Série ‘Carcereiros’ busca entender o bem e o mal
Tiradentes, no interior de Minas, abriga em janeiro a Mostra Aurora, principal vitrine da produção autoral e independente de cinema do País. Este ano, ampliando um pouco o leque, Tiradentes abriu espaço para discutir a relação da teledramaturgia com a literatura. E o foco foi a série Carcereiros, de José Eduardo Belmonte, adaptada – por dois craques, Fernando Bonassi e Marçal Aquino – do livro de Drauzio Varela. Série estreou na quinta, 26, na Globo.
De cara, Aquino e Bonassi disseram aquilo que qualquer pessoa que acompanhe minimamente o noticiário está cansada de saber – o sistema carcerário brasileiro é cruel, desumano. E o diretor Belmonte – seu filme que mais se aproxima do universo da série é Alemão. Rodrigo Lombardi faz o protagonista. É um agente penitenciário, personagem que o sistema tenta manter no anonimato, mas que volta e meia vai parar nos jornais e na TV – como refém, quando as penitenciárias explodem, e isso ocorre com frequência.
Em casa, Othon Bastos adverte o filho/Lombardi. Por que ele insiste em trazer para o ambiente familiar a pressão do trabalho? Quem responde é a chamada da série – o carcereiro pode sair da penitenciária, mas a penitenciária não sai de dentro dele. Como diretor, Belmonte gosta de retratar pessoas diante de problemas grandes demais – que as ultrapassam. Os carcereiros vivem nesse limite. São servidores de um Estado que não lhes fornece ferramentas para enfrentar situações graves diante de gangues criminosas. E vivem expostos à violência.
Além do texto e da interpretação sólidos, Carcereiros beneficia-se daquilo que Daniel Filho gosta de chamar de “plus a mais”. A série funciona em dois registros, incorporando imagens de um documentário por Fernando Grostein, Pedro Bial e Claudia Calabi sobre a violência, incluindo motins, em presídios. Carcereiros (reais) dão seus depoimentos, costurando a trama. Desde ontem, a Globo soma à ficção de Onde Nascem os Fortes o docudrama de Carcereiros. Se você não reza na cartilha do bandido bom é bandido morto, a série vai ajudar a iluminar a realidade (e entender o Brasil). Nada da simplificação de mocinhos versus bandidos. Carcereiros busca o humano para entender o bem e o mal de cada figura em cena.