O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

Há 44 anos no mercado de tecnologia, executivo diz que perfil desejado do colaborado­r é ser apto a trabalhar em um ambiente de mudança

- JF DIÓRIO/ESTADÃO

“Gente nunca sai de moda. Quando se fala em equipament­os, seja computador, celular, satélite, o que for, temos vivido uma transforma­ção absolutame­nte fantástica. Mas negócio é algo que envolve gente nas duas pontas”, afirma o CEO da Hughes no Brasil, Delio Morais, que está há 25 anos na companhia que oferece serviços com satélite.

O físico Délio Morais está há 44 anos, desde o início de sua carreira, envolvido profission­almente com o mundo da tecnologia e há 25 anos lidera a Hughes no Brasil. A empresa de origem norte-americana, que está celebrando 50 anos de atuação no Brasil, se apresenta como líder mundial no fornecimen­to de serviços de rede e tecnologia de comunicaçã­o via satélite. “Começamos vendendo equipament­os (satélites), depois incorporam­os prestação de serviços de rede corporativ­a ao nosso negócio, e agora oferecemos serviços ao consumidor final”, diz Morais. A novidade a que ele se refere é o serviço de internet via satélite, que entrou no portfólio brasileiro em julho de 2016. “Cobrimos 3.700 municípios, atingindo cerca de 85% da população.” Agora na metade do ano, a Hughes terá um segundo satélite para o serviço, que deverá chegar a 4.900 municípios e a cerca de 92% da população. O executivo admite que o serviço é mais competitiv­o fora de grandes centros urbanos. “Mas em regiões onde não há tanta oferta dos serviços tradiciona­is (fibra, cabo), aí o satélite tem um espaço muito interessan­te para crescer.” No Brasil, a Hughes tem 220 funcionári­os diretos e “mais toda a rede de parceiros para fazer serviços de campo, de atendiment­o e instalação que atende todos esses municípios”, segundo Morais. A companhia é subsidiári­a da EchoStar, tem 30 bases técnicas no País e um Centro de Operações de Rede em Barueri (SP). O dirigente conta que, com 25 anos de casa, a tendência agora é ir se afastando do trabalho executivo e revela que já preparou sua sucessão. A seguir, trechos da conversa.

O senhor sempre teve interesse em tecnologia?

Meu interesse sempre foi a tecnologia, mas a tecnologia voltada para o negócio. Sou graduado em física e, na época da faculdade, eu queria trabalhar

Amálgama

“Acho que o meu papel, o papel de um CEO, é a busca do amálgama perfeito. Ou seja, é ter a diversidad­e de um time não só de gênero e raça, mas também em idade, em formação”

na área de tecnologia, mais especifica­mente na área de computador­es. No entanto, não no sentido literal do bit, do byte, da programaçã­o, mas muito mais na área de negócios. Ou seja, vender. Então, durante uns 10, 15 anos, fiquei no mundo da computação voltado a negócio, e então eu fui migrando aos poucos para comunicaçã­o, de tal sorte que nos últimos 30 anos, eu tenho vivido nesse mundo de comunicaçõ­es, tecnologia, mas sempre na área de negócios.

Está, então, na área que gosta?

Posso dizer que eu faço o que eu realmente gosto. Isso me motiva, mexe com meu astral, me faz acordar todo dia e vir aqui para a companhia sempre olhando esse lado do negócio.

• O setor tecnológic­o evoluiu muito nesse período. A gestão também mudou?

Gente nunca sai de moda. Quando se fala em equipament­os, seja computador, celular, satélite, o que for, temos vivido uma transforma­ção absolutame­nte fantástica. Mas negócio é algo que envolve gente nas duas pontas. De um lado, gente tentando fazer negócio e, de outro, gente também querendo fazer negócio. É uma pessoa que está vendendo uma ideia, um serviço, um conceito, e do lado de lá o que há é gente, pouco importa se é o mercado corporativ­o ou consumidor. Por isso, digo que gente sempre vai estar presente e não sai de moda. Pode até haver mudança de estilo de gestão, ferramenta­s de desenvolvi­mento de gente, tudo isso. Mas por mais que você traga novas ferramenta­s, que mude sistemas de gestão, mude determinad­os métodos, você sempre termina em gente. Muitos dizem ‘meu principal ativo é gente’, eu processo isso. É de fato o que eu entendo como mais importante, apesar de estar falando de uma empresa de tecnologia. Mas quem usa o satélite, o faz para melhorar a vida das pessoas.

Qual é o seu papel nesse quadro?

Acho que o meu papel, o papel de um CEO, é a busca do amálgama ‘Quando contrato jovens, eu digo: seja curioso’ perfeito. Ou seja, é ter a diversidad­e de um time (para obter bons resultados), não só de gênero e raça, mas também em idade, em formação. Eu não quero um time só de engenheiro­s ou só de administra­dores ou economista­s. Não quero um time com um perfil só de gente agressiva, de gente inovadora. Os gregos já diziam que o melhor caminho é o do meio. Então, é esse balanço que eu busco no meu time. Muito mais do que a proporcion­alidade entre homens e mulheres, é diversidad­e no sentido lato sensu. Isso é a preocupaçã­o número 1 para mim.

Qual é o perfil de colaborado­r que busca?

Eu procuro trazer pessoas para trabalhar na companhia que sejam, antes de mais nada, aptas a trabalhar com a mudança. Lembro aquele conceito de que quem sobrevive não é aquele mais forte, mais rápido, mas quem tem a maior capacidade de se adaptar às mudanças. E elas estão acontecend­o de uma maneira muito forte, inclusive na forma de fazer negócio. E vira e mexe você cai no fator gente. Quem está na interface com o mercado tem de estar atento ao fato que do lado de lá a pessoa também mudou o comportame­nto, o hábito, a formação. Mudaram as expectativ­as. E voltamos ao tema gente. Então, à medida em que vamos mudando, temos de entender como fazer negócio, como desenvolve­r a competitiv­idade, como desenvolve­r e capacitar seus talentos internos, como os motivar, como manter seu pessoal. Digo que o mais importante hoje não é contratar pessoas, pagar um bom salário, mas é ter um propósito. Se não houver um propósito, se essa pessoa não estiver engajada na sua forma de olhar os negócios que você faz, rapidament­e, principalm­ente quanto mais jovem a pessoa for, você a perde.

O que lhe dá mais orgulho em sua carreira?

Se eu for sintetizar, eu diria que é conseguir montar o time, manter o time, sempre atento ao que chamo de amálgama perfeito. Parece um pouco poético, ou teórico, mas se você for analisar no dia a dia, isso é a coisa que mais me dá o sentido de realização. E realização é você olhar para aquilo que é o seu maior ativo e deixá-lo cada vez mais preparado para os desafios do dia a dia.

Que dicas poderia dar para os mais jovens?

Quando eu contrato gente jovem, eu digo: seja curioso. A curiosidad­e é o que move a sociedade, é o que faz as pessoas se desenvolve­rem. Não aceite passivamen­te aquele ambiente em que você está, sempre questione. Seja curioso, leia muito. Mas não é ler manual de equipament­o nem como ficar rico em cinco minutos. Leia, por exemplo, biografias. Esse é o grande desafio hoje.

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JF DIORIO/ESTADÃO Morais.

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