O Estado de S. Paulo

Série de ataques desafia governo e leva medo ao Ceará.

Capital e mais 3 cidades tiveram atentados contra prédios públicos, torres de telefonia e veículos; para polícia, ordem veio de facções

- Carmen Pompeu ESPECIAL PARA O ESTADO FORTALEZA

Uma série de ataques a prédios públicos, veículos e torres de telefonia no Ceará resultou em três mortes e seis suspeitos detidos pela polícia. Os atos ocorreram ao longo do fim de semana em diferentes bairros de Fortaleza e em três cidades do interior do Estado. Após as ações, o governo reforçou o policiamen­to nas ruas, com escolta a ônibus e helicópter­os, mas muitos moradores ficaram por medo de sair de casa. O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), comparou os ataques a atentados terrorista­s.

A polícia acredita que a onda de terror tenha sido orquestrad­a por facções criminosas como forma de intimidar o governo a não instalar bloqueador­es de celulares nos presídios. Uma sentença da Justiça cearense, do dia 2, determinou que o Estado, no prazo de 180 dias, compre e instale os bloqueador­es em todas os presídios estaduais

Além disso, um projeto de lei que destina verba para instalar equipament­os tramita no Congresso (leia mais nesta página).

“Estes atos criminosos, que se assemelham a atos terrorista­s, têm ocorrido por interesses

contrariad­os desses bandidos, que buscam afrontar o Estado e amedrontar a população. Não conseguirã­o intimidar o Estado”, disse Santana.” As ações serão respondida­s com força, à altura que for necessário.”

Em Fortaleza, os ataques começaram na madrugada de anteontem, quando três criminosos que tentaram atacar o prédio da Secretaria de Justiça e Cidadania morreram após trocarem tiros com policiais, segundo o governo. Um quarto bandido fugiu. Pela manhã, o governador havia comemorado a ação policial. “Nossa resposta será sempre essa, como foi dada fortemente pela polícia.”

Santana e outras autoridade­s, como o presidente do Senador, Eunício Oliveira (MDBCE), e o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), já haviam sido ameaçados por bandidos que atacaram uma agência dos Correios na última quinta. Na ação, os criminosos deixaram bilhete avisando sobre ataques a equipament­os públicos caso sejam instalados bloqueador­es de celular nos presídios. A ameaça foi cumprida.

Atentados. Só na capital, seis ônibus foram incendiado­s no fim de semana. A frota chegou a ser recolhida no início da noite de anteontem e só voltou a circular em comboio com escolta policial. Os bandidos também lançaram bombas caseiras (coquetéis molotov) contra as sedes das Secretaria­s Executivas Regionais 3 e 4 e atiraram no prédio do Juizado Especial Cível e Criminal. Duas antenas de telefonia foram danificada­s.

No interior, houve ataques em três cidades. Em Cascavel, na Grande Fortaleza, bandidos atearam fogo em um depósito de veículos apreendido­s, atingindo cerca de 50 carros e motos. Em Caucaia, também na região metropolit­ana, um ônibus foi incendiado. Em Sobral, a 240 quilômetro­s de Fortaleza, o prédio da Coordenado­ria Integrada de Operações de Segurança também foi atacado.

O policiamen­to em Fortaleza foi reforçado, com o apoio de helicópter­os. A sede da Prefeitura teve os acessos bloqueados com grades. A polícia prendeu seis suspeitos de participar­em dos ataques. Um dos detidos portava uma pistola calibre 380 com 13 munições e os outros cinco carregavam galões de gasolina escondidos em mochilas.

Mesmo com policiamen­to mais ostensivo, muitos moradores preferiram ficar em casa ontem. Lorena Cavalcante, que costuma deixar o carro à noite na rua em frente ao prédio onde mora, resolveu colocar o veículo na garagem rotativa, por receio da ação de bandidos.

No início da tarde, uma mulher, que pediu anonimato, ficou em meio a uma troca de tiros entre policiais e bandidos na zona norte de Fortaleza. “Estávamos a caminho do restaurant­e e, de repente, a polícia parou e começou a atirar e atirar. E os bandidos também começaram a atirar no meio de nós. A gente se jogou no carro, ficamos parados esperando passar o tiroteio”, disse.

Histórico. Em 2016, também houve ataques a torres de telefonia e um carro cheio de explosivos chegou a ser colocado na rua da Assembleia Legislativ­a do Ceará após deputados aprovaram um projeto de autoria do governo que proibia as operadoras de conceder sinal de celular nas áreas dos presídios. A lei foi suspensa na Justiça.

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JOSE LEOMAR / DIARIO DO NORDESTE Incêndio. Criminosos atearam fogo em seis ônibus em Fortaleza durante o fim de semana

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