Geriatria no centro das atenções
Em 2050, 70 milhões de brasileiros terão mais de 60 anos. Rápido aumento da expectativa de vida leva áreas de Saúde a incluir na formação disciplinas voltadas à prevenção de doenças e ao tratamento de idosos.
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Os olhos já não conseguem divisar bem os objetos à frente, a caminhada é feita com dificuldade e com auxílio de andador, os ouvidos teimam em não decifrar o que o interlocutor está dizendo. Não é mesmo simples viver com as limitações da velhice, mesmo quando se tem pouco mais de 20 anos de idade e tudo isso faz parte de uma simulação. O cenário é a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que aborda Geriatria e Gerontologia na grade curricular da graduação, com atividades em laboratório, simulações e atuação dos alunos em clínicas de atendimento a idosos.
Até 2013, a disciplina era optativa. Tornou-se obrigatória em resposta à mudança demográfica do País. Há cerca de 20 milhões de idosos no Brasil. É mais do que o dobro do que havia em 1991 e um terço do que o País alcançará em 2050, quando 70 milhões de brasileiros terão mais de 60 anos. “Em 15 anos, envelhecemos o que a Europa envelheceu em 50. Fomos pegos de surpresa, e essa é a diferença que temos em relação aos países desenvolvidos. Lá eles tiveram
tempo. Aqui foi um envelhecimento brutal”, diz Ivana Damásio Moutinho, coordenadora do curso de Medicina da UFJF. “É claro que o aumento da expectativa de vida é bom, mas, para viver bem esses anos a mais, os idosos precisam ser acompanhados por profissionais preparados. Essa é nossa meta e, por isso, a disciplina entrou na grade”, afirma.
“No Brasil, um levantamento realizado em 2013 e publicado em 2016 na Revista da Associação
Médica Brasileira mostrou que menos da metade das escolas médicas trazem algum conteúdo relacionado a esse tipo de formação no currículo, boa parte ainda de forma eletiva. Atenta à situação, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) lançou, em 2014, um programa com sugestões de disciplinas para cursos de Medicina. O texto apresenta propostas para todos os semestres organizadas em temas como biologia do envelhecimento, síndromes geriátricas, atendimento ao idoso e cuidados paliativos.
Na Universidade Estácio de Sá, que tem oito cursos de Medicina no País, os dois principais desafios são preparar o aluno para lidar com o paciente terminal (a maior parte deles, idosos) e
{{ Quanto mais o sistema de saúde prolongar a autonomia do idoso, menos pesará para o bolso do País Emilia Inoue Sato, coordenadora do curso de Medicina da Unifesp