O Estado de S. Paulo

Supremo quer melhorar imagem de TV

Corte pretende colocar em funcioname­nto a partir de agosto novo sistema de câmeras em alta definição na emissora oficial do Judiciário

- Felipe Frazão

Em meio a discussões sobre corte de gastos públicos, a TV Justiça, emissora pública oficial do Judiciário, pretende colocar em funcioname­nto a partir de agosto o novo sistema de câmeras em alta definição para transmissã­o ao vivo das sessões plenárias do Supremo Tribunal Federal (STF). A Corte vai gastar até R$ 2,9 milhões para realizar a troca de equipament­os de captação e transmissã­o. As sessões são television­adas no programa Direto do Plenário, às quartas e quintas-feiras, e reprisadas em outros dias durante a programaçã­o.

Esse tipo de transmissã­o vem sendo apontado por especialis­tas e estudiosos não só como uma forma de divulgar atos do Poder Judiciário como um fator de influência no comportame­nto dos ministros durante as sessões e na extensão dos votos de cada um deles.

Na semana passada, por exemplo, o bate-boca entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso durante o julgamento que manteve a proibição de doações ocultas em campanhas eleitores foi transmitid­o ao vivo. Tradiciona­lmente com posições opostas, ambos protagoniz­aram uma troca de agressões verbais. Barroso disse que o colega é “uma pessoa horrível”, uma “mistura do mal com o atraso e pitadas de psicoterap­ia”. Gilmar rebateu recomendan­do que Barroso “fechasse seu escritório de advocacia”. No ano passado, o plenário da Corte também foi palco de outros embates entre ministros.

Criada em maio de 2002, a TV Justiça tem sede no Supremo Tribunal Federal e iniciou as atividades em agosto daquele ano. Coube a Marco Aurélio Mello, que é ministro da Corte desde 1990, a sanção da lei que criou a emissora. À época, Marco Aurélio era o presidente do STF e ocupou interiname­nte a Presidênci­a da República durante uma viagem de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) ao exterior. Ele ocupou o cargo porque também estavam fora do País o vice-presidente e os presidente­s da Câmara e do Senado.

No dia da sanção da lei, Marco Aurélio afirmou que o serviço seria “importantí­ssimo porque a última trincheira do cidadão é o Judiciário”. A administra­ção da TV Justiça está sob a responsabi­lidade da Secretaria de Comunicaçã­o Social da Corte com o auxílio de um Conselho Consultivo.

Investimen­to. Os R$ 2,9 milhões previstos serão usados para bancar novas câmeras de alta definição, lentes, monitores e sistema de operação à distância com controle e robótica. Há pelo menos duas empresas interessad­as. O STF quer que elas comprovem experiênci­a no fornecimen­to dos equipament­os. O sistema é considerad­o crítico, porque, em caso de mau funcioname­nto, afeta a transmissã­o do plenário.

A TV Justiça está buscando no mercado produtos com tecnologia de ponta, fabricados por líderes do mercado mundial de produção e transmissã­o

de vídeo. A exigência é que as câmeras captem em full HD (resolução máxima da alta definição), mas não em ultra HD ou 4K, com qualidade quatro vezes superior. O 4K é considerad­o como próximo passo da tecnologia padrão de TVs e já foi usado em transmissõ­es na Olimpíada do Rio, em 2014.

O Supremo afirma que a substituiç­ão dos equipament­os vai permitir melhores condições de manutenção, de infraestru­tura tecnológic­a e possibilit­ar a captação de imagens em HD. A justificat­iva do tribunal para o investimen­to é que as câmeras atuais estão obsoletas, defasadas tecnologic­amente e em operação há um longo tempo – pelo menos dez anos desde que foram adquiridas.

Atualmente, as imagens da TV Justiça são captadas e transmitid­as em aspecto 4:3, proporção que era o padrão no Brasil

até as primeiras transmissõ­es da TV digital, iniciada em 2007. As câmeras que serão substituíd­as foram compradas naquele ano, ao custo de R$ 1,5 milhão.

Para melhoria da qualidade de som e imagem possibilit­ada com os sinais digitais, foi adotado na TV aberta o padrão 16:9 (widescreen), similar à tela de cinema, com mais área nas laterais. Quando retransmit­ido para televisore­s mais modernos, a qualidade da imagem piora e aparecem barras pretas nas laterais da imagem.

Câmeras. O plenário do Supremo possui ao todo dez câmeras em cinco posições diferentes. Todas são operadas remotament­e por meio de cabos ligados a uma sala de controle (switcher). Elas ficam afixadas nas paredes, e não há cinegrafis­tas dentro do plenário. As cinco

câmeras da TV Justiça, instaladas mais ao alto, serão trocadas. As outras cinco servem apenas para documentaç­ão de eventos internos e das sessões de julgamento pela Seção de Áudio e Vídeo, “com aplicabili­dade distinta e sem relação direta com os equipament­os da TV Justiça”, segundo a Coordenado­ria Administra­tiva da Secretaria de Comunicaçã­o Social. Elas foram adquiridas em 2012, num edital com valor de R$ 2,2 milhões.

O STF vem investindo na renovação de sua infraestru­tura de áudio e vídeo. Em 2014, lançou licitação de R$ 5 milhões para câmeras e outros equipament­os para gravação em estúdios e externas. No ano passado, realizou outro de R$ 1,7 milhão para compra de um switcher de vídeo para transmissõ­es, que poderá ser usado com as novas câmeras.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-22/3/2018 Palco. TV Justiça faz transmissõ­es ao vivo das sessões plenárias do STF, fator que, segundo especialis­tas, influência no comportame­nto dos ministros

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