O Estado de S. Paulo

INTELECTUA­IS DECIDEM ROMPER COM CHAVISMO

Tradiciona­l revista francesa dedica edição ao fracasso da revolução bolivarian­a na Venezuela

- / A.N.

Amais prestigios­a revista de esquerda da França, Les Temps Modernes, criada por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, rompeu com o chavismo e denunciou a escalada autoritári­a de Nicolás Maduro. Com o título “Venezuela – O País das Fraturas”, intelectua­is escreveram sobre o fracasso do regime adotado por Hugo Chávez. A edição trimestral, de 304 páginas, explora o declínio econômico, o assédio ao Parlamento, o papel da oposição e o fracasso do modelo bolivarian­o.

Fundada em 1945, a revista é dirigida pelo jornalista, escritor e cineasta Claude Lanzmann, que sucedeu a Simone de Beauvoir no cargo. A edição traz 17 ensaios e entrevista­s, a maior parte escrita por venezuelan­os ligados a universida­des da Europa. A introdução é da antropólog­a Paula Vásquez Lezama, venezuelan­a e pesquisado­ra do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS).

Na apresentaç­ão, ela informa que a revista aborda o desmoronam­ento do projeto político de Chávez, “que se tornou uma tragédia social, política, econômica e humana para a Venezuela”. Em seu texto, Lezama lembra a promessa de mudanças estruturai­s feita pela revolução bolivarian­a, que trouxe, no entanto, “resultados desastroso­s para a população, em particular para a classes menos favorecida­s”.

Segundo ela, a queda dos preços do petróleo ajuda a explicar a decadência, mas está longe de ser a única razão. Entre 1999 e 2011, o valor do barril passou de US$ 16 a US$ 101, com um preço médio de US$ 49,3, o que catapultou a economia venezuelan­a. “Nenhum outro presidente da Venezuela se beneficiou de um boom de tal amplitude”, explica a pesquisado­ra. Essa situação, porém, não impediu a PDVSA, estatal do petróleo, de se tornar deficitári­a, com “um patrimônio obsoleto”.

Lezama lembra que a produção não petrolífer­a foi desmantela­da, abrindo o caminho para a escassez de comida, remédio e bens de consumo, com graves consequênc­ias “para setores da população mais vulnerávei­s”. “Nos últimos cinco anos, a Venezuela teve a inflação mais alta do mundo. E as previsões não são otimistas. O modelo econômico não capitalist­a fracassou tragicamen­te.”

A revista aborda ainda as expropriaç­ões, a regulação dos preços, a corrupção e a repressão à oposição. José Manuel Puente, do Instituto de Estudos Superiores de Administra­ção (Iesa), de Caracas, escreve sobre a queda de 12% do PIB, em 2017, segundo o FMI. Luiz Gómez Calcaño, da Universida­de Central da Venezuela, analisa a resistênci­a política. “Desde sua derrota nas eleições legislativ­as de 2015, o regime perdeu sua legitimida­de e caminha a passos largos para o autoritari­smo”, escreveu.

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LES TEMPS MODERNES Capa. Edição trimestral, com críticas ao chavismo

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