiras ao produto chinês e russo por temerem retaliação; Decom é a favor

- Lorenna Rodrigues Carla Araújo / BRASÍLIA

Com a Fazenda e a Agricultur­a contra sobretaxar a importação de laminados de aço, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) deverá barrar em reunião hoje a aplicação de medidas antidumpin­g nas compras do produto de empresas chinesas e russas. Na expectativ­a da decisão, siderúrgic­as já se preparam para entrar na Justiça exigindo a aplicação da sobretaxa.

A maioria dos ministros da Camex deverá votar contra a medida com medo do impacto inflacioná­rio e de retaliação por parte dos chineses, que poderiam sobretaxar outros produtos brasileiro­s. A decisão pode repercutir em outras análises da câmara porque vai contrariar parecer técnico do Departamen­to de Defesa Comercial (Decom) do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), que concluiu que houve prática de concorrênc­ia desleal na venda do produto e que isso prejudicou empresas brasileira­s, o que indica a necessidad­e de aplicação de medida antidumpin­g. Se confirmada, será a segunda vez que uma determinaç­ão do Decom não é cumprida.

A expectativ­a de fontes que acompanham as discussões é de que apenas o MDIC votará pela aplicação da medida, como forma de defender seu departamen­to técnico. O ministro interino da pasta, Marcos Jorge de Lima, disse ao Estadão/Broadcast não vê problema em ficar “isolado” na decisão.

O relatório do Decom é considerad­o mandatório, mas pode não ser seguido sob o argumento de a decisão contrariar o interesse público.

Mesmo com o movimento das siderúrgic­as para judicializ­ação da questão, o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo, afirma que setor ainda acredita em uma decisão favorável na Camex hoje. “O fato é que empresas chinesas e russas foram pegas em práticas predatória das quais o mundo inteiro se protege. O Brasil vai na contramão do mundo.”

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipament­os (Abimaq), José Veloso, disse que a decisão contrária ao parecer do Decom pode suscitar uma discussão de como o direito antidumpin­g é aplicado no Brasil. “Hoje, o relatório não é conhecido e não pode ser contestado. As partes envolvidas deveriam ter uma instância para discutir isso.”

Veto. A Fazenda apresentar­á voto contrário à medida. Uma nota técnica da pasta mostra que a aplicação da medida seria prejudicia­l a cadeias produtivas nacionais. A avaliação é que o impacto no IPCA chegaria a quase 0,1% por ano. A adoção de medidas antidumpin­g foi pedida em 2016 por CSN, AcelorMitt­al e Gerdau contra empresas chinesas e russas que vendem aço plano laminado a quente. O produto é usado em larga escala na produção de máquinas e equipament­os, na lataria de carros, em eletrodomé­sticos.

“Na nossa concepção, com base no estudo muito bem fundamenta­do do Departamen­to de Defesa Comercial do MDIC, é o correto a se fazer.” Marcos Jorge de Lima

MINISTRO INTERINO

DO MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA,

COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS

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