Torcida tenta salvar Canindé e a Portuguesa
Torcedores lançaram abaixo-assinado para que o complexo esportivo do clube seja reconhecido como patrimônio histórico
Torcedores da Portuguesa iniciaram nesta semana um abaixo-assinado para pedir o tombamento do complexo esportivo Doutor Osvaldo Teixeira Duarte, um espaço com 102 mil m² ao lado da Marginal do Tietê. O objetivo dos torcedores é impedir a venda do patrimônio do clube de 98 anos para investidores.
O documento já foi assinado por cinco mil pessoas e destaca que a Lusa está “sob ameaça de desaparecimento”. De acordo com Beto Freire, um dos líderes do movimento pelo tombamento, o objetivo é alcançar 50 mil assinaturas e convencer os órgãos públicos competentes a tombar o espaço e manter vivas as tradições da grande colônia lusitana na cidade de São Paulo.
“A Portuguesa é um bem do País, representa nossos descobridores e tem importância nacional’’, diz. Segundo Freire, o esporte é apenas a “ponta do iceberg” do clube, que tem almoços, jantares, danças e celebrações da colônia portuguesa com frequência há décadas. Há, ainda, uma estação de metrô com o nome da agremiação e uma das maiores rodoviárias do mundo nas proximidades. “Se o poder público não fizer nada, vão demolir a história, porque a Portuguesa já faz parte da paisagem urbana da cidade”, prega.
Para um imóvel ser reconhecido como patrimônio cultural é preciso identificar sua relevância, seja histórica, arquitetônica, ambiental, social ou afetiva, informa o Departamento de Patrimônio Histórico de São Paulo.
O arquiteto e urbanista José Geraldo Simões Junior, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que para um tombamento ocorrer é preciso justificar a relevância de um local e compará-lo com outros lugares semelhantes, para entender se há um valor “excepcional” no bem a ser tombado. “É preciso entender os atributos que justificam um tombamento, o que pode abranger só uma parte da construção ou todo o terreno”, exemplifica.
O especialista, que já foi presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), explica existir também o tombamento imaterial, caracterizado quando há aspectos relevantes para a cultura e a memória de uma comunidade.
Uma vez recebida a proposta, o órgão municipal, estadual ou federal deve avaliar e concluir se as justificativas são suficientes para um tombamento.
No caso do Canindé, o local pode ser analisado a partir de parâmetros como a importância do clube para a formação da região em que está inserido, seu projeto arquitetônico, sua história em relação à história da cidade e aos fatos esportivos de São Paulo, entre outros.
Em 2016, a torcida tentou ação semelhante, que não foi adiante porque o clube não enviou os documentos necessários para o processo ocorrer. Procurada, a diretoria da Portuguesa informou que não vai se manifestar sobre o abaixo-assinado atual neste momento.
Em campo, o time vive momento difícil, mas conseguiu se manter na Série A2 do Campeonato Paulista ao terminar na 12.ª colocação. /