O Estado de S. Paulo

Sem dinheiro, partidos buscam candidatos ricos

Com proibição de doações empresaria­is, políticos que possam custear a própria campanha levam vantagem

- Adriana Ferraz / COLABORARA­M PEDRO VENCESLAU, CAIO SARTORI E IGOR MORAES

A ausência de um limite para o autofinanc­iamento de campanhas eleitorais, aliada à proibição das doações empresaria­is, aumentou a influência de políticos ricos na definição das candidatur­as majoritári­as. Pelas regras atuais, todas as despesas, desde que não ultrapasse­m o teto definido para o cargo pleiteado, poderão ser pagas pelo próprio candidato. Com os partidos obrigados a fazer conta para custear campanhas, dirigentes admitem que políticos com maior patrimônio pessoal tornaram-se ativos eleitorais. Em alguns casos, a capacidade de se autofinanc­iar virou condição decisiva para a montagem dos palanques regionais. Ao menos três pré-candidatos têm fortuna superior a R$ 100 milhões, como João Doria (PSDB), Henrique Meirelles (PSD) e o empresário Flavio Rocha, da Riachuelo, que na semana passada confirmou a intenção de se candidatar à Presidênci­a.

A ausência de um limite para o autofinanc­iamento de campanhas eleitorais, aliada à proibição das doações empresaria­is, aumentou a influência de políticos ricos na definição das candidatur­as majoritári­as. Pelas regras atuais, todas as despesas, desde que não ultrapasse­m o teto definido para o cargo pleiteado, poderão ser pagas pelo próprio candidato.

Com os partidos obrigados a fazer conta para custear campanhas – ontem o Estado revelou que as legendas querem aumentar o fundo eleitoral –, dirigentes admitem que políticos com maior patrimônio pessoal tornaram-se ativos eleitorais. Em alguns casos, a capacidade de se autofinanc­iar virou condição decisiva para a montagem dos palanques regionais. Ao menos três pré-candidatos têm fortunas superiores a R$ 100 milhões, como o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o empresário Flavio Rocha, dono da Riachuelo, que na semana passada confirmou a intenção de se candidatar à Presidênci­a.

Conforme relatos colhidos pelo Estado, a maior parte das legendas pretende dar prioridade à eleição de parlamenta­res federais, já que o tamanho das bancadas na Câmara é que define a divisão dos recursos dos fundos eleitoral e partidário – compostos por recursos públicos, ambos alcançam R$ 2,6 bilhões e serão fontes majoritári­as para bancar campanhas.

Nesse cenário, os partidos têm sido mais criterioso­s em lançar nomes para os governos estaduais sem chances reais de vitória. Isso coloca em vantagem candidatos ricos, que podem virar exceções.

Se a resolução que permite o autofinanc­iamento não for revista, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) já afirmou que vai pagar sua campanha ao governo.

“Mas eu não vou gastar milhões, não vou chegar nem perto do teto permitido (R$ 21 milhões). E o partido vai ter de contribuir também”, diz o tucano, que declarou R$ 28 milhões de patrimônio em 2014 (hoje, cerca de R$ 35 milhões em valores corrigidos).

As regras para o autofinanc­iamento estão sendo questionad­as no Supremo Tribunal Federal (STF), que ainda vai julgar o tema (mais informaçõe­s nesta

página). Enquanto o caso não se define, o senador Wilder Morais (PP-GO), candidato à reeleição, já projeta os custos. “Venho da iniciativa privada, onde se valoriza cada centavo. A campanha terá organizaçã­o, metas e fiscalizaç­ão. Quanto aos doadores, certamente serei um deles, mas com a parcimônia.”

João Doria, por exemplo, teria condições de bancar até 100% de sua campanha ao governo e ainda ajudar candidatos ao Legislativ­o. Com patrimônio pessoal estimado em R$ 188 milhões, o prefeito deve fazer algo semelhante à campanha de 2016, quando arcou com 32% das despesas – cerca de R$ 14 milhões. Ao Estado, o tucano disse que seguirá as regras eleitorais e a orientação do partido. “Se o partido assim definir (que colabore financeira­mente), seguirei”. Presidente do Novo, Moisés Jardim afirma que o pré-candidato do partido à Presidênci­a, o exbanqueir­o João Amoêdo, assim como todos os demais, terá participaç­ão financeira na própria campanha. “Mas a gente entende que é fundamenta­l que a campanha não seja 100% autofinanc­iada, até para que não se torne um projeto pessoal”, disse. Jardim admite, no entanto, que o patrimônio dos candidatos seja um dos critérios do Novo para a escolha de seus candidatos.

A cinco meses da data obrigatóri­a de registro das candidatur­as, a estratégia dos dirigentes partidário­s é deixar caminho aberto para formação de alianças nos Estados. Presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) diz que o planejamen­to da legenda só será anunciado após o término da janela partidária, em 7 de abril. “Mas, no PP, ninguém olha imposto de renda na hora de escolher candidato”.

Já o ex-presidente do DEM, senador José Agripino, diz que a legenda vai gastar com as campanhas mais viáveis. “É a viabilidad­e eleitoral que vai ditar quem vai receber os recursos.”

’Projeto pessoal’ •

“A gente entende que é fundamenta­l que a campanha não seja 100% autofinanc­iada até para que não se torne um projeto pessoal.”

Moisés Jardim

PRESIDENTE DO PARTIDO NOVO

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TSE 2002/2014/2016 JF DIORIO /ESTADÃO-3/08/2016 INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE:
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Empresário. Flavio Rocha quer se candidatar à Presidênci­a

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