Prisão de líder gera protestos na Catalunha
Puigdemont fugia da Justiça desde outubro, acusado de rebelião; ele será ouvido hoje e pode ser condenado a até 30 anos de detenção
Depois de cinco meses fugindo e se exilando pela Europa, o ex-governador da Catalunha Carles Puigdemont não conseguiu evitar a prisão ontem e foi detido na Alemanha, quando cruzava de carro a fronteira da Dinamarca. A prisão do separatista, acusado de rebelião pela Justiça espanhola e alvo de uma ordem de prisão europeia, causou violentos protestos na Catalunha.
Milhares de seguidores de Puigdemont se juntaram nas Ramblas, famosa avenida do centro de Barcelona, a pedido do grupo independentista Comitês de Defesa da República e, carregando bandeiras separatistas e cartazes pedindo “liberdade aos presos políticos”, se dirigiram para a delegação da Comissão Europeia, onde gritaram: “Esta Europa é uma vergonha!”
Alguns manifestantes lançaram lixo contra policiais catalães, que responderam com agressões a cassetete e disparos para o ar. “O que estão fazendo esses dias é totalmente desmedido. Eles nos tratam como criminosos por querermos a independência. Já não é uma questão de ideologia, mas de respeito aos direitos humanos”, disse Rosa Vela, de 60 anos.
A estudante Judith Cárpena, de 22 anos, advertiu os que se opõem à independência catalã. “Não cantem vitória, não é o fim do separatismo. O independentismo é liderado pelo povo, e não podem prender a todos nós”.
O advogado de Puigdemont, Paul Bekaert, explicou que ele havia viajado para uma conferência com estudantes na Finlândia, no fim de semana, e será ouvido hoje por um juiz. A Justiça tem até quarta-feira para decidir se ele deve ser preso ou ficar em liberdade condicional. Sua detenção é um novo revés para os independentistas catalães. No sábado, o Parlamento da Catalunha havia suspendido a posse de um novo governador regional após a prisão do candidato separatista Jordi Turull.
Puigdemont é acusado de ter organizado o plebiscito de autodeterminação da Catalunha, em outubro, ignorando sua proibição pela Justiça espanhola. As imagens das ações policiais, na ocasião, causaram críticas por uso excessivo de força. Apesar dos esforços de Puigdemont, porém, nenhum membro da União Europeia apoiou a causa separatista de uma das regiões mais ricas da Espanha.
Ele foi destituído do governo catalão pelas autoridades de Madri e se exilou voluntariamente na Bélgica. Segundo uma rádio catalã, simpatizantes fecharam ontem estradas, causando engarrafamentos, como fizeram nas duas greves realizadas após a repressão policial de outubro.
Na sexta-feira, o juiz espanhol Pablo Llarena havia confirmado a acusação de “rebelião” contra 13 separatistas catalães, entre eles Puigdemont.
O crime de rebelião pode ser punido com até 30 anos de prisão na Espanha – a Alemanha tem entendimento semelhante –, mas sua aplicação, no caso catalão, causa controvérsias porque pressupõe um “levante violento” que, segundo muitos juristas, jamais ocorreu.
A tentativa de independência acabou com a perda de autonomia da Catalunha, agora controlada diretamente pelo governo espanhol. A intervenção continuará até que os separatistas – maioria parlamentar nas eleições regionais de 21 de dezembro – escolham um novo governador. Se não conseguirem até 22 de maio, a região deverá realizar novas eleições.
“Não cantem vitória, não é o fim do separatismo. O independentismo é liderado pelo povo, e não podem prender a todos nós” Judith Cárpena
MANIFESTANTE EM BARCELONA