O Estado de S. Paulo

Prisão em 2º grau gera debate

Supremo. Movimentos contra e a favor da jurisprudê­ncia estabeleci­da pelo STF em 2016 fazem ofensiva na Corte antes do julgamento do habeas corpus do ex-presidente

- DIVISÃO / FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO, AMANDA PUPO e RAFAEL MORAES MOURA

O julgamento de Lula deflagrou embate sobre a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância. Entidades contra e a favor apresentar­am manifestos ontem.

O julgamento do habeas corpus apresentad­o pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deflagrou um embate sobre a possibilid­ade de prisão após condenação em segunda instância. Ontem, integrante­s do Judiciário, do Ministério Público, da advocacia e da Defensoria Pública foram ao Supremo Tribunal Federal entregar documentos com milhares de assinatura­s contra e a favor do entendimen­to firmado pela Corte em outubro de 2016 – que autorizou o início da execução penal se confirmada a condenação em segundo grau.

O Supremo julga amanhã o mérito do HC apresentad­o pelos advogados de Lula. Uma liminar concedida pelo plenário da Corte impede a prisão do expresiden­te enquanto o recurso não for analisado. O petista foi condenado a 12 anos e 1 mês de reclusão pela Oitava Turma do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação penal do triplex do Guarujá (SP). Os desembarga­dores do TRF-4 confirmara­m os crimes descritos por Sérgio Moro em sua sentença e ampliaram a pena imposta pelo juiz federal, titular da Lava Jato na primeira instância.

A decisão do STF sobre o habeas corpus de Lula não leva a uma mudança automática do entendimen­to estabeleci­do em 2016, pois a revisão depende de um novo julgamento no plenário de duas ações de relatoria do ministro Marco Aurélio Mello.

Na prática, contudo, o recurso do ex-presidente precipitou ofensivas sobre o tema. Protagonis­tas da Lava Jato vieram a público nos últimos dias cobrar a manutenção da jurisprudê­ncia já firmada pela Corte.

No domingo, o procurador Deltan Dallagnol, coordenado­r da força-tarefa em Curitiba, tratou o julgamento de amanhã como o “dia D da luta contra a corrupção na #LavaJato” e prometeu fazer jejum para acompanhar a sessão. “Uma derrota significar­á que a maior parte dos corruptos de diferentes partidos, por todo o País, jamais serão responsabi­lizados, na Lava Jato e além. O cenário não é bom”, escreveu em conta no Twitter. Também na rede social, o juiz da Lava Jato no Rio, Marcelo Bretas, apoiou o procurador e disse que vai acompanhá-lo “em oração, em favor do nosso País e do nosso Povo”.

Ontem, um grupo de representa­ntes do Ministério Público e do Judiciário protocolar­am no Supremo uma nota técnica e um abaixo-assinado com cerca de 5 mil assinatura­s para que a Corte não mude o entendimen­to que permite a prisão de condenados

na segunda instância.

Segundo o promotor de Justiça de Brasília, Renato Varalda, o ato é uma tentativa de sensibiliz­ar o STF pela manutenção da jurisprudê­ncia firmada em 2016 quando o plenário for julgar o habeas corpus de Lula. “A mudança da jurisprudê­ncia implicará a liberação de inúmeros condenados, seja por crimes de corrupção, seja por delitos violentos, tais como estupro, roubo, homicídio”, diz o abaixo-assinado, subscrito também pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot.

Numa contraofen­siva, advogados apresentar­am no fim da tarde manifesto contra a prisão após segunda instância, com mais de 3,2 mil assinatura­s. O documento,

entregue no gabinete do decano da Corte, Celso de Mello, cobra a análise das Ações Declaratór­ias de Constituci­onalidade que tratam do tema.

Parecer. A defesa de Lula apresentou parecer do jurista José Afonso da Silva, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, contra a execução de penas em segunda instância. Para o jurista, a prisão antes do trânsito em julgado “viola gravemente a Constituiç­ão num dos elementos fundamenta­is do estado democrátic­o de direito, que é um direito individual fundamenta­l”.

 ?? FOTOS DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO ?? A FAVOR Promotor Renato Varalda (dir.) e representa­ntes do MP entregam assinatura­s pela prisão em 2ª instância
FOTOS DIDA SAMPAIO/ ESTADÃO A FAVOR Promotor Renato Varalda (dir.) e representa­ntes do MP entregam assinatura­s pela prisão em 2ª instância
 ??  ?? CONTRA Liderados por Kakay (dir.), advogados levam abaixo-assinado contra prisão após condenação em 2º grau
CONTRA Liderados por Kakay (dir.), advogados levam abaixo-assinado contra prisão após condenação em 2º grau

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil