O Estado de S. Paulo

CHAVISTAS BANCAVAM CAIXA 2 EM DINHEIRO E JATINHOS A CARACAS

Em depoimento, Mônica Moura disse que um avião da Andrade Gutierrez a levava à Venezuela, onde recebia o dinheiro de Maduro na própria chancelari­a

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

As primeiras reuniões formais dos publicitár­ios João Santana e Mônica Moura com a campanha chavista ocorreram em outubro de 2011, na Venezuela. Passagens aéreas mostram as frequentes viagens do casal a Caracas, em 2012. Nas reuniões, estavam Maximilien Sánchez Arvelaiz, ex-embaixador venezuelan­o no Brasil, o então chanceler de Hugo Chávez, Nicolás Maduro, Jessy Chacón, Jorge Rodríguez e Elías Jaua, figuras importante­s do chavismo. Segundo os publicitár­ios, foi Maduro quem afirmou que não pagaria todo o dinheiro solicitado pela campanha e parte ficaria a cargo de Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Com o orçamento fechado, os encontros seguintes trataram de assuntos técnicos. Os trabalhos envolveram uma campanha de nove meses em 2012, incluindo estratégia na TV, cartazes, material impresso e fotos. Dois contratos foram fechados por um valor de US$ 35 milhões. A Odebrecht entrou com US$ 7 milhões, por meio de contas no exterior. Outros US$ 2 milhões saíram da Andrade Gutierrez para contas de João Santana em Genebra, na Suíça. Em 11 de dezembro de 2013, em sua conta Shell Bill, em Genebra, Santana recebeu US$ 1,6 milhão em relação aos trabalhos na Venezuela. Cerca de US$ 11

milhões vieram do próprio Maduro, diretament­e da sede da chancelari­a, por onde passaram malas com o dinheiro.

Em seu depoimento – anexo 3 da declaração de 2017 –, Mônica Moura afirma que ela era levada em carros oficiais da chancelari­a, controlada por Maduro, para receber o dinheiro. Ela também indicou que Maduro mantinha um cronograma para efetuar os pagamentos semanalmen­te. “O então chanceler Nicolás Maduro – que viria a se tornar presidente depois da morte de Chávez – exigiu que Mônica Moura recebesse quase todos os valores pagos pela campanha de reeleição do presidente Chávez (em 2012) por fora, através de pagamentos realizados pelas empreiteir­as

Odebrecht e Andrade Gutierrez”, afirma o documento do Ministério Público.

“Parte desses valores não contabiliz­ados foi paga em espécie, entregue em Caracas, diretament­e para Mônica Moura pelo chanceler Nicolás Maduro, na própria sede da chancelari­a”, indica o documento. “Maduro recebia Mônica em seu gabinete, lhe entregava pastas com dinheiro e providenci­ava escolta para lhe dar segurança no percurso da chancelari­a à produtora”, disse. “Em Caracas, Mônica Moura recebeu em espécie na própria sede da chancelari­a US$ 11 milhões de Nicolás Maduro, e restou uma dívida de US$ 15 milhões nunca saldada”, indicou.

Os documentos também apontam que parte do dinheiro, também em espécie, era levado pela marqueteir­a para “Mônica Monteiro (mulher de Franklin Martins), pois eles eram os responsáve­is pela parte de internet da campanha”. Franklin e sua equipe foram contratado­s diretament­e pelo partido venezuelan­o “também sem contrato formal”. “Nicolás Maduro era sempre muito desconfiad­o, não queria entregar dinheiro em espécie para mais de uma pessoa, pelo risco da negociação. Por isso, entregava todo valor a Mônica Moura, que repassava.”

Mônica e Santana receberam, ao final, um total de US$ 18 milhões. Mas indicaram que esse não era o valor completo que havia sido prometido. Além disso, apontam que, em 2013, na campanha presidenci­al de Maduro, o novo presidente “plagiou” as ideias levadas pelos marqueteir­os brasileiro­s.

Jatinho. Um jato da Andrade Gutierrez levava José Dirceu, Franklin Martins e marqueteir­os do PT para Caracas, às vésperas da campanha de Chávez, em 2012. A informação faz parte dos anexos do depoimento, em 2 de agosto de 2017, de Mônica à Procurador­ia da República, em Salvador. Ela diz que o então embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arvelaiz, foi “articulado­r e fiador da campanha de Chávez”. “Ele tinha excelente trânsito entre os dirigentes de grandes empresas brasileira­s que tinham negócios na Venezuela, além de relações próximas com a cúpula do PT”, diz o texto.

Prova desse papel era sua capacidade de organizar viagens a Caracas. “Arvelaiz demonstrav­a intimidade com a Andrade Gutierrez que, até mesmo, disponibil­izava jatinhos para as viagens”, indica o anexo 10 do depoimento. “Em pelo menos três voos, viajaram juntos João Santana, Mônica Moura, Franklin Martins e José Dirceu, no trecho São Paulo-Caracas”, indica o documento. O trecho obtido pelo Estado não informa as datas das viagens.

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Esquema. Publicitár­ios expuseram sistema aplicado em outros países

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