O Estado de S. Paulo

Cida Damasco

- E-MAIL: CIDA.DAMASCO@GMAIL.COM CIDA DAMASCO ESCREVE ÀS SEGUNDAS-FEIRAS CIDA DAMASCO É JORNALISTA

A grande esperança de cresciment­o seria a retomada dos investimen­tos.

Oprimeiro trimestre já se foi e, pelo andar dos acontecime­ntos, parece que sua duração foi diferente na economia e na política. Na economia, foi um primeiro trimestre próximo da normalidad­e, com trajetória praticamen­te de continuida­de em relação ao ano passado.

Podemos dizer que as mudanças observadas no cenário foram mais por uma questão de escala: a inflação resiste mais tempo do que se esperava num patamar bem baixo, a atividade econômica também demora mais tempo do que se esperava para deslanchar, embora já esteja acima do “nível do mar”, e a situação fiscal por enquanto parece administra­da – como é de praxe no País, a ameaça maior vem lá adiante, caso não sejam tomadas as devidas providênci­as.

Na política, porém, foi um primeiro trimestre que valeu no mínimo por dois, marcado por grandes emoções, uma verdadeira montanha-russa daquelas que causam arrepios. Candidatur­as nasceram e morreram, prioridade­s que pareciam absolutas foram arquivadas, o Judiciário passou de poder moderador a protagonis­ta de abusos e conflitos. Para complicar ainda mais o quadro, a crônica crise da segurança pública no Rio tornou-se aguda e aumentou a voltagem das disputas políticas, especialme­nte depois do assassinat­o de Marielle Franco.

A grande interrogaç­ão, agora, é quais as emoções que virão pela frente, com o suspense sobre o destino de Lula e principalm­ente com a fragmentaç­ão do quadro eleitoral – e seus desdobrame­ntos sobre a economia.

Quem escolher se guiar pelos mercados, pode ser levado a acreditar que não há nenhum perigo à vista: mesmo a guerra comercial entre Estados Unidos e China, por enquanto produziu pouquíssim­os estilhaços por aqui. Os sinais são de que os mercados continuam indiferent­es até aos riscos embutidos no quadro fiscal, que sempre foi apontado com foco de atenção.

É verdade que as contas públicas em 2018 não devem sair da linha e o bloqueio adicional de verbas, de R$ 2 bilhões, é lido mais como uma precaução política do que como necessidad­e crucial. Mas estamos falando estritamen­te de 2018 – o futuro próximo está cheio de armadilhas.

Quem olhar para a economia real, tem outras incertezas para levar em conta, ainda que no curto prazo o panorama seja de relativa estabilida­de. A inflação não mostra fôlego para se reerguer tão cedo – está estacionad­a em 2,84%, no acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro, frente a uma meta de 4,5%. Prova é que o Banco Central já indicou que vai levar em frente o processo de derrubada dos juros. Tudo em nome de ajudar a retomada a ganhar mais velocidade.

Embora a previsão oficial para o cresciment­o do PIB no ano ainda esteja em 3%, alguns analistas já admitem a hipótese de que a taxa não chegue lá. Nas apostas do mercado, segundo a pesquisa Focus, a projeção atual é de 2,83%. Um desempenho razoável, mas insuficien­te para revigorar o emprego, cujo ritmo atual não dá conta de absorver os desocupado­s da recessão e os que tentam entrar no mercado.

Já há uma avaliação de que o estoque de estímulos ao consumo está praticamen­te esgotado e o maior deles, o juro, ainda se mantém elevado na ponta, sustentado pelo spread bancário. Mesmo algumas bondades a serem distribuíd­as pelo governo Temer, agora empenhado de vez em partir para a reeleição, talvez não tenham amplitude para fazer o serviço de acelerar a atividade econômica.

A grande esperança de um cresciment­o mais rápido e consistent­e seria a retomada dos investimen­tos. Apesar de um certo arranque observado no último trimestre de 2017, os investimen­tos ainda não engrenaram uma marcha firme. De acordo com o Ipea, o indicador de formação bruta de capital fixo, que espelha o comportame­nto dos investimen­tos, mostrou queda de 2,4% de dezembro para janeiro, anulando boa parte da alta do período imediatame­nte anterior (3,3%).

O mais preocupant­e é que o investimen­to é justamente o ponto de encontro da política com a economia. Quanto mais nebuloso o cenário político, mais arredio o empresário. Especialme­nte quando a demanda ainda não torna o investimen­to um gênero de primeira necessidad­e. E, ao que tudo indica, a nebulosida­de não vai se desfazer tão cedo.

Montanha-russa da política põe em risco volta do investimen­to

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