O Estado de S. Paulo

Estudante é mão de obra barata, reclama presidente de associação

Excesso de trabalho é queixa comum entre residentes; cursos criados no Mais Médicos não atraíram candidatos

- BRASÍLIA

“Residente é mão de obra barata. Em muitos programas, ele é chamado para trabalhar muito e aprender pouco”, resume Juracy Barbosa, presidente da Associação Nacional de Médicos Residentes. Entre as principais queixas dos estudantes, segundo ele, estão a falta de qualidade dos cursos ou dos tutores, excesso de horas de atividades e tratamento desrespeit­oso pelo orientador ou pelos colegas.

“Depois da graduação, passei direto para a residência, mas muitas pessoas têm de recorrer a cursos preparatór­ios”, conta Barbosa. A procura pelos cursinhos especializ­ados em provas de residência têm aumentado nos últimos anos. As classes são práticas e teóricas.

“As pessoas investem cerca de R$ 1 mil mensais, durante um, dois anos, para passar na prova. Muitos se frustram quando têm de enfrentar o dia a dia”, afirma Barbosa.

Segundo ele, o “que mais mobiliza os médicos a abandonar o curso é a falta de qualidade. Depois do investimen­to em horas de estudo, em pagar cursinhos, os profission­ais querem ensino de boa qualidade. Muitas vezes eles desistem, voltam a estudar para procurar lugar melhor”.

Barbosa afirma que não é raro ouvir de residentes reclamaçõe­s sobre o pouco comprometi­mento dos preceptore­s. “Esses professore­s muitas vezes não recebem nada por ensinar. Além da falta de incentivo financeiro, o residente pode representa­r um estorvo para o professor. Quando ele dedica um tempo para explicar o caso, tirar dúvidas, o atendiment­o ao paciente fica mais demorado. Em outras palavras, o trabalho dele pode ficar atrasado”, diz. Em vários casos, residentes de cirurgia têm dificuldad­es de participar, de fato, das operações. “Eles querem usar o bisturi. E isso muitas vezes não ocorre.”

Mais Médicos. Para Barbosa, parte do fenômeno de vagas ociosas se deve à expansão das residência­s no País. Um dos braços do programa Mais Médicos, criado pelo governo federal em 2013, foi a ampliação de escolas médicas e de residência, principalm­ente no interior.

A ênfase foi dada para especialid­ades considerad­as prioritári­as. “Foi feito um esforço para se ampliar as vagas de Medicina de Família e Comunidade, além de Psiquiatri­a”, observa o professor da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (USP) e coordenado­r da pesquisa Demografia Médica, Mário Scheffer. Muitos dos cursos novos despertara­m pouco interesse dos médicos que desejavam se candidatar.

A residência de Medicina de Família e Comunidade, por exemplo, é responsáve­l por quase 20% de todas as vagas não ocupadas do País.

Juracy Barbosa observa ainda que parte das vagas foi criada em locais onde não havia uma boas condições de trabalho./L.F.

 ?? INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ?? FONTE: DEMOGRAFIA MÉDICA
INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: DEMOGRAFIA MÉDICA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil