O Estado de S. Paulo

Maricá e Niterói, novas ricas dos royalties, falam em cautela

Novas ricas dos royalties fogem do erro das cidades que esbanjaram no passado

- Fernanda Nunes /

Do cresciment­o vertiginos­o do supercampo de Lula, na Bacia de Santos, em 2017, nasceram dois “novos ricos” do petróleo – os municípios de Maricá e Niterói, na região metropolit­ana do Rio de Janeiro. Juntas, as cidades receberam R$ 1,5 bilhão em compensaçõ­es financeira­s pela exploração dos seus recursos naturais, 130% mais do que em 2016. O dinheiro está sendo destinado a grandes obras que não saíam do papel por falta de caixa dos municípios e eram reivindica­ções antigas dos moradores.

Além disso, as prefeitura­s criaram fundos especiais que só vão poder ser acessados no futuro, quando a receita do petróleo se esgotar. Maricá e Niterói querem evitar erros cometidos no passado por cidades do norte fluminense, que ficaram famosas por esbanjar os royalties com projetos supérfluos, “de maquiagem” da paisagem urbana.

São casos como o de Rio das Ostras, que gastou milhões para construir um calçadão de porcelanat­o em sua orla e como o de Campos dos Goytacazes, que construiu a própria “Disney” e um sambódromo, apesar de não ter tradição em carnaval.

Prefeito de Macaé, que há três anos perdeu para Maricá a liderança num ranking dos mais beneficiad­os pelos royalties da Petrobrás, Aluizio dos Santos Júnior (PMDB), o dr. Aluizio, diz que se arrepende de não ter investido mais em infraestru­tura.

“Dinheiro do petróleo é muito bom, mas passa. Gostaria de ter investido mais em saneamento básico, numa universida­de forte. O que fica são

as obras de infraestru­tura, mobilidade e educação”, afirmou.

Risco. Macaé precisou do royalty para sustentar a presença

de grandes empresas, como a estatal e as fornecedor­as. “Mas municípios menores, que não têm relação direta com o setor e que não têm muitos projetos, acabaram

gastando com bobagens. Esse é o risco”, destacou Edmar Almeida, professor do Grupo de Economia da Energia (GEE), da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Com 160 mil habitantes, Maricá foi a cidade que, em 2017, recebeu mais compensaçõ­es financeira­s da Petrobrás. Sua infraestru­tura e o acesso a serviços básicos são muito precários. Apenas 4% da população têm acesso a saneamento e 35%, a água potável.

Desde que o dinheiro do petróleo começou a entrar, a prefeitura aproveitou para colocar a casa em ordem, o que inclui desde a construção de um hospital de grande porte a um novo cemitério.

O secretário de Planejamen­to, Orçamento e Gestão de Maricá, Leonardo Alves, conta que a prefeitura foi notificada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal porque, sem espaço no cemitério antigo, corpos estavam ficando expostos. Apenas agora, com o dinheiro do petróleo, o problema pode ser resolvido.

“A gente conta que vai receber o dinheiro do campo de Lula por mais 15, 18 anos. Mas não estamos na dependênci­a dessa captação. Não precisamos desse dinheiro para o nosso custeio”, disse Alves.

Infraestru­tura. Em Niterói, segunda maior economia do Estado do Rio, a lógica é a mesma: o foco são os investimen­tos em saneamento, pavimentaç­ão, educação, saúde e segurança.

Com o dinheiro da Petrobrás, a prefeitura está construind­o, por exemplo, estruturas de contenção para evitar deslizamen­to de encostas de morros, como os que ocorreram em 2010, em que dezenas de pessoas morreram.

No Morro do Estado, na região central do município, a obra é esperada há mais de oito anos. “Moro aqui há 52 anos. É o lugar da minha vida toda. Para mim, é uma grande coisa essa obra. Essa é minha ida e vinda”, diz a moradora Vilma dos Santos, de 79 anos, apontando para as ruas da favela, ao lado de vizinhos.

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MARCOS ARCOVERDE/ESTADÃO Segurança. Vilma Santos comemora contenção no morro

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