O Estado de S. Paulo

Ausência inconscien­te

- Pedro Antunes

Por um mês, os quatro integrante­s do Boogarins viveram juntos, sob o mesmo teto. Uma casa entupida de equipament­os mantinha Benke Ferraz (guitarra), Dinho Almeida (voz), Raphael Vaz (baixo) e Ynaiã Benthroldo (bateria), em Austin, no Texas. Às noites, faziam uma residência no Hotel Vegas. Durante os dias, tentavam encontrar os caminhos para aquele que seria o novo projeto musical deles.

Lá Vem a Morte seria um disco de 12 faixas, mas, ao final da gravação, o resultado não era satisfatór­io. Não sabiam exatamente o motivo, sentiam, apenas. “Passamos a ouvir repetidame­nte, uma vez depois da outra”, conta Benke. Perceberam que existiam ali cinco músicas que se relacionav­am entre si, além de uma grande, chamada Lá Vem a Morte, que poderia ser dividida. Foi a chave que faltava girar para o grupo entender o que havia criado. Assim, repartiram a faixa em três, cada uma delas incluída no início, meio e fim do projeto, a costurar as ideias expostas em músicas como Foimal, Onda Negra e Polução Noturna.

Lançado de forma independen­te, de surpresa, no ano passado, o Lá Vem a Morte ganhou uma edição luxuosa pelo Noize Record Club, um clube de assinatura de vinis que envia, aos assinantes, uma edição especial inédita – no caso do trabalho do Boogarins, o vinil é transparen­te –, além de uma revista de 60 páginas dedicadas ao álbum. A celebração da chegada do formato físico com

Atração do festival Coachella, Boogarins lança vinil de ‘Lá Vem a Morte’, gravado nos EUA

uma apresentaç­ão ao vivo ocorre em São Paulo, na Casa Natura Musical, nesta quinta, 18. Lá, será possível fazer a assinatura do clube por R$ 75 (valor referente a dois meses de assinatura).

A banda, mesmo, não “coça a cabeça para tentar definir o Lá Vem a Morte”, como explica Benke. Há quem o chame de álbum, embora não tenha, do começo ao fim, mais de 30 minutos de duração. O certo é que é uma continuida­de musical de uma carreira iniciada há cinco anos, quando a estreia do quarteto de Goiânia, As Plantas Que Curam, foi lançada pelo selo gringo Other Music. Depois dali, o que era um projeto realizado no quarto, por Dinho e Benke, virou banda, tocou em festivais, viajou para Estados Unidos e Europa anualmente, lançou os álbuns Manual (2015) e o ao vivo Desvio Onírico (2017). Agora, eles foram escalados para tocar no festival Coachella, um dos maiores do mundo, realizado na Califórnia, em abril deste ano.

“É interessan­te vivenciar esse processo de estarmos fazendo tudo isso da forma mais independen­te e natural para a gente possível”, avalia Benke. Lá Vem a Morte é o exemplo disso: um álbum que exala uma melancolia por meio de colagens eletrônica­s, fritações guitarríst­icas e letras que, exprimidas, escorrem saudade. “E era isso, percebemos depois”, avalia Benke. “Estávamos há dois meses fora de casa. Tínhamos aquele mês. E, depois, mais dois de turnê. Havia uma saudade enorme de casa”, conclui.

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ANN ALVA WIEDING Gringos. Banda faz pelo menos uma turnê para fora do País (EUA e Europa) por ano

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