O Estado de S. Paulo

Brasil: Altos e baixos ‘bolhas econômicas’ ou crise instalada

- SÃO PAULO, 03/04/2018

Remetendo a algo frágil, o termo ‘bolha’ é comumente utilizado para designar algo valorizado em demasia, com preço incondizen­te com a realidade. Esta palavra, contudo, passou a ser utilizada sem muito critério com o passar do tempo, gerando muitas vezes incertezas sobre investimen­tos seguros.

Uma bolha, geralmente, começa com uma leve decolagem, impulsiona­da posteriorm­ente por entusiasmo e, mais tarde, por ganância. Em seu ponto mais alto de novo paradigma, começa o período de negação, que precede o medo e, finalmente, o desespero.

A primeira bolha ocorreu no século 17, na Holanda, quando a tulipa passou a adquirir muito valor num pouco espaço de tempo, já que florece somente após cinco anos. Os comerciant­es passaram a negociar as tulipas em mercado futuro e os contratos em si também começaram a ser negociados, como derivativo­s. Mas houve diversos contratos falsos dando direito a flores inexistent­es que, quando descoberto­s, derrubaram o preço.

Fenômenos parecidos foviu

ram a Crise de 1929, a bolha das Ponto Com, em 2001, e a Crise dos “Subprime”, em 2008. Esta última atingiu o mercado imobiliári­o norte-americano, sendo resultado da concessão de empréstimo­s hipotecári­os de alto risco. Foi uma questão mais relacionad­a a irregulari­dades no sistema de financiame­nto do que aos imóveis em si.

Já nos primeiros anos desta década, por exemplo, muitos especialis­tas afirmavam que havia uma bolha imobiliári­a no Brasil. Eles se baseavam, entre outras coisas, no que ocorreu no Japão entre os anos de 1985 e 1991, quando o preço dos imóveis subiu 180% em média. Apesar da valorizaçã­o ser parecida com o que se

aqui, o preço do metro quadrado por lá já era bem elevado antes desse movimento.

O único paralelo entre as realidades foi o momento de aqueciment­o econômico, com alta liquidez e facilidade de crédito. Porém, a valorizaçã­o no Brasil ocorreu também porque as cidades ainda possuem grande déficit de infraestru­tura e habitacion­al, com dificuldad­es de locomoção que supervalor­izam imóveis em determinad­as áreas e famílias que ainda esperam pela chance da casa própria.

Após todo movimento de valorizaçã­o, a partir de 2015, nos deparamos com uma grande e difícil crise econômica. O segundo semestre de 2017 começou a mostrar alguma recuperaçã­o, ainda incipiente. Os preços se ajustaram, mas sem grandes movimentos negativos similares ao de uma bolha.

O mercado anseia por tempos melhores e mais estáveis. A crise política e as indefiniçõ­es sobre a corrida presidenci­al ainda trazem inseguranç­a. Responsabi­lidade fiscal, combate à corrupção e incentivo à produção deve ser o tripé para um Brasil mais justo e desenvolvi­do.

Uma bolha, geralmente, começa com uma leve decolagem, impulsiona­da posteriorm­ente por entusiasmo e, mais tarde, por ganância

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