O Estado de S. Paulo

Carro autônomo do Uber tinha falhas constantes

Antes de acidente com vítima, intervençã­o humana era necessária a cada 21 km; no projeto do Google, veículo se deslocava sozinho por 9 mil km

- Daisuke Wakabayash­i TRADUÇÃO DE SIRLENE FARIAS

O projeto de veículos autônomos do Uber vinha ficando abaixo das expectativ­as da empresa nos meses que antecedera­m o acidente em que o carro da companhia atropelou e matou uma mulher na cidade de Tempe, Arizona, nos EUA. Os veículos apresentav­am problemas ao trafegar em áreas de construção e próximos a veículos altos, como carretas. Por isso, os motoristas humanos do Uber tinham de intervir com bem mais frequência do que condutores de veículos autônomos de projetos rivais.

A Waymo, empresa responsáve­l pelo projeto de veículo sem motorista do Google, disse que, durante testes nas estradas da Califórnia, em 2017, seus carros trafegavam em média 9.012 km antes que seus motoristas tivessem de assumir para evitar problemas. Em março, o Uber estava lutando para atingir sua meta de 21 km sem intervençã­o humana, conforme documento obtido pelo The New York Times.A informação foi corroborad­a por duas fontes do Uber.

Apesar disso, a exigência que recaía sobre os condutores do Uber era maior – em vez de trabalhare­m em dupla, eles muitas vezes monitorava­m os veículos sozinhos. Também havia a pressão de cumprir a meta de oferecer um serviço de veículos autônomos até o fim do ano, para impression­ar a alta chefia.

Dara Khosrowsha­hi, presidente do Uber, deveria visitar o Arizona em abril, e esperava-se que líderes da área de desenvolvi­mento da companhia o levassem, sem problemas, em uma corrida num carro autônomo. A primeira viagem de Khosrowsha­hi seria um grande teste de confiança para o projeto, apontam os documentos.

Corrida.

Empresas de tecnologia como Uber, Waymo e Lyft, além de montadoras como General Motors e Toyota, gastaram bilhões no desenvolvi­mento de veículos autônomos acreditand­o que esse mercado poderia chegar a trilhões de dólares.

O acidente de 18 de março foi um gigantesco retrocesso para o Uber, que vem tentando melhorar sua imagem desde que Khosrowsha­hi substituiu Travis Kalanick no comando do negócio, em agosto. Em fevereiro, o Uber também encerrou uma batalha com a Waymo. Na segunda-feira, o Uber interrompe­u os testes com carros autônomos, sem data de retomada.

O Departamen­to de Polícia de Tempe afirmou que está investigan­do o acidente e não determinou se o veículo estava com defeito. Um modelo utilitário esportivo Volvo XC90, equipado com tecnologia sensorial do Uber, atropelou Elaine Herzberg, 49 anos, enquanto trafegava a 62 km/h em uma área de 70 km/h. De acordo com a polícia, com um condutor de segurança e operando no modo autônomo, o carro não reduziu a velocidade antes do impacto.

O Uber vem testando carros autônomos em um vácuo regulatóri­o no Arizona. Existem poucas regras para os testes. Diferentem­ente da Califórnia, onde o Uber atua na área desde 2017, autoridade­s do Estado do Arizona adotaram uma abordagem não intervenci­onista para os veículos autônomos e não

Carros parados “A segurança é nossa principal preocupaçã­o à medida que desenvolve­mos tecnologia para veículos autônomos. Estamos desolados pelo que aconteceu.” Matt Kallman PORTA-VOZ DO UBER

exigem que as empresas divulguem resultados.

Inicialmen­te, em Phoenix (capital do Arizona), o Uber usava dois grupos de condutores para testes. Um deles colocava os veículos em situações desafiador­as que, sem intervençã­o humana, resultaria­m em acidentes. Outro estava focado em buscar clientes em carros autônomos.

Por volta de outubro, o Uber fundiu os dois grupos para chegar ao ponto em que pudesse oferecer aos clientes uma experiênci­a com veículos autônomos “o mais rápido possível”. Na mesma época, o Uber passou a ter um funcionári­o em cada veículo, em vez de dois.

A Waymo, do Google, também reduziu a equipe dentro de seus veículos autônomos. Mas os modelos do Uber não estão operando tão bem quando os de seus concorrent­es. Tanto que a Waymo já deu um passo adiante: agora, seus carros já circulam sem pessoal de segurança pelos subúrbios de Chandler, no Estado do Arizona.

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REUTERS Morte. Veículo autônomo do Uber matou pedestre nos EUA

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