Vocês querem bacalhau?
Frito, ensopado, com batatas e tomate, salgado, ao natural, e até mesmo em sashimi. Se você acha insuficiente comer bacalhau apenas em ocasiões especiais como a Semana Santa, saiba que nas mesas norueguesas o pescado é algo cotidiano. Em uma viagem de uma semana para a Noruega, é possível comer bacalhau todos os dias, sem nunca repetir a receita. E, de quebra, matar uma curiosidade: afinal, como é a cabeça de um bacalhau?
Conhecida pela beleza dos seus fiordes e os encantos da aurora boreal, a Noruega também se destaca quando o assunto é gastronomia. E é o bacalhau quem ocupa o centro da atenção – seja em pratos da culinária tradicional ou em criações ambiciosas de chefs inventivos.
Vale lembrar, contudo, que por lá bacalhau não é um peixe, mas uma receita. “Se você for em um restaurante e pedir bacallao, será um cozido de peixe com batatas, tomates e cebola”, explica o chef Mindor Klauset, do Klippfiskakademiet (Academia do Bacalhau), restaurante que funciona dentro do Aquário de Alesund.
No Brasil, o gosto pelo bacalhau foi trazido pelos portugueses. Aliás, não faltam referências ao Brasil no Museu da Pesca – ou Stiftinga Sunnmoreda (sunnmore.museum.no) –, que fica a cerca de cinco minutos de carro do centro de Alesund e funciona num antigo galpão. Fotos e materiais usados na indústria da pesca no passado estão em exibição, e também é possível fazer um passeio de barco na réplica de um veleiro do início do século 20. Veja a programação em bit.ly/oldveleiro. A entrada no museu custa 80 coroas (R$ 35).
Capital da pesca. Com 47 mil habitantes, Alesund se destaca como principal porto pesqueiro do país. O bacalhau é um dos produtos mais importantes para a economia local, e a indústria da pesca norueguesa é extremamente profissional, com uma linha de produção que começa ainda no barco, em alto-mar. O pescado é parcialmente processado ali mesmo – ou seja: chega limpo (e sem cabeça) em terra firme.
Mas, apesar disso, boa parte das fábricas de processamento de peixe são familiares – caso da Grytestranda Fiskeindustri, onde pai, filha e filho da família Engeseth trabalham nas mais diferentes funções. Terno e gravata atrás de uma mesa? Não necessariamente: vestidos com o mesmo uniforme dos funcionários, no dia de nossa visita eles também separavam o peixe, empilhavam caixas ou faziam contas. Tudo a depender da necessidade da empresa.
Não é só o bacalhau, contudo, que dá notoriedade à cidade. As casinhas coloridas em estilo art nouveau são o cartão-postal de Alesund, que literalmente renasceu das cinzas. Em 23 de janeiro de 1904, um incêndio se espalhou rapidamente pelas casas de madeira e destruiu totalmente a cidade. Três anos depois, Alesund foi reconstruída – hoje, ostenta o título de patrimônio mundial da Unesco.
Um pouco dessa história está disponível no museu Jugendstilneteret (jugendstilsenteret.no), que funciona numa antiga farmácia no centro histórico de Alesund. O ambiente é simples, mas charmoso e acolhedor, com memorabilia, fotos e depoimentos de moradores contando sua experiência na ocasião do incêndio. Entrada a 85 coroas (R$ 35).
Caminhar pelo centrinho, observando os edifícios e seu reflexo na água, é um programa clássico para uma tarde ensolarada. Aliás, com sol, aproveite para subir ao mirante, no restaurante Monte Aksla, com pratos rápidos e saborosos. Se tiver disposição (e o clima ajudar), aproveite para descer os 400 degraus que ligam o mirante ao Byparquen (ou Parque da Cidade) e ver a paisagem se transformando pouco a pouco.
Com a cabeça, com tudo. Minha grande curiosidade seria satisfeita, finalmente, no aquário de Alesund, o Atlantic Sea Park (atlanterhavsparken.no; entrada a 180 coroas ou R$ 75). Construído à beira-mar, o parque conta com uma ampla área externa onde ficam lontras e pinguins – em tanques separados.
Na parte interna, o imenso aquário poderia ser igual a outros tantos que existem mundo afora, se não fosse por um detalhe. Ali nadam bacalhaus e outras espécies dos mares nórdicos, o que ajuda a compreender as diferenças dos peixes que chegam aos mercados brasileiros.
O bacalhau “oficial”, por assim dizer, é o da espécie Godus morhua – o cod, em inglês. Mais robusto, ele impressiona pelo tamanho e pode pesar até 55 quilos distribuídos em 1,70m. Já o ling é mais esguio, com até 2 metros de comprimento e 40 quilos, e sua carne se assemelha muito à do bacalhau. O zarbo é bem menor: atinge no máximo 9 quilos e 1 metro de comprimento.
Missão cumprida.