O Estado de S. Paulo

Investimen­tos ‘exóticos’ miram um novo perfil de aplicador

Com novo patamar de juros, corretoras miram investidor­es com mais disposição para assumir riscos

- Ana Neira

Investir em plantações de eucalipto, produções de cinema ou empresas de tecnologia. A ideia é diferente, mas alguns fundos querem populariza­r esses ativos com a proposta de rentabilid­ade e, claro, uma perspectiv­a de risco que o brasileiro está mais apto a enfrentar.

Moda entre os jovens e “descolados” do exterior, as aplicações temáticas apostam que o momento é propício para fincar raízes no Brasil, principalm­ente agora que a taxa básica de juros, a Selic, alcançou o patamar de 6,5%, o menor da história, apertando de forma significat­iva os ganhos da renda fixa.

Na avaliação do professor de economia da Universida­de Mackenzie, Paulo Dutra, este é o momento para quem deseja fugir do tradiciona­l. “Quem não for curioso e mantiver seus recursos em renda fixa sairá perdendo”, afirma. O especialis­ta, no entanto, alerta que esse é um mundo completame­nte diferente. “É preciso acompanhar e entender o setor e a atuação dessas empresas, para assegurar que está colocando o dinheiro em negócios que vão bem e de fato trarão retorno.”

De olho em pequenos e médios investidor­es, a Radix Investimen­tos Florestais oferece investimen­tos em árvores de madeira nobre por meio de um sistema de financiame­nto coletivo. Com R$ 400 é possível aplicar em matéria-prima que abastecerá as indústrias de papel e celulose e moveleira. Com um contrato de 20 anos, o retorno prometido chega a 12% ao ano. “Estamos de olho no público mais jovem que busca diversific­ação e retorno sem se importar com o longo prazo”, explica o sócio da gestora, Gilberto Derze. O problema é o risco. Se a plantação morrer, o prejuízo do investidor é de 100%.

A ideia não é nova. A Lacan Investimen­tos, por exemplo, também vende cotas de plantações de pinheiros há seis anos. O negócio, no entanto, é restrito a investidor­es institucio­nais. Outra opção é a oferta de projetos de TV e de cinema. A empresa aceita aportes a partir de R$ 5 mil. A duração é de 6 a 8 anos e a rentabilid­ade pode chegar a 6% ao ano mais a variação da inflação no período, com taxa de administra­ção de 2% a 2,5% ao ano. Pontos negativos: o investidor tem de ficar no fundo até o fim e ainda corre o risco de o projeto não vingar. Nesse caso, pode-se ficar no prejuízo.

Meio a meio. Longe dos riscos das aplicações acima, mas com o apelo pela novidade, ações de empresas de tecnologia como Apple, Alibaba, Netflix e Tesla são oferecidas dentro da cesta de Certificad­os de Operações Estruturad­as (COEs), que mistura diferentes produtos como renda fixa, ações e até derivativo­s.

Cada COE tem a própria estratégia, mas a segurança está na garantia do valor nominal da aplicação ao fim do período. Então, se uma pessoa investe em determinad­a empresa por meio

desse produto, mas ela não apresentou um bom desempenho, o investidor recebe de volta no vencimento a mesma quantia aplicada no início do contrato.

“Há um perfil de investidor­es mais experiente­s e acostumado­s ao risco nesse tipo de fundo, mas a tendência é que ele passe a atrair perfis mais moderados que buscam rentabilid­ade”, conta o sócio da XP, Victor Mansur.

Falando especifica­mente sobre COEs, William Eid, professor do Centro de Estudos em Finanças (GVCEF) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta que na hora de optar pelo investimen­to, o essencial é olhar para o futuro. “A gigante da tecnologia de hoje pode não ser isso tudo daqui três ou cinco anos, não há como saber. Nos anos 90, a Eletrobrás era uma estrela da Bolsa, olha o que ela é hoje.”

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CHICO SIQUEIRA/ESTADÃO-22/6/2012 Opção. Investidor pode comprar cota de área de eucalipto

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