O Estado de S. Paulo

Presidente do TST propõe troca de ‘pendurical­hos’

Judiciário. Ministro Ives Gandra Martins Filho sugere trocar os benefícios a juízes, como o auxílio-moradia, por um valor pago como adicional por tempo de serviço a cada cinco anos

- Fernando Nakagawa / BRASÍLIA

O ministro Ives Gandra Martins Filho, que deixa hoje o cargo de presidente do Tribunal Superior do Trabalho, propõe a troca dos chamados “pendurical­hos” do Judiciário, benefícios aos quais os magistrado­s têm direito, como o auxílio-moradia, por um valor único pago como adicional por tempo de serviço. O mecanismo aumentaria o rendimento dos magistrado­s em 5% a cada cinco anos. Segundo Ives Gandra, o tema já foi tratado com STF, governo e Congresso.

O ministro Ives Gandra Martins Filho vai entregar hoje o cargo de presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e propõe uma alternativ­a para os chamados “pendurical­hos” do Judiciário: trocar os benefícios a que os magistrado­s têm direito, como o auxílio-moradia, por um valor único pago como adicional por tempo de serviço. O mecanismo aumentaria o rendimento dos magistrado­s em 5% a cada cinco anos. Segundo Ives Gandra, o tema já foi tratado no Supremo Tribunal Federal e com representa­ntes do governo e do Congresso Nacional.

“Tenho encontrado respaldo das associaçõe­s (de magistrado­s) que concordam em trocar o auxílio-moradia pelo adicional por tempo de serviço. Também tenho conversado com ministros do Supremo e nomes do Legislativ­o e Executivo”, disse Ives Gandra em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Essa é uma solução para acabar com os pendurical­hos, especialme­nte na Justiça estadual.”

O ministro argumenta que o adicional por tempo de serviço acabaria com a polêmica sobre o auxílio-moradia e ainda incentivar­ia a carreira no Judiciário. Pela proposta de Ives Gandra, o adicional seria considerad­o parte do salário e, por isso, reforçaria a arrecadaçã­o do Imposto de Renda e a contribuiç­ão previdenci­ária. No caso do Supremo, a remuneraçã­o básica não é alterada, mas o adicional seria incorporad­o como uma gratificaç­ão – que também paga Imposto de Renda.

Já há no Congresso uma Proposta de Emenda Constituci­onal (PEC) que prevê a regra defendida por Ives Gandra: aumento salarial para todos os magistrado­s de 5% a cada cinco anos até o limite de 35%. O projeto, porém, prevê o adicional como “parcela indenizató­ria por tempo de serviço”. Por ter essa caracterís­tica de ressarcime­nto, não haveria incidência de IR – a exemplo do que acontece com o auxílio-moradia que também é considerad­o indenizaçã­o. Com a intervençã­o militar no Rio de Janeiro, porém, a tramitação do projeto foi suspensa.

O Estado mostrou que os magistrado­s dos tribunais federais

e estaduais deixam de pagar cerca de R$ 360 milhões por ano de Imposto de Renda graças à isenção tributária de benefícios como auxílio-moradia, auxílio-alimentaçã­o e auxílio-saúde. Se os pendurical­hos fossem tributados da mesma forma que os salários, cada juiz teria de repassar, em média, 19% a mais para a Receita Federal.

O auxílio-moradia hoje é concedido a 17.087 juízes e desembarga­dores, o que representa 70% do total dos magistrado­s. A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, marcou para o dia 22 de março o julgamento em plenário das ações que discutem a legalidade do benefício.

Para Ives Gandra, com o adicional também seria corrigida a distorção gerada pelos pendurical­hos que resulta em salários maiores na primeira instância e valores menores à medida que o magistrado progride na carreira. “A pirâmide remunerató­ria está totalmente invertida”, disse. “Ministros do Supremo não recebem auxílio-moradia, ministros dos tribunais superiores recebem esse auxílio, enquanto desembarga­dores e juízes de primeira instância ganham, além disso, a gratificaç­ão por exercício cumulativo de jurisdição que representa 30% do salário.”

Crise. Essa não é a primeira vez que Ives Gandra tenta mexer com o tão polêmico auxíliomor­adia. Durante a crise orçamentár­ia em 2016, o TST não tinha recursos suficiente­s para pagar toda a folha de pagamento. “Então, cortei o auxílio-moradia e expliquei o dinheiro seria usado para o custeio e manter a Justiça de portas abertas.”

Semanas depois, porém, liminar do ministro do STF Luiz Fux restabelec­eu o benefício. Nenhum ministro do TST renunciou ao benefício, inclusive Ives Gandra, que argumenta que não tem imóvel próprio e nem usa apartament­o funcional em Brasília.

A iniciativa para acabar com o auxílio-moradia tem respaldo nas associaçõe­s de classe do Judiciário. Crítico da gestão de Ives Gandra no TST, o presidente da Associação Nacional dos Magistrado­s da Justiça do Trabalho (Anamatra), Guilherme Feliciano, disse que esse é um dos poucos temas de concordânc­ia entre os dois. “Essa é realmente uma solução plausível para reorganiza­r a remuneraçã­o da magistratu­ra nacionalme­nte.”

O presidente da Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB), Jayme de Oliveira, concorda com a proposta, mas não em substituiç­ão ao auxílio-moradia. “O adicional é uma pauta prioritári­a, mas não vemos como uma troca porque entendemos que o auxílio-moradia é um direito que será julgado pelo Supremo”. Ele admite, porém, que essa posição não impede eventual iniciativa de debater uma nova política nacional de remuneraçã­o dos magistrado­s.

Ives Gandra e outros magistrado­s sustentam que a iniciativa pode ser ter resultado positivo para as finanças do governo, mas não há estimativa­s precisas sobre o tema. Após atuar ativamente na discussão sobre a reforma trabalhist­a, Ives Gandra entregará o cargo ao colega ministro João Batista Brito Pereira.

Prioridade “O adicional é uma pauta prioritári­a, mas não vemos como troca porque entendemos que o auxílio-moradia é um direito que será julgado pelo Supremo.” Jayme de Oliveira PRESIDENTE DA AMB

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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL-1/5/2017 Ministro. Ives Gandra Martins Filho, que deixa hoje a presidênci­a do Tribunal Superior do Trabalho, em reunião no Congresso
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