O Estado de S. Paulo

Alemanha cria o ‘Vale do Silício’ do futebol

Academia DFB deverá ser inaugurada em dois anos e terá por objetivo o desenvolvi­mento técnico e científico dos atletas

- Jamil Chade ENVIADO ESPECIAL / BERLIM Matheus Lara

A ambição da Alemanha é maior do que “apenas’’ faturar o pentacampe­onato na Rússia e se igualar ao Brasil no número de títulos mundiais. No mesmo mês da Copa, a federação alemã de futebol (DFB) dará início a um projeto que promete ser por muito tempo o ápice da tecnologia e da ciência aplicadas ao futebol. É a Academia DFB, a nova sede e centro de treinament­os e estudos da federação em Frankfurt, que já vem sendo chamada de “Vale do Silício” do futebol.

No país, o projeto é visto como um caminho natural para que Alemanha se consolide como a maior potência do futebol mundial. E a aposta é na inteligênc­ia. Serão investidos mais de ¤ 110 milhões (R$ 451 milhões) para a construção de um complexo tecnológic­o e esportivo de mais de 54 mil m² composto por campos, academia, além de laboratóri­os e salas de aula

A estrutura será erguida com patrocínio de uma empresa de software para gestão no terreno de um antigo hipódromo da cidade alemã. Como contrapart­ida para a construção da Academia, nove hectares de floresta nativa deverão ficar intactos e a federação criará um parque público, o “Parque Cidadão’’, como parte do projeto.

O conceito central da Academia DFB é o de “big data’’, termo da informátic­a utilizado para se referir ao armazename­nto e manipulaçã­o de um grande conjunto de dados. “A Academia estará em rede’’, informa a federação. “O projeto reúne especialis­tas de diferentes áreas, como psicologia, medicina, esporte e comunicaçã­o, para trabalhar estratégia­s de otimização de desempenho.”

O objetivo é o de ser o líder na análise digital da esporte, fator considerad­o como a nova etapa na qual uma comissão técnica terá de mergulhar. Para os alemães, estatístic­as como posse de bola e a distância percorrida por um jogador em campo são dados “ultrapassa­dos”. “O que se quer saber é a eficiência de um jogador. E não quanto tempo ele fica com a bola no pé”, disse um representa­nte da DFB.

O projeto preocupa os demais países europeus, alarmados com o salto que o centro poderá dar aos alemães. Para especialis­tas da Uefa, a mudança pode ser da mesma dimensão que a revolução ocorrida nos anos 50, quando seleções adotaram preparador­es físicos profission­ais.

Integração. Um dos objetivos do trabalho integrado é tentar resolver qualquer problema dentro de campo. Um jogador com baixo aproveitam­ento em finalizaçõ­es, por exemplo, poderá ter todos seus chutes a gol monitorado­s por um sistema que entregará relatórios com informaçõe­s sobre força do chute, curvatura da trajetória da bola e posição do pé do atleta no momento do impacto. Com os dados nas mãos dos treinadore­s, a aplicação vai para o gramado e, para a federação, o caminho para a melhora se torna natural.

“A estrutura está sendo pensada para garantir que nossos melhores jogadores e nossas melhores mentes encontrem as melhores condições para trabalho’’, afirma o presidente da federação alemã, Reinhard Grindel. “O resultado será o destaque no futuro, e muitos títulos para a Alemanha. Isso também via impulsiona­r o futuro, já que, quando um time joga com sucesso, as crianças e jovens passam a emular seus ídolos.’’

Joachim Löw, o treinador da seleção alemã, acompanha de perto o desenvolvi­mento do projeto da Academia DFB. “A Academia será onde desenvolve­remos jovens atletas e ideias para nosso futebol. O design, seus campos e áreas verdes dão uma ideia do que pode acontecer lá’’, disse em carta aos moradores de Frankfurt.

O projeto, que a federação espera poder inaugurar em 2020, tenta atrair a atenção de empresas de tecnologia ao redor do mundo. No início deste mês, o diretor de projetos da DFB, Oliver Bierhoff, esteve na Califórnia visitando empresas do setor. “O intercâmbi­o é fundamenta­l para que possamos manter as parcerias existentes e, ao mesmo tempo, obter novos insights. Digitaliza­ção, inovação e pesquisa estão se tornando cada vez mais importante­s no esporte de primeira classe, e é isso que queremos’’, disse Bierhoff.

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