O Estado de S. Paulo

China para de comprar etanol dos americanos

Chineses elevam alíquotas de importação para etanol, além de outros 127 produtos

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE/GENEBRA

A China suspendeu a importação de etanol dos EUA e busca novos fornecedor­es, depois que passou a impor tarifas extras de importação contra os produtos que vinham das usinas americanas. Num contra-ataque à política de Donald Trump, Pequim aplicou novas alíquotas a 128 produtos americanos, entre eles o etanol.

Agora, a avaliação é de que a China terá de buscar novos fornecedor­es para abastecer seu consumo doméstico. As tarifas para os americanos aumentaram de 30% para 45%, levando empresas chinesas a abandonar por enquanto a compra dos EUA.

Num primeiro momento, o plano é usar os estoques de milho do país para produzir domesticam­ente o etanol. Mas, para chegar às metas do governo de ter 10% do mix energético composto pelo biocombust­ível até 2020, a avaliação é de que a China terá de voltar a importar.

Mesmo sendo hoje o terceiro maior produtor de etanol do mundo, atingir as metas estipulada­s pelas autoridade­s promete ser um desafio. Para chegar à taxa proposta pelo governo, a China terá de consumir 15 milhões de toneladas de etanol a cada ano, sete vezes o que hoje o país produz.

Diplomatas chineses na OMC indicaram ao Estado que uma das alternativ­as que está sendo considerad­a é a de garantir esse abastecime­nto com o produto brasileiro. Isso, no entanto, não seria imediato. O etanol brasileiro é considerad­o caro e a produção não é suficiente.

Aumento. Nos últimos anos, a China aumentou de forma substancia­l suas compras de etanol. Em 2015, ela havia importado 686 mil metros cúbicos, um aumento de 2.700% em relação a 2014. Em 2016, as compras aumentaram em mais 51%.

Mas em 2017, com uma primeira elevação de tarifas de 5% para 30%, as importaçõe­s desabaram. Elas começaram a ser retomadas apenas em janeiro de 2018, com um total de 280 mil metros cúbicos de compras dos EUA nos dois primeiros meses do ano. A retomada das compras havia ajudado a exportação mundial de etanol americano a bater um novo recorde.

Mas a guerra comercial entre Trump e Pequim uma vez mais obrigou o setor a repensar sua estratégia. Antes mesmo da entrada em vigor das novas tarifas chinesas, os exportador­es americanos já temiam o impacto negativo da política comercial da Casa Branca.

“A resposta da China era esperada, dada as recentes ações de nosso governo (Trump) em implementa­r novas tarifas”, disse Bob Dinneen, presidente da Associação de Fabricante­s de Combustíve­is Renováveis dos EUA. “Espero agora que a Casa Branca entenda o impacto que suas ações têm sobre a indústria do etanol americano e de seus fazendeiro­s.”

Bob Dinneem

“A resposta da China era esperada dada as recentes ações do governo Trump em impor novas tarifas.”

ASSOCIAÇÃO DE FABRICANTE­S DE

COMBUSTÍVE­IS RENOVÁVEIS DOS EUA

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REUTERS Contra-ataque. Retaliação chinesa a produtos dos EUA é o novo capítulo da disputa

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