Brasil e EUA iniciam conversa sobre taxa do aço
Governo americano indicou, ontem, que exclusão permanente de alguns países da sobretaxa dependeria de uma contrapartida, mas não deu detalhes
As áreas técnicas dos governos do Brasil e dos EUA já iniciaram as conversas em torno das sobretaxas que os americanos começaram a aplicar ontem sobre suas importações de aço e alumínio. Os produtos brasileiros estão liberados de pagar a taxa adicional até o dia 1.º de maio. Nesse período, os dois países farão uma negociação cujo formato e objetivos ainda não estão claros.
O secretário de Comércio dos EUA, Wilbur Ross, afirmou anteontem que a exclusão de Brasil, Argentina, Austrália, Coreia do Sul e União Europeia da sobretaxa não ocorreria sem uma contrapartida. Mas não deu detalhes. Não houve sinais até agora de que a conversa se dará em torno de produtos específicos como, por exemplo, um aumento da importação do etanol de milho americano. Na quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse que, se a questão é de segurança nacional, “não há por que tro- car aço por manteiga”.
É aguardado para o início da próxima semana um telefonema do presidente Michel Temer para Donald Trump. O contato de mais alto nível entre os dois países é visto como uma peça importante para o sucesso das negociações.
Em nota conjunta dos ministérios da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e das Relações Exteriores, o governo brasileiro diz que atuará junto com o setor privado para que a exclusão de seus produtos de aço e alumínio do regime de sobretaxa se dê de forma definitiva o quanto antes. “O governo brasileiro permanece convencido de que tal resultado será melhor alcançado por meio do diálogo”, diz.
Parceria. No anúncio que confirmou oficialmente a exclusão do Brasil da sobretaxa, o governo americano cita a cooperação dos dois países na área de Defesa, principalmente na América Latina, para justificar sua decisão. Ao anunciar a sobretaxa, Trump havia dito que países parceiros poderiam ser liberados.
O documento fala também da atuação conjunta de Brasil e EUA no Foro Global do Aço, coordenado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que discute o que fazer com o excesso de produção de aço no mundo. Há uma sobreoferta estimada em 750 milhões de toneladas, dos quais 400 milhões são de origem chinesa. O Brasil tem tido uma atuação forte nas discussões, em posições convergentes com as dos EUA.
Outro ponto mencionado no anúncio é a integração comercial e de investimento entre os dois países. Nesse ponto, se encaixa o principal argumento do Brasil: de que sua produção é complementar à dos EUA. Cerca de 80% do aço exportado para lá é semiacabado, para ser processado pelas indústrias locais. Na mão inversa, o Brasil importa US$ 1 bilhão de carvão siderúrgico americano ao ano.
Há, além disso, os investimen- tos na indústria siderúrgica americana. Perto de 14% do aço produzido naquele país vem de empresas com capital brasileiro, que empregam 100 mil pessoas.
Por isso, o lado brasileiro acredita estar em boa posição para negociar. Os americanos se mostraram preocupados com uma possível triangulação de produ- tos chineses por outros mercados. Mas os técnicos reuniram dados para demonstrar que esse não é o caso do Brasil.