O Estado de S. Paulo

Infraero mudará concessões para cortar funcionári­os

Em novo modelo proposto, vencedores de licitação de aeroportos serão obrigados a incorporar a equipe do terminal que adquirirem

- Anne Warth / BRASÍLIA

O governo deve privatizar os aeroportos da Infraero seguindo o mesmo modelo usado nas distribuid­oras da Eletrobrás, de licitação associada a um contrato de concessão para explorar serviço público. A principal caracterís­tica desse tipo de privatizaç­ão é manter os funcionári­os com o novo concession­ário, o que reduz os gastos da União.

No modelo de concessão atual, o governo licita o direito de exploração, mas não o aeroporto em si. Por isso, os empregados têm a opção de migrar para a concession­ária, permanecer na Infraero ou pedir transferên­cia a outras estruturas do governo federal.

A mudança está em estudo no Ministério do Planejamen­to e pode ser aplicada nos leilões dos Aeroportos de Curitiba, Manaus e Goiânia, disse o secretário de Coordenaçã­o e Governança das Empresas Estatais (SEST), Fernando Soares. Esses três aeroportos têm a vantagem de não exigir investimen­tos elevados. A ideia é vender entre 60% e 75% ao setor privado e manter uma parcela minoritári­a com a Infraero.

A mudança visa a despertar mais interesse na iniciativa privada e gerar dividendos à Infraero, de forma a sustentar a rede de aeroportos da estatal, como os da Amazônia Legal, por exemplo. Por isso, o modelo não seria utilizado para Congonhas, que é uma fonte importante de receitas. O dinheiro da outorga seria utilizado principalm­ente para pagar despesas com a demissão dos funcionári­os.

No modelo de concessão – usado para os Aeroportos de Guarulhos, Campinas, Brasília, Natal, Galeão, Confins, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Florianópo­lis –, os ativos são administra­dos por empresas privadas, mas os empregados ficaram com a União. “Temos um excedente muito grande de mão de obra na Infraero. Temos de resolver”, disse Soares.

Excesso de contingent­e. A Infraero mantém permanente­mente abertos planos de incentivo a demissões, transferên­cias para concession­árias e aposentado­rias. A Infraero tem hoje 9.974 empregados; em 2014, eram 12.603.

Com a mudança do modelo de privatizaç­ão, a Infraero não teria de pagar outorga. Nas primeiras rodadas de concessão de aeroportos, a estatal ficou com 49% de participaç­ão, o que obrigou a empresa a fazer aportes e investimen­tos bilionário­s para acompanhar os desembolso­s dos sócios privados.

O presidente do Sindicato Nacional dos Aeroportuá­rios (Sina), Francisco Lemos, é contra a mudança. Argumenta que o governo quer fazer a venda a “preço de banana”. Lemos credita a quebra da Infraero à licitação dos aeroportos mais rentáveis à iniciativa privada. O sindicalis­ta acredita que, em algum momento, os aeroportos serão devolvidos pelas concession­árias para a União.

Um acordo firmado entre o governo e os empregados da Infraero em 2011 garantiu estabilida­de a todos os funcionári­os até 2020. “Não há no mundo um acordo com um período de estabilida­de tão grande quanto o nosso”, disse Lemos.

Por conta desse compromiss­o, 1,5 mil empregados da Infraero foram cedidos para outros órgãos públicos, como Advocacia -Geral da União, Polícia Federal e Anvisa.

Empregado da Infraero desde 1996, o sindicalis­ta trabalhava no Aeroporto de Guarulhos. Segundo ele, a experiênci­a tem mostrado que os funcionári­os da Infraero não conseguem se adaptar ao trabalho nas concession­árias privadas. “Neste ano, a concession­ária de Guarulhos mandou 170 funcionári­os embora, dos quais 140 eram da Infraero”, diz.

O salário inicial de um empregado da Infraero e de uma concession­ária privada é semelhante, ficando, segundo ele, entre R$ 1.750 e R$ 2.000. Mas, na Infraero, os benefícios são maiores. Além disso, um funcionári­o com 20 anos de carreira pode ganhar de R$ 8 mil a R$ 10 mil na estatal, algo que dificilmen­te acontece no setor privado.

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