Trump planeja retirar tropas dos EUA da Síria
Presidente americano critica os gastos da guerra, mas assessores ainda o tentam convencer a conter influência de Rússia e Irã na região
O presidente dos EUA, Donald Trump, tem discutido com assessores a retirada antecipada das tropas americanas da Síria. De acordo com duas fontes da Casa Branca, citadas ontem pela agência Reuters, a decisão de deixar a guerra civil pode colocar o presidente em desacordo com muitas autoridades do alto escalão do governo.
Trump passa o feriado da Páscoa em seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida. Na quinta-feira, em um discurso em Ohio, ele revelou seu desejo de retirar as tropas dos EUA da Síria e de deixar a segurança para os países da região. Trump se queixa dos gastos das guerras no Oriente Médio que, segundo ele, chegam a US$ 7 bilhões.
O presidente disse que as forças americanas, juntamente com a coalizão internacional, estão perto de tomar o controle de todo território sírio, que era controlado pelo Estado Islâmico (EI). “Deixe que outras pessoas cuidem disso agora. Muito, muito em breve, estaremos saindo.”
Trump não comentou quem seriam os “outros” encarregados da segurança na Síria, mas tanto Rússia quanto Irã têm tropas suficientes no país para apoiar o governo de Bashar Assad. Fontes do governo, falando à Reuters sob condição de anonimato, disseram que os comentários
de Trump refletem discussões internas com assessores, nas quais ele questiona por que as forças dos EUA deveriam permanecer na região.
No entanto, segundo uma fonte da Casa Branca, a estratégia de retirada da Síria não está pronta. Assessores de Segurança Nacional do presidente, segundo outra fonte, explicaram que as forças americanas deveriam ficar na Síria por pelo menos alguns anos para garantir que os ganhos contra os militantes sejam preservados e ter certeza de que o país não se torne uma base iraniana.
Cerca de 2 mil soldados dos EUA estão hoje na Síria e trabalham com milícias locais no combate ao EI, enquanto tentam se manter fora de uma guerra civil cada vez mais confusa.
Sondagens. A vontade de Trump, tornada pública no discurso de Ohio, não é resultado de um impulso. Há semanas, ele vem sondando maneiras de concretizar a retirada militar da Síria. Há dois meses, assessores acharam que haviam conseguido convencê-lo da importância de manter os EUA na região para evitar um “vácuo de poder”.
A preocupação dos assessores é que esse vazio dê espaço a outro grupo extremista – partindo do princípio que o EI estaria derrotado – ou ao Irã. Em janeiro, o então secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, fez um discurso ressaltando a “importância vital para os EUA em permanecer na Síria”. No entanto, no meio de fevereiro, Trump já conversava com assessores próximos sobre a retirada americana.
Agora, tanto o Departamento de Estado quanto o Pentágono estão preocupados com a decisão de Trump. Os dois departamentos trabalhavam em um plano para substituir, de forma gradual, as operações militares por uma missão diplomática para iniciar a reconstrução da infraestrutura básica da Síria, como estradas e redes de esgoto destruídas na guerra.
As agências de segurança dos EUA foram pegas de surpresa pelo discurso de Trump em Ohio e agora tentam entender se a retórica do presidente foi ou não um anúncio formal de mudança na sua política externa. Para obter um esclarecimento, pediram uma resposta do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, mas receberam uma declaração dúbia. “As palavras de Trump falam por si só.”
Funcionários do Departamento de Defesa afirmam que, sem uma diretriz clara, nenhuma ação de retirada das tropas americanas da Síria pode ser realizada. Ainda não está claro como a vontade de Trump pode afetar a sua equipe de Segurança Nacional.
Recentemente, Tillerson e o assessor de Segurança Nacional do presidente, H. R. McMaster – ambos defensores da permanência na Síria –, foram demitidos e substituídos por pessoas com visões mais próximas das de Trump. Preocupação. Fora dos EUA, países que integram a coalizão que combate o EI temem que esse anúncio de Trump estimule uma reorganização do grupo terrorista. De acordo com diplomatas europeus, a Rússia também pode se beneficiar do vácuo deixado pelos EUA.
Israel, o aliado mais próximo dos EUA no Oriente Médio, e nações como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos se dizem extremamente preocupados com o aumento da influência iraniana na Síria, incluindo a ação do grupo xiita Hezbollah, já que a presença americana é vista como uma maneira de conter a ação de Teerã.