Smartphone auxilia cirurgia cerebral no HC
Técnica de médicos brasileiros adapta celular ao neuroendoscópio para facilitar procedimentos; novidade também barateia as operações
Pesquisadores da medicina da USP usaram smartphones para reduzir o custo de neurocirurgias. Médicos do HC ligaram o aparelho celular a endoscópio para observar o interior do organismo de 42 pacientes de cirurgias no cérebro.
Uma equipe de médicos brasileiros demonstrou que smartphones podem facilitar e baratear as neurocirurgias. Os pesquisadores, do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP), adaptaram smartphones ao endoscópio – instrumento utilizado para observar o interior do organismo. O novo recurso foi descrito em artigo publicado ontem no Journal of Neurosurgery, principal revista científica da área.
A neuroendoscopia é um procedimento neurocirúrgico pouco invasivo utilizado para corrigir hidrocefalia, remover tumores e tratar doenças vasculares e outros problemas no cérebro. No estudo, os cientistas demonstraram a aplicação do novo recurso em neurocirurgias realizadas em 42 pacientes no Hospital das Clínicas.
Segundo o autor principal do estudo, Maurício Mandel, do HC e do Hospital Israelita Albert Einstein, a ideia inicial era apenas baratear os procedimentos de neuroendoscopia, mas o recurso acabou mostrando diversas vantagens em relação aos métodos convencionais.
Segundo ele, um sistema de neuroendoscopia custa entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Com a nova opção, os custos são reduzidos ao preço de um iPhone – a marca de smartphone utilizada pelos pesquisadores – e do adaptador que integra o endoscópio ao celular, que custa aproximadamente R$ 1 mil. Três modelos de iPhone foram utilizados, combinados com diversos tipos de endoscópio.
“Com essa redução de custos, é muito provável que esse recurso possa ser utilizado no SUS (Sistema Único de Saúde) em várias escalas, com aplicação em outros tipos de cirurgia. Mas, ao desenvolver o novo sistema, descobrimos que o trabalho do cirurgião também se torna mais seguro e mais simples”, disse Mandel ao Estado.
Segundo ele, com o método convencional, o cirurgião introduz um neuroendoscópio em uma pequena incisão no crânio, no nariz ou no céu da boca do paciente. O neuroendoscópio inclui uma fonte de luz para iluminar o campo de cirurgia, lentes de aumento e uma câmera, que envia as imagens a um monitor na sala de operação, além de canais para inserção de instrumentos cirúrgicos.
“Com o smartphone, o cirurgião não precisa virar a cabeça para olhar o monitor. Em vez disso, ele utiliza o celular como uma tela de alta definição bem na frente do endoscópio”, explica o médico do HC. “Com isso, ganhamos a enorme vantagem de podermos olhar para o campo cirúrgico enquanto trabalhamos. Isso facilita a manobra do equipamento, porque a tela se move com o endoscópio, tornando o procedimento muito mais intuitivo e seguro”, acrescenta Mandel.
Além disso, segundo ele, o método permite gravar e transmitir em tempo real – por Wi-Fi ou bluetooth – todas as imagens da neurocirurgia. Elas podem ser enviadas, por exemplo, a um monitor para que outros cirurgiões possam analisá-las.
“O recurso abre portas para algumas possibilidades que nem imaginamos ainda. Às vezes, na medicina, há casos difíceis ou raros em que mesmo um cirurgião muito experiente pode nunca ter encontrado na carreira. Se nós temos a oportunidade de compartilhar a cirurgia ao vivo com um colega mais experiente, isso pode ser muito bom para os pacientes”, diz Mandel.
Recurso pedagógico. O estudo descreve o uso do smartphone adaptado ao neuroendoscópio em cirurgias realizadas em 42 pacientes, mas a equipe do HC já utilizou o recurso em mais de 150 casos – incluindo tratamento para hidrocefalia, aneurismas e a retirada de hematomas provocados por trauma. De acordo com Mandel, como todos os passos são gravados, o conteúdo está sendo utilizado também para fins pedagógicos, com os residentes.
Todas as cirurgias foram bem sucedidas e não houve nenhum tipo de complicação relacionada ao uso do smartphone, de acordo com o estudo. Uma das conclusões é que o baixo custo do novo método permite sua utilização em áreas onde a infraestrutura médica não é suficiente para a aquisição e manutenção de equipamentos caros.