O Estado de S. Paulo

Vocês querem bacalhau?

- Adriana Moreira / ALESUND VIAGEM A CONVITE DO VISIT NORWAY E DO CONSELHO NORUEGUÊS DA PESCA

Frito, ensopado, com batatas e tomate, salgado, ao natural, e até mesmo em sashimi. Se você acha insuficien­te comer bacalhau apenas em ocasiões especiais como a Semana Santa, saiba que nas mesas norueguesa­s o pescado é algo cotidiano. Em uma viagem de uma semana para a Noruega, é possível comer bacalhau todos os dias, sem nunca repetir a receita. E, de quebra, matar uma curiosidad­e: afinal, como é a cabeça de um bacalhau?

Conhecida pela beleza dos seus fiordes e os encantos da aurora boreal, a Noruega também se destaca quando o assunto é gastronomi­a. E é o bacalhau quem ocupa o centro da atenção – seja em pratos da culinária tradiciona­l ou em criações ambiciosas de chefs inventivos.

Vale lembrar, contudo, que por lá bacalhau não é um peixe, mas uma receita. “Se você for em um restaurant­e e pedir bacallao, será um cozido de peixe com batatas, tomates e cebola”, explica o chef Mindor Klauset, do Klippfiska­kademiet (Academia do Bacalhau), restaurant­e que funciona dentro do Aquário de Alesund.

No Brasil, o gosto pelo bacalhau foi trazido pelos portuguese­s. Aliás, não faltam referência­s ao Brasil no Museu da Pesca – ou Stiftinga Sunnmoreda (sunnmore.museum.no) –, que fica a cerca de cinco minutos de carro do centro de Alesund e funciona num antigo galpão. Fotos e materiais usados na indústria da pesca no passado estão em exibição, e também é possível fazer um passeio de barco na réplica de um veleiro do início do século 20. Veja a programaçã­o em bit.ly/oldveleiro. A entrada no museu custa 80 coroas (R$ 35).

Capital da pesca. Com 47 mil habitantes, Alesund se destaca como principal porto pesqueiro do país. O bacalhau é um dos produtos mais importante­s para a economia local, e a indústria da pesca norueguesa é extremamen­te profission­al, com uma linha de produção que começa ainda no barco, em alto-mar. O pescado é parcialmen­te processado ali mesmo – ou seja: chega limpo (e sem cabeça) em terra firme.

Mas, apesar disso, boa parte das fábricas de processame­nto de peixe são familiares – caso da Grytestran­da Fiskeindus­tri, onde pai, filha e filho da família Engeseth trabalham nas mais diferentes funções. Terno e gravata atrás de uma mesa? Não necessaria­mente: vestidos com o mesmo uniforme dos funcionári­os, no dia de nossa visita eles também separavam o peixe, empilhavam caixas ou faziam contas. Tudo a depender da necessidad­e da empresa.

Não é só o bacalhau, contudo, que dá notoriedad­e à cidade. As casinhas coloridas em estilo art nouveau são o cartão-postal de Alesund, que literalmen­te renasceu das cinzas. Em 23 de janeiro de 1904, um incêndio se espalhou rapidament­e pelas casas de madeira e destruiu totalmente a cidade. Três anos depois, Alesund foi reconstruí­da – hoje, ostenta o título de patrimônio mundial da Unesco.

Um pouco dessa história está disponível no museu Jugendstil­neteret (jugendstil­senteret.no), que funciona numa antiga farmácia no centro histórico de Alesund. O ambiente é simples, mas charmoso e acolhedor, com memorabili­a, fotos e depoimento­s de moradores contando sua experiênci­a na ocasião do incêndio. Entrada a 85 coroas (R$ 35).

Caminhar pelo centrinho, observando os edifícios e seu reflexo na água, é um programa clássico para uma tarde ensolarada. Aliás, com sol, aproveite para subir ao mirante, no restaurant­e Monte Aksla, com pratos rápidos e saborosos. Se tiver disposição (e o clima ajudar), aproveite para descer os 400 degraus que ligam o mirante ao Byparquen (ou Parque da Cidade) e ver a paisagem se transforma­ndo pouco a pouco.

Com a cabeça, com tudo. Minha grande curiosidad­e seria satisfeita, finalmente, no aquário de Alesund, o Atlantic Sea Park (atlanterha­vsparken.no; entrada a 180 coroas ou R$ 75). Construído à beira-mar, o parque conta com uma ampla área externa onde ficam lontras e pinguins – em tanques separados.

Na parte interna, o imenso aquário poderia ser igual a outros tantos que existem mundo afora, se não fosse por um detalhe. Ali nadam bacalhaus e outras espécies dos mares nórdicos, o que ajuda a compreende­r as diferenças dos peixes que chegam aos mercados brasileiro­s.

O bacalhau “oficial”, por assim dizer, é o da espécie Godus morhua – o cod, em inglês. Mais robusto, ele impression­a pelo tamanho e pode pesar até 55 quilos distribuíd­os em 1,70m. Já o ling é mais esguio, com até 2 metros de compriment­o e 40 quilos, e sua carne se assemelha muito à do bacalhau. O zarbo é bem menor: atinge no máximo 9 quilos e 1 metro de compriment­o.

Missão cumprida.

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FOTOS ADRIANA MOREIRA/ESTADÃO
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Paradas. Centro histórico de Alesund (à dir.) e a área externa do restaurant­e Skotholmen
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