‘Delivery’ de drogas envolve até assessor parlamentar
Na operação, foram detidas 25 pessoas; entorpecentes eram transportados em motos e em carro oficial
Uma ex-estagiária do setor de combate ao tráfico de drogas do Ministério Público Federal e um assessor parlamentar foram presos ontem acusados de participar de uma quadrilha especializada na venda de entorpecentes para a classe média e média alta de Brasília. Batizada de Delivery, a operação, deflagrada ontem, cumpriu 28 mandados de prisão, além de 35 de busca e apreensão.
O esquema começou a ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal há um ano. O tráfico se inspirava no esquema de entrega de comidas prontas. O interessado fazia a encomenda por telefone e, pouco tempo depois, a droga, transportada em motos, era entregue. A estudante de Direito Marcela Gandino, de 23 anos, que trabalhou como estagiária da ProcuradoriaGeral da República (PGR), prestava, segundo a acusação, uma espécie de consultoria jurídica para integrantes do grupo.
“Ela fazia todas as recomendações sobre quanta droga transportar, o que deveria ser dito caso algum integrante fosse preso, quais procedimentos deveriam ser evitados para evitar a acusação de tráfico”, afirmou o delegado que coordenou a investigação, Rogério Henrique Oliveira, do 5.º Distrito Policial. Segundo ele, a estudante, de classe média, tinha envolvimento amoroso com um dos líderes da quadrilha.
Também foi preso o secretário parlamentar Daniel Lourival Azevedo, que trabalhava como motorista do deputado Valadares Filho (PSB-SE). Segundo o delegado, Azevedo teria usado o carro oficial para transportar drogas. “As investigações mostram que não havia envolvimento do parlamentar.”
Pena. Os detidos poderão responder por crime de associação para tráfico e tráfico de drogas, com penas que podem variar de 15 a 30 anos. Ontem, até o início da tarde, 25 pessoas haviam sido detidas. Outras três continuavam sendo procuradas. A operação envolveu cerca de 300 policiais.
“A quadrilha era especializada em fornecer drogas para pessoas do Plano Piloto”, disse o delegado. Entre as drogas encontradas durante a operação estava a “escama de peixe”, cocaína conhecida por seu alto grau de pureza, além de haxixe, maconha e merla (derivada da cocaína). Os mandados foram cumpridos apenas nas residências dos acusados.
Em nota, a PGR informou que Marcela deixou de ser estagiária em junho e que, por essa razão, o órgão não comentaria o ocorrido. Também em nota, o deputado Valadares Filho disse que não tinha conhecimento de comportamentos ilícitos de Azevedo. O deputado determinou a exoneração do servidor.
O Estado não conseguiu localizar a defesa de Marcela e de Azevedo ontem.