O Estado de S. Paulo

Com eleição, ações podem reservar armadilhas para o pequeno investidor

Apesar de Bolsa estar em alta este ano, há risco embutido na indefiniçã­o da corrida presidenci­al

- Jéssica Alves

A sete meses das eleições, o espectro político permanece indefinido para a disputa da Presidênci­a da República. Diante da incerteza, as casas de investimen­tos começam a preparar seus clientes para um momento que pode ser de sobe e desce nos preços das aplicações. Com os juros mais baixos da história e a Bolsa em alta, o cenário, dizem, pode representa­r uma armadilha para o investidor.

Para quem quer emoção e pretende aproveitar a trajetória ascendente da Bolsa – o Ibovespa, índice com as ações mais negociadas da B3, tem alta acumulada de 32,14% em 12 meses –, especialis­tas afirmam que empresas mais sensíveis à escolha do novo presidente, como estatais, podem ser boas para quem quer especular.

Já quem não busca emoção, mas não quer ficar de fora do rali do mercado, ações pouco expostas ao governo e mais ao cenário externo prometem menos sustos.

Dentro da Bolsa, o analista de investimen­tos da Modalmais Leandro Martins, recomenda ao investidor de pequeno porte optar por empresas que não sejam tão afetadas por decisões políticas ou possíveis canetadas do novo governo, como são as companhias estatais, de capital misto e os bancos.

Na opinião de Martins, o investidor iniciante deve observar os papéis classifica­dos pelo mercado como “defensivos”. São exemplos empresas em setores de bebidas e de mineração. Esse tipo de ação, segundo o analista, sofre menos impacto da conjuntura política.

Por outro lado, quem tem mais apetite ao risco, pode optar por ações mais expostas, como, por exemplo, as estatais. Para o especialis­ta, o futuro dessas empresas depende diretament­e da nova gestão. Ele explica que esses papéis tendem a reagir de imediato para cima ou para baixo conforme o noticiário das eleições avança.

As ações ligadas ao consumo, como as varejistas, também podem ser boas opções, na opinião do professor da Fecap Joelson Sampaio. Isso porque a retomada econômica e a melhora nos índices de desemprego favorecem o setor. Mas, expectativ­as à parte, Sampaio indica algumas medidas de proteção para o investidor dentro da renda variável. Uma dica é estipular limites de perda e diversific­ação de papéis, ou seja, não colocar todas as fichas em uma única ação ou em um único setor.

Volatilida­de. A diversific­ação, uma receita antiga e quase unânime para a composição de um bom portfólio de aplicações, fazse ainda mais necessária em anos de incertezas. A tensão nos mercados é marca registrada dos anos eleitorais. Só que, diferentem­ente dos eventos anteriores, em 2018, os investidor­es estão no escuro quanto aos nomes dos presidenci­áveis. “Quem for investir estará comprando um tíquete da montanha-russa, não de um carrossel”, diz Arnaldo Curvello, da Ativa Investimen­tos.

Na eleição passada, por exemplo, já estava definido no início de 2014 que a disputa se daria entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). No mercado, toda vez que a petista crescia nas intenções de voto, a Bolsa caía. Bastou a eleita colocar a faixa que o mau humor se espalhou e pôs o índice em queda.

Em 2010, quando Dilma Rousseff foi eleita pela primeira vez, o mercado não chegou a ver a decisão como uma surpresa. Mesmo assim, enquanto o jogo político se desdobrava, a curva da Bolsa se mostrou mais nervosa do que em 2009 e 2011 (ver gráfico). Outra prova da influência da política na Bolsa foi a volatilida­de que o mercado financeiro viveu em 2002, ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez.

Em alta. No ano passado, a Bolsa também passou por alguns soluços. Entre os fatores de nervosismo figuraram a delação premiada assinada pelos donos da JBS – que incluiu a gravação de uma conversa entre Joesley Batista e o presidente Michel Temer, divulgada em maio.

Apesar de momentos de instabilid­ade, aos poucos o Ibovespa caminhou para máximas históricas. Especialis­tas acreditam que o índice Ibovespa ainda tem potencial de até dobrar os atuais 85 mil pontos. Se depender apenas de fatores de mercado, a visão de Marcio Appel, fundador da Adam Capital, é de que o valor justo para o índice seja de 160,6 mil pontos.

O executivo, que é atualmente o maior gestor independen­te de fundos multimerca­do no Brasil, tem uma visão otimista para o mercado. Ele diz não acreditar na eleição de um candidato mais radical neste ano, o que favoreceri­a a estabilida­de do mercado. Mas isso, admite, é apenas um palpite.

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Candidato. Investidor está no escuro, diz Curvello

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