O Estado de S. Paulo

O requinte de suas composiçõe­s não flerta com o pop fácil

- Claudio Botelho ESPECIAL PARA O ESTADO

COMPOSITOR CAPITANEOU A CHAMADA “INVASÃO INGLESA” NA BROADWAY

Falar de Sir Andrew Lloyd Webber é falar de uma revolução que aconteceu no Teatro Musical que se faz no mundo inteiro, especialme­nte no West End e na Broadway – berço das criações mais significat­ivas deste gênero – ali pelo final dos anos 1970 e início dos 80. O termo “revolução” se aplica neste caso porque é com Lloyd Webber e suas criações que a Broadway passa pelo que se convencion­ou chamar de “invasão inglesa”, nos anos 1980, com a chegada de musicais londrinos que tomam Nova York com sucesso gigantesco, capitanead­os principalm­ente por O Fantasma da Ópera e Cats, saídos da mente musical inovadora de Webber e de sua parceria com o mais arrojado produtor do mundo atual, Sir Cameron Mackintosh.

É interessan­te notar que os primeiros passos de Webber foram com musicais ligados a temas bíblicos. Joseph and The Amazing Technicolo­r Dreamcoat (que conta a vida de José do Egito) nasceu como uma cantata religiosa (era para ser apresentad­a em igrejas e catedrais) de 20 minutos, mas chegou à cena como teatro musical em 1968 e tomou a forma de um musical de mais de duas horas de duração e um imediato sucesso de proporções bíblicas, sem trocadilho. O que certamente levou à investida em um tema de fundo religioso novamente. Jesus Cristo Superstar é criado como um “concept álbum”, uma versão em disco com elenco completo, coro e orquestraç­ões, como se fosse a gravação de um espetáculo, mas de fato era um mesmo um produto fonográfic­o, cujo sucesso impulsiono­u a versão

de palco anos depois.

O mesmo acontece com Evita, novamente um projeto lançado como disco (neste caso, um LP duplo), cuja canção Don’t Cry For Me Argentina se torna imediatame­nte um sucesso radiofônic­o de expressão mundial, o que impulsiona fortemente a chegada do musical aos palcos.

É interessan­te notar que todos os títulos citados até agora são de musicais conhecidos como “wall to wall musical”, ou seja, musicais onde não há texto falado, tudo é cantado ou entoado, algo que se assemelha ao que ficou conhecido como “ópera rock”, mas que de rock tem apenas alguns teclados que emulam o rock progressiv­o à la Emerson Lake & Palmer, e guitarras destorcida­s na orquestraç­ão, além de vozes rascantes e traqueotôm­icas, supostamen­te similares a grupos com o Yes e o Pink Floyd.

Mas ópera tem, e muito: a impostação vocal de alguns papéis tem exigências de preparo técnico típico do bel canto, há notas muito altas que não são viáveis para o chamado canto “pop” ou a voz branca (não empostada), e o formato de muitas das canções acaba sendo uma espécie de “ária/balada”, coisa que Sir Andrew de certa forma inventou em seus musicais. Exemplos são a citada Argentina..., I Don’t Know

How To Love Him , Memories, The Music of The Night, Think of Me, entre tantos outros hits.

É ATOR, TRADUTOR E PRODUTOR DE TEATRO MUSICAL

 ?? GUSTAVO SCATENA – 16/3/2010 ?? ‘Cats’. Obra saída da mente inovadora de Lloyd Webber
GUSTAVO SCATENA – 16/3/2010 ‘Cats’. Obra saída da mente inovadora de Lloyd Webber

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