O Estado de S. Paulo

Balanço musical Último dia do Lollapaloo­za teve Liam Gallagher.

Ainda com filas e esperas, a 7ª edição do festival ganha fôlego com atrações de grande público e atrai 300 mil pessoas

- / GUILHERME SOBOTA, JOÃO PAULO CARVALHO, JULIO MARIA E PEDRO ANTUNES

A excelência do Rock in Rio sempre foi uma questão a ser estudada pelo Lollapaloo­za, festival que chegou à sua sétima edição neste fim de semana. No Rio, os ingressos se esgotam antes mesmo do anúncio de todas as atrações de cada um dos sete dias. O Lolla, com apenas um fim de semana, suava para esgotar suas entradas. A partir de 2017, quando passou a incluir atrações “nível Rock in Rio”, quando o assunto era massividad­e, tal qual o Metallica, o festival paulistano encontrou seu caminho. E ele, repetido em 2018, com êxito, se deve aos nomões que encabeçam essa edição do festival, realizado novamente no desconfort­ável Autódromo de Interlagos.

E, enquanto os mais ligados nas novas tendências da música reclamavam, o Lollapaloo­za Brasil entregou o que a grande maioria queria. De quebra, incluiu-se mais uma data, algo feito somente em uma das outras sete edições. Na época, o resultado foi bem abaixo do esperado. Desta vez, o Lolla seguiu o seguro. Trouxe de volta duas das atrações principais da edição de 2013, Pearl Jam, headliner do sábado, e The Killers, incumbidos a encerrar a terceira e última noite de festival, neste domingo – a terceira atração foi o Red Hot Chili Peppers, atração do Rock in Rio 2017, em setembro.

E o Lollapaloo­za não esconde nem teme essa “rockinrioz­ação” pela qual passa nos últimos anos. O que importa, no fim das contas, é o alcance, é ter o tal “sold out”. Cada dia do Lollapaloo­za, de acordo com a organizaçã­o do festival, reuniu 100 mil pessoas – a Cidade do Rock, do Rio de Janeiro, comporta 80 mil, no máximo. Portanto, 300 mil pessoas disseram, em alto e bom som, que quem quer atrações cheias de novidades talvez não entenda muito do show biz.

Afinal, qual festival repete duas das três maiores atrações, em cinco anos, e é capaz de dizer que vendeu todos os bilhetes? Só o Rock in Rio, que aparenta ter uma lista de artistas headliners, repetidos a cada dois anos. O esgotament­o das três datas – com um público diário 20 mil pessoas maior do que o festival carioca – prova que Lolla criou um ecossistem­a próprio.

As atrações do domingo comprovam a teoria. Desde a primeira, às 11h45, a banda brasileira Francisco, El Hombre, o número de público era maior e mais volumoso que nos dias anteriores. Talvez fosse o impacto da banda, que tem uma música na novela das nove da TV Globo, O Outro Lado do Paraíso, mas o que importa é que, mesmo diante de um horário ruim, debaixo do sol escaldante e com um termômetro marcando acima dos 30ºC, o grupo conseguiu fazer sua euforia repleta de consciênci­a para dar início ao dia de domingo.

Artistas brasileiro­s, como Braza, Mahmundi e Tiê, todos têm um pé no pop, donos de canções que poderiam tocar nas rádios – e, em muitos casos, como de Tiê e Mahmundi, já estão. A escalação dos artistas internacio­nais, a função é essa: colocar os ingressos para vender. E vendêlos aos montes. Por isso, o domingo teve Liam Gallagher, exvocalist­a do Oasis, já considerad­o o maior cantor do rock and roll, lá na segunda metade dos anos 2000. Sozinho, sem a banda Beady Eye, que ele também abandonou, o Gallagher cantor apostou em clássicos do Oasis, mais do que no seu disco solo, para agradar quem estava lá em busca do seu sobrenome famoso e sua história relevante nos anos 1990. Lana Del Rey também favoreceu o disco Born To Die, de 2012 e maior sucesso da carreira – o álbum lançado no ano passado, Lust For Life, foi o segundo mais lembrado na apresentaç­ão da moça.

O The Killers, principal atração da noite, seguiu pelo mesmo caminho. Fez sua farofa indie à la Ivete Sangalo, com muitos gritos para serem repetidos pelo público. Hot Fuss, o primeiro disco dos outrora meninos de Las Vegas, é o mais acionado na apresentaç­ão. Wonderful Wonderful, de 2017, foi lembrado apenas duas vezes. Não é ruim, pelo contrário, acerta na nostalgia desejada pelo festival.

O Lollapaloo­za deixa claro a opção pela inovação na sua escalação e na opção por colocar os artistas mais vanguardis­tas em um horário mais cedo, quando o gramado ainda não está tomado, mesmo que os nomes estejam surfando a onda do sucesso, como The Neighbourh­ood, atração do palco principal, e Khalid, que trouxe soul e R&B para o palco Onix, ambos os shows ainda no meio da tarde. Inovação até existe, mas ela fica para segundo plano. É preciso garantir a lotação máxima.

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RAFAEL ARBEX /ESTADÃO Liam Gallagher. Ex-Oasis traz a única conexão com o rock clássico

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