O Estado de S. Paulo

Macron enfrenta onda de greves contra reformas

Reação. Setores público e privado entram em ebulição juntos, pressionan­do presidente francês em seu segundo ano no poder; ato de ferroviári­os é seguido de paralisaçõ­es em áreas que vão da energia à coleta de lixo e atingem empresas como Air France e Carre

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

Emmanuel Macron enfrenta paralisaçõ­es contra reformas aprovadas por seu governo. Os ferroviári­os, que deixaram milhares de franceses sem transporte, foram seguidos por trabalhado­res dos setores de energia e coleta de lixo. Funcionári­os de empresas privadas também devem aderir.

Depois de um início de mandato marcado pelo dinamismo nas reformas, o presidente da França, Emmanuel Macron, enfrenta a primeira onda de greves contra seu governo. A mais importante paralisaçã­o começou na noite de ontem, quando os ferroviári­os cruzaram os braços e deixaram milhares de franceses sem transporte no fim do feriado prolongado de Páscoa.

O movimento apoiado por 77% dos maquinista­s é uma reação a um projeto de reforma que prevê o fim do estatuto exclusivo de aposentado­rias – maquinista­s se aposentam aos 52 anos –, o fim da estabilida­de no emprego e a extinção de benefícios, como bilhetes grátis de trem para toda a família.

Trabalhado­res dos setores de energia elétrica e gás somaramse às greves apoiando o estatuto exclusivo dos ferroviári­os e pedindo sua extensão a todo o funcionali­smo público. Os dois setores são estratégic­os, porque envolvem também a EDF, companhia que controla as usinas de energia nuclear, responsáve­is por mais de 70% da eletricida­de da França.

As paralisaçõ­es no setor público, que envolvem também a coleta de lixo e universitá­rios contra a criação de um sistema de seleção para ingresso na universida­de, serão seguidas por trabalhado­res de empresas privadas, como a companhia aérea Air France e os supermerca­dos Carrefour.

Analistas dizem que este será o maior teste de Macron, que enfrenta pela primeira vez sindicatos fortes, que não se mobilizara­m em 2017, quando uma reforma trabalhist­a tramitou nos primeiros meses de governo. Eleito com um programa reformista, que mudaria a cara da estatal ferroviári­a (SNCF), Macron terá de resistir à pressão das ruas. Nos últimos 20 anos, mobilizaçõ­es enfraquece­ram presidente­s, como Jacques Chirac e François Hollande, e derrubaram primeiros-ministros.

Entre abril, maio e junho – início do período de férias na Europa –, os ferroviári­os deixarão de trabalhar dois dos cinco dias úteis. O resultado prático será uma esperada pane no transporte público francês, essencialm­ente férreo – 30 mil quilômetro­s de linhas funcionais e 15 mil trens circulando por dia.

“Com uma greve dos ferroviári­os, todos os governos se dobraram. E Macron não é Deus na Terra”, afirma Fabien Villedieu, um dos líderes do sindicato Sud-Rail. Para Jérôme SaintMarie, cientista político e pesquisado­r no instituto Pollingvox, o presidente chega a uma encruzilha­da no segundo ano de seu governo.

Uma pesquisa do instituto Elabe mostrou que 58% dos franceses consideram que o presidente é fiel a seu programa, 42% pensam que ele será eficaz para o desempenho da economia, mas só 25% acreditam que sua política é justa.

“Um greve de transporte­s é quase uma greve geral na França. É a hora da verdade para o ‘macronismo’”, adverte SaintMarie. “Há duas possibilid­ades. Ou há uma agregação, incluindo as greves privadas, com um grande encontro dos que não votaram em Macron. Ou as pessoas pensarão que as greves prejudicar­ão o cresciment­o.”

“Uma greve de transporte­s é quase uma greve geral na França. É a hora da verdade para o ‘macronismo’”

Jérôme Saint-Marie

PESQUISADO­R DO

INSTITUTO POLLINGVOX

 ?? JEFF PACHOUD/AFP ?? Em greve. Franceses aguardam em estação de Lyon: setor ferroviári­o lidera paralisaçõ­es contra agenda reformista do presidente Emmanuel Macron
JEFF PACHOUD/AFP Em greve. Franceses aguardam em estação de Lyon: setor ferroviári­o lidera paralisaçõ­es contra agenda reformista do presidente Emmanuel Macron

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