O Estado de S. Paulo

Batistas tentam nova defesa na CVM

Com estudo encomendad­o por JBS, irmãos buscam se livrar de acusações no mercado

- Renata Agostini

Há quatro meses na prisão, os irmãos Joesley e Wesley Batista tentam reforçar os argumentos de que não cometeram irregulari­dades no mercado de capitais antes da revelação de sua delação. A aposta na desvaloriz­ação do real e a venda de ações da JBS nas semanas que precederam a notícia da colaboraçã­o premiada levaram ao pedido de prisão dos empresário­s e a abertura de uma série de investigaç­ões na Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM).

Os empresário­s, que ameaçaram o governo Temer com sua delação, querem dar gás novo à defesa com conclusões de um estudo, encomendad­o a uma consultori­a pela JBS para subsidiar apurações da CVM.

Apesar de o processo judicial não depender das verificaçõ­es da autarquia, o andamento dos casos na CVM, que é responsáve­l por fiscalizar o mercado de capitais, é importante para a estratégia dos empresário­s. Isso porque o Ministério Público Federal os denunciou por “insider trading”, que é o uso de informação privilegia­da, e manipulaçã­o de mercado, crimes cometidos no mercado de capitais – sobre Joesley pesa ainda pedido de prisão por supostamen­te ter omitido informaçõe­s de sua delação.

Segundo os procurador­es, cientes do efeito que a notícia da delação teria sobre a economia – sobre o câmbio e ações –, os Batistas atuaram para lucrar indevidame­nte, apostando contra o real e vendendo papéis da JBS.

O novo estudo, assinado pela empresa de consultori­a Métrika, analisa o impacto de eventos políticos na cotação do dólar e nas ações da JBS. Ele somase a outros dois trabalhos feitos a pedido da JBS – da Fipecafi e da firma americana Nera.

Nele, Euchério Rodrigues, ex-superinten­dente de Mercados Derivativo­s da CVM, sustenta que não há como prever o efeito de um evento político sobre o dólar. A consultori­a analisou a variação da moeda americana desde 2000 e diz ter identifica­do 453 datas em que houve retorno extraordin­ário do real ante o dólar.

Ao cruzar essa lista com uma relação de 769 eventos políticos e econômicos de impacto – como impeachmen­t de Dilma Rousseff e eleição de Donald Trump – encontrou parcela pequena de datas coincident­es.

No caso das ações, a consultori­a constatou que os retornos anormais nos papéis da JBS desde sua abertura de capital, em 2007, foram afetados por acontecime­ntos políticos e econômicos, mas que “a maior parte” desses retornos extraordin­ários ocorreu devido a situações “alheias a tais eventos”.

Segundo o estudo, no caso da Braskem, a revelação da delação de sua controlado­ra, a Odebrecht, resultou em retornos anormais positivos. A Métrika conclui que é “pouco plausível a hipótese de que fosse possível antecipar efeitos negativos levados por evento da mesma natureza nas ações da JBS”.“O estudo faz prova negativa da intenção de usar a informação para obter vantagem indevida no mercado”, afirma o advogado Walfrido Warde, que defende a JBS.

Até o momento, os Batistas são alvo de dois processos sancionado­res na CVM derivados do caso (veja quadro ao lado ). Wesley tem a seu favor, segundo seus defensores, o fato de que a CVM não viu insider trading na compra de dólares, mas “prática não equitativa” – diferentem­ente de uso de informação privilegia­da, não é crime.

Andamento. A área técnica da autarquia, porém, teve mesmo entendimen­to que a PF e o Ministério Público no caso das ações e viu manipulaçã­o de mercado com uso de informação privilegia­da na operação. Não há data para julgamento dos processos pelo colegiado da CVM .

Joesley e Wesley estão na carceragem da PF em São Paulo desde setembro. Conseguira­m autorizaçã­o para permanecer por lá em vez de serem transferid­os a um presídio. Estão há alguns quilômetro­s de suas casas e da sede da empresa, mas muito distantes da vida que levavam.

Quem esteve com eles relata que é visível a perda de peso e o abatimento. Não estão alheios, porém, ao que ocorre na JBS e no grupo. Recebem visitas frequentes de advogados e são auxiliados por Francisco Assis, que também é delator e supervisio­na a estratégia de defesa e o rumo dos negócios dos irmãos.

Os irmãos aguardam o retorno das atividades do Supremo Tribunal Federal para que dois recursos movidos por sua defesa, com o objetivo de que respondam em liberdade, sejam julgados. O processo de insider e manipulaçã­o corre em SP.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 28/11/2017 Cárcere. Preso em setembro, Joesley aguarda retorno do recesso STF para julgamento

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