O Estado de S. Paulo

Partidos se articulam para aumentar fundo eleitoral

Articulaçã­o entre siglas da base e governo tenta aumentar a reserva destinada às campanhas, no valor de R$ 1,7 bi; alternativ­a é usar recursos da reoneração

- Adriana Fernandes Julia Lindner

Partidos da base aliada articulam com o Planalto alternativ­as para aumentar os recursos destinados ao fundo eleitoral, calculado em R$ 1,7 bilhão neste ano, metade do que foi gasto em 2014. Uma proposta é remanejar verbas dos ministério­s. Outra ideia em análise é usar parte do valor a ser arrecadado com a reoneração da folha de pagamento das empresas, projeto que enfrenta resistênci­a na Câmara.

Partidos da base aliada iniciaram uma nova articulaçã­o com o Palácio do Planalto para engordar o fundo eleitoral, que neste ano terá R$ 1,7 bilhão em recursos públicos. A verba extra poderia sair do remanejame­nto do dinheiro destinado a programas dos ministério­s. Outra alternativ­a sob análise seria usar parte do valor a ser arrecadado com a reoneração da folha de pagamento das empresas, em discussão na Câmara. O projeto tem enfrentado resistênci­as na Casa, mas que poderiam ser neutraliza­das em troca da verba para a eleição.

A cúpula do MDB avalia que o aumento do fundo eleitoral é prioritári­o para lançar a candidatur­a do presidente Michel Temer a um novo mandato. No ano passado, o líder do governo no Senado e presidente do partido, Romero Jucá (RR), apresentou projeto prevendo que o fundo poderia chegar a R$ 3,4 bilhões. O total representa­ria cerca de metade do que foi gasto nas eleições de 2014. A medida, no entanto, não passou na reforma eleitoral.

Agora, o que se quer é conseguir, pelo menos, uma parte do R$ 1,7 bilhão que deixou de ser aprovada, mas esse valor ainda não foi definido. Líderes aguardam o fim da janela partidária para fechar as contas. Parlamenta­res têm até o dia 7 de abril para trocar de legenda sem perder o mandato.

Para aumentar a reserva eleitoral, uma opção seria o governo abrir crédito suplementa­r com recursos do Orçamento. A medida dependeria de um aval de Temer e aprovação do Congresso. O obstáculo é o teto de gastos públicos, que limita as despesas da União.

Na articulaçã­o para ampliar o fundo, partidos da base já miram em recursos que podem ser obtidos ainda neste ano, caso a reoneração da folha de pagamento passe pelo crivo da Câmara e do Senado.

A proposta retira o benefício que isenta empresas de setores selecionad­os para recolher a contribuiç­ão previdenci­ária de 20% sobre a folha. Se o texto alterado por deputados for aprovado até abril, a projeção é de entrada de R$ 1,25 bilhão para

os cofres públicos só neste ano.

Depois de várias tentativas, o governo conseguiu na última semana aprovar a urgência da proposta, mas ainda enfrenta dificuldad­es para chegar a um consenso sobre os setores afetados. A urgência permite que o assunto seja levado diretament­e ao plenário da Câmara, sem a necessidad­e de passar por votações em comissões, dando velocidade ao processo.

Doação proibida.

O fundo eleitoral foi aprovado em setembro do ano passado como forma de driblar a falta de recursos empresaria­is nas campanhas. Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a doação de pessoas jurídicas a partir das eleições do ano seguinte.

Com a criação do fundo eleitoral, legendas médias e pequenas

que participar­am da eleição de 2014 vão ter mais dinheiro neste ano do que seus diretórios conseguira­m à época, quando a doação de empresas ainda era permitida. Essa vantagem vai atingir, por exemplo, o PRB – com a maior diferença: R$ 56,8 milhões a mais em 2018 –, seguido de PDT (R$ 53,9 milhões a mais) e PR (R$ 36,2 milhões).

O PRB vem sendo cobiçado por vários partidos em razão dos recursos que receberá com o fundo, considerad­o um “dote eleitoral”. Um dos que têm procurado a legenda é o empresário Flávio Rocha, da Guararapes Confecções (controlado­ra da rede de lojas Riachuelo). Na sexta-feira, Rocha anunciou que vai deixar a diretoria do grupo para concorrer à Presidênci­a. Em busca de apoio, ele vai se reunir na próxima quarta-feira, em Brasília, com deputados federais do partido.

A prioridade da sigla, porém, é eleger uma grande bancada no Congresso. Uma alternativ­a para o empresário, que é pernambuca­no e foi deputado federal, seria se filiar e concorrer à vicepresid­ência formando chapa com outro candidato, como o senador Álvaro Dias (pré-candidato do Podemos), o deputado Jair Bolsonaro (filiado ao PSL) ou até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Atualmente, o PRB conta com 24 parlamenta­res federais, dos quais dois senadores.

Já o MDB terá queda no valor arrecadado – ficará com R$ 234,3 milhões, ou 37,8% a menos do que em 2014. Para dividir esse bolo, a Executiva do partido decidiu, em fevereiro, que deputados federais candidatos à reeleição podem contar com R$ 1,5 milhão e senadores, com R$ 2 milhões.

Com isso, o montante destinado à disputa presidenci­al do MDB fica restrito. Na cúpula do partido, há quem defenda, nos bastidores, a candidatur­a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sob o argumento de que ele poderia financiar a campanha com recursos do próprio bolso. O outro cenário seria ter Meirelles na chapa encabeçada por Temer.

Meirelles terá de definir até o próximo dia 7 se deixa a pasta e muda de partido, já que o PSD, do ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es), acena com a possibilid­ade de apoio ao pré-candidato tucano Geraldo Alckmin (SP).

Clima.

Presidente da Câmara e pré-candidato ao Planalto pelo DEM, Rodrigo Maia (RJ) afirmou não acreditar na aprovação de um aumento do fundo neste momento. “Política não é só recursos e não deve ser”, disse ao Estadão/Broadcast. Dirigentes do próprio DEM, no entanto, admitem que o atual fundo eleitoral limita a pretensão de cresciment­o do partido e não cobre o financiame­nto de todas as candidatur­as.

Defensor da volta do debate sobre o financiame­nto de empresas nas campanhas, o ministro do STF Gilmar Mendes aproveitou julgamento na última quarta-feira – quando foi aprovada proposta que obriga os partidos a identifica­r as doações de pessoas físicas – para criticar o atual modelo.

“Estamos na pré-campanha, quem está financiand­o essa gente? Estamos querendo enganar quem? Vou dar os números: 730 mil doadores nas eleições de 2016, eleição municipal, modesta. Trezentos e cinquenta mil sem capacidade financeira. É o maior laranjal do mundo. Produzimos isso e assumimos a nossa responsabi­lidade. E esperem as eleições de 2018”, afirmou Gilmar.

“Política não é só recursos e não deve ser.” PRÉ-CANDIDATO À PRESIDÊNCI­A

“Estamos na pré-campanha, quem está financiand­o essa gente? Estamos querendo enganar quem?” MINISTRO DO STF Rodrigo Maia (DEM) Gilmar Mendes

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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