Alckmin fala em privatizar ‘várias áreas’ da Petrobrás
Eleição. Presidenciável tucano diz que, se eleito, poderá entregar a estatal por completo à iniciativa privada; para presidente da empresa, discussão agora tem ‘efeito perturbador’
Pré-candidato à Presidência, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que “inúmeras áreas” da Petrobrás poderiam ser entregues à iniciativa privada, com a perspectiva de privatizar a estatal por completo “no futuro”. Ele afirmou que uma equipe estuda quais empresas poderiam ser desestatizadas em eventual governo tucano. A declaração foi criticada pelo presidente da Petrobrás, Pedro Parente.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, disse ontem que vai privatizar “o que for possível” em seu governo, caso seja eleito em 2018. Ele defendeu entregar “inúmeras áreas” da Petrobrás à iniciativa privada, com a perspectiva de privatizá-la por completo “no futuro”. A declaração, porém, foi criticada pelo presidente da estatal, Pedro Parente. Ligado ao PSDB, Parente disse que esta discussão neste momento “tem um efeito perturbador muito grande”.
Em palestra a empresários do setor da construção civil, em Brasília, Alckmin afirmou que “muitos setores da Petrobrás devem ser privatizados”. “Inúmeras áreas da Petrobrás que não são o core (a atividade essencial da empresa), o centro objetivo principal, tudo isso pode ser privatizado. E, se tivermos um bom marco regulatório, você pode até privatizar tudo no futuro, sem nenhum problema.”
Alckmin, que fez um aceno ao mercado, tenta fortalecer seu nome como candidato de centro e tem sido aconselhado por aliados a adotar um discurso reformista. Nos últimos dois dias, cumpriu agenda de compromissos na capital federal que incluiu, além de empresários, parlamentares e aliados políticos.
Segundo Alckmin, uma equipe está estudando quais estatais brasileiras podem ser desestatizadas em eventual governo do PSDB. “É preciso avaliar a necessidade de cada uma”, disse, ao citar dois exemplos que seriam extintos em sua gestão: a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e a Empresa de Planejamento e Logística (EPL).
O tom do discurso do tucano está relacionado também às alianças políticas que ele tenta conquistar. Alckmin tem sido pressionado por aliados a se aproximar do presidente Michel Temer e adotar uma postura de centro-direita, para atrair partidos que hoje orbitam em torno do governo e flertam com outras possíveis candidaturas, como a do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Esta não é a primeira vez que Alckmin fala em privatizar empresas estatais desde que o seu nome começou a ganhar força no cenário eleitoral. Em novembro, disse que fecharia as “estatais petistas”. O discurso mais incisivo em relação às privatizações coincide também com a aproximação entre o governador e o ex-presidente do Banco Central Persio Arida, que tem ajudado Alckmin a desenvolver seu programa de governo.
A afirmação do governador paulista, contudo, foi mal recebida pelo presidente da Petrobrás. Parente, ex-ministro da Casa Civil e do Planejamento no governo Fernando Henrique Cardoso, disse que o debate em torno da privatização traz dificuldades de a empresa atingir o seu principal objetivo: superar a crise financeira.
“Essa não é uma discussão que faça sentido para a Petrobrás neste momento, porque estamos engajados na execução disciplinada do planejamento estratégico.
Sob o ponto de vista da Petrobrás, qualquer discussão sobre eventual privatização teria um efeito perturbador muito grande. Além da minha visão de que a sociedade brasileira não deseja a privatização da Petrobrás, como apontado em pesquisas”, disse.
Reformas. Na visita a Brasília, o pré-candidato também defendeu as reformas e afirmou que o próximo presidente precisa aproveitar os primeiros seis meses de governo para adotar as medidas. “As grandes reformas constitucionais, você tem que fazer no primeiro ano, porque quem for eleito vai ter quase 70 milhões de votos. A legitimidade disso é impressionante.”
Em uma referência indireta à possibilidade de uma candidatura do apresentador Luciano Huck, o tucano negou ser “showman” e alegou que a política brasileira precisa de “construtores”, não “gladiadores”. “A crise de representatividade é geral, não é só nossa. Veja o caso do Reino Unido, da Espanha”, disse. “Não sou um showman. Me apelidaram de picolé de chuchu.”