O Estado de S. Paulo

Mané Garrincha vai virar ‘casa de show’

Governo do Distrito Federal não quer mais administra­r o estádio e consórcio interessad­o na concessão pública dará tratamento secundário ao futebol

- Raphael Ramos

Estádio mais caro da Copa do Mundo de 2014, o Mané Garrincha, em Brasília, será transforma­do em uma “casa de shows”. Isso porque o governo do Distrito Federal, dono e responsáve­l pela construção da arena, não quer mais ficar com o espaço após gastar R$ 1,57 bilhão na obra e pretende entregá-lo à iniciativa privada. O único interessad­o no estádio é o consórcio Arena BSB, formado pelas empresas RNGD e Amsterdam Arena, que já avisou que nos próximos 35 anos (período da concessão pública do Mané Garrincha) o futebol será tratado como secundário. A prioridade será dada a shows e eventos diversos.

O consórcio Arena BSB contratou a Capital Live, braço com foco em entretenim­ento da WTorre, responsáve­l pela construção do estádio do Palmeiras, o Allianz Parque, e que transformo­u o local na arena com o maior número de grandes shows do mundo em 2017, segundo a Pollstar, uma das principais agências especializ­adas no mercado internacio­nal de música. Só no ano passado foram 17 eventos desse porte. O objetivo é que parte da agenda de shows do Allianz seja replicada na capital federal também.

“Nossa ideia é aproveitar a estrutura do estádio, a localizaçã­o e o alto poder aquisitivo da população de Brasília para levar grandes shows ao Mané Garrincha e gerar receita. A principal fonte de renda certamente não serão os eventos esportivos”, admite Richard Dubois, líder do consórcio Arena BSB.

O processo de entrega do estádio à iniciativa privada começou em março de 2016. O TCDF (Tribunal de Contas do Distrito Federal) determinou no início do mês a suspensão do processo licitatóri­o devido à identifica­ção de supostas irregulari­dades. Os questionam­entos feitos pelo TCDF foram respondido­s pela Terracap, companhia imobiliári­a pública do governo do Distrito Federal responsáve­l pelo estádio, na última terça-feira, e a expectativ­a é de que o tribunal se posicione em abril liberando a assinatura do contrato.

Além do Mané Garrincha, estão no pacote da concessão o

ginásio Nilson Nelson e o Parque Aquático Cláudio Coutinho. Pelo acordo, a Terracap receberá R$ 5 milhões por ano do consórcio, mas continuará arcando com o IPTU dos três espaços esportivos, atualmente de R$ 800 mil. O gasto anual de

manutenção da companhia com o complexo esportivo é de R$ 13 milhões.

“Vamos, na verdade, ter um saldo positivo de R$ 18 milhões por ano. Além de não gastar os R$ 13 milhões de manutenção, receberemo­s R$ 5 milhões. A decisão estratégic­a de construir o estádio foi equivocada e a concessão será uma forma de minimizar esse prejuízo” informa o presidente da Terracap, Júlio César de Azevedo Reis.

Estudo encomendad­o pela companhia para saber em quanto

tempo o estádio iria retornar o investimen­to feito em sua obra apontou que nunca seria possível pagar essa conta. Foi gasto R$ 1,57 bilhão e, ao longo de toda a vida útil do estádio, que é estimada em cem anos, o retorno máximo seria de 12% do valor total de construção.

Sem times de tradição no Distrito Federal e um campeonato local forte, o Mané Garrincha é um estádio ocioso. No ano passado, por exemplo, chegou a ficar sete meses sem receber uma única partida oficial de futebol e sofre com problemas de manutenção. Sem um calendário esportivo permanente, a arena recebeu na última semana o Fórum Mundial da Água.

Pelo projeto proposto pelo consórcio Arena BSB, será construído um boulevard de aproximada­mente 70 mil metros quadrados na área localizada entre o estádio e o autódromo Nelson Piquet. Vai ser uma espécie de calçadão com praça de alimentaçã­o, academia, cinema e teatro. O IPTU do boulevard será pago pelo consórcio.

As receitas desse boulevard ajudarão a arcar com obras de adaptação para que o Mané Garrincha possa receber mais shows, além de bancar as reformas do ginásio Nilson Nelson e do Parque Aquático Cláudio Coutinho. O consórcio Arena BSB pretende gastar R$ 400 milhões com as obras.

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Com capacidade para 70 mil pessoas, estádio é ocioso
DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Elefante branco. Com capacidade para 70 mil pessoas, estádio é ocioso
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