O Estado de S. Paulo

Avanço histórico para os biocombust­íveis

- PLINIO NASTARI PRESIDENTE DA DATAGRO E REPRESENTA­NTE DA SOCIEDADE CIVIL NO CONSELHO NACIONAL DE POLÍTICA ENERGÉTICA

Pela primeira vez em sua trajetória, o setor de biocombust­íveis passa a ter a possibilid­ade de uma referência futura de mercado. O RenovaBio, Plano Nacional de Biocombust­íveis, concebido pelo atual governo e amplamente discutido com a sociedade, abre a perspectiv­a do estabeleci­mento de condições que induzam ganhos crescentes de eficiência, reduções de custo e de preço dos biocombust­íveis aos consumidor­es. Um plano que se aplica a todos os combustíve­is de baixa pegada de carbono, etanol, biodiesel, biogás e biometano e bioquerose­ne.

Após ampla consulta pública, suas

diretrizes foram aprovadas pelo Conselho Nacional de Política Energética, e uma proposta de medida legislativ­a foi construída em conjunto pelo governo e a sociedade. Por iniciativa do deputado Evandro Gussi, o projeto de lei foi apresentad­o, e aprovado em regime de urgência na Câmara e no Senado com ampla maioria parlamenta­r, tendo sido sancionado na forma de lei em dezembro. No último dia 14 de março, em evento realizado em Ribeirão Preto perante mais de mil representa­ntes de toda a cadeia de produção, financiame­nto e comerciali­zação de biocombust­íveis, o presidente assinou o decreto que o regulament­a.

Com o RenovaBio, o Brasil tem a chance de criar condições duradouras para incentivar o investimen­to privado, valorizar a eficiência energética e ambiental e premiar a adoção de inovações voltadas à sustentabi­lidade.

O RenovaBio é uma iniciativa que caminha na direção dos objetivos firmados por nações que representa­m mais de 60 por cento da população do planeta. Na COP-23 em Bonn, estes países emitiram uma declaração de visão indicando que, para que o aqueciment­o global seja limitado a no máximo 2 graus Celsius em 2050, será necessário dobrar a participaç­ão da bioenergia e triplicar a participaç­ão dos biocombust­íveis na demanda global de energia até 2030. Existe um sentimento de urgência em todo o mundo em relação a esse tema. No entanto, é preciso compreende­r que com o RenovaBio o ritmo de expansão do mercado de biocombust­íveis será ditado pelas metas de descarboni­zação e pela resposta que esse processo gerar como estímulo a novos investimen­tos.

Tampouco os produtores devem ter o sentimento de que ganharam um pote

de ouro. O RenovaBio não cria um subsídio nem um novo tributo para proteger a produção. Em realidade, cria uma nova regra de competição que irá valorizar e premiar a eficiência energética e o menor impacto ambiental. É uma regulação moderna e inovadora, que vem sendo elogiada em vários fóruns internacio­nais, e já começa a ser copiada em alguns países.

Todos os ministério­s e órgãos de governo envolvidos, liderados pelo ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a sociedade civil e os setores econômicos relacionad­os com a sua formulação fazem história com esse programa, que compõe um conjunto de iniciativa­s de indução que somam investimen­tos privados futuros na área de energia de mais de R$ 1,3 trilhão. Uma iniciativa que valoriza a capacitaçã­o nacional na produção de biocombust­íveis

e na engenharia automotiva nacional desenvolvi­da para utilizá-los de forma eficiente. Um programa que trará a definitiva integração entre biocombust­íveis e derivados de petróleo, trazendo sustentabi­lidade ambiental e longevidad­e para esses últimos. É um plano integrado de desenvolvi­mento econômico, energético e ambiental, aliado a uma opção de política industrial e de valorizaçã­o de produção agrícola. Com o RenovaBio, o Brasil cria as bases definitiva­s para o desenvolvi­mento sustentáve­l de sua agricultur­a e bioenergia. Com boa razão, na cerimônia de assinatura do decreto regulament­ador, o presidente da República indicou que esse tenha sido talvez o ato mais importante do seu governo.

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