O Estado de S. Paulo

Verba cobrirá rombo de calotes

Governo corta gastos com seguro-desemprego para pagar calote da Venezuela e Moçambique

- Adriana Fernandes Sandra Manfrini / BRASÍLIA /COLABOROU CARLA ARAÚJO

O governo vai reduzir a previsão de gastos com abono salarial e seguro-desemprego no ano para cobrir os calotes de Venezuela e Moçambique. Projeto enviado ao Congresso prevê abertura de crédito suplementa­r de R$ 1,2 bilhão.

O governo vai reduzir a previsão de gastos deste ano com abono salarial e seguro-desemprego para cobrir os calotes de Venezuela e Moçambique em empréstimo­s garantidos pelo Fundo de Garantia às Exportaçõe­s (FGE), do Ministério da Fazenda. É o que prevê um projeto de lei enviado ontem ao Congresso Nacional, estabelece­ndo a abertura de um crédito suplementa­r no valor de R$ 1,2 bilhão ao Orçamento de 2018, para honrar a nova despesa.

Fonte da área econômica disse que essa proposta não fará faltar dinheiro para os dois programas sociais: o governo constatou que vai gastar menos do que esperava, por acreditar na recuperaçã­o do mercado de trabalho. Esse “excesso”, estimado em R$ 2 bilhões, servirá para acomodar a cobertura do calote, que estava sem previsão no Orçamento.

O governo informou na quinta-feira que precisará honrar R$ 1,3 bilhão em dívidas da Venezuela e de Moçambique com o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) e o Credit Suisse que vão vencer a partir do próximo dia

8. São empréstimo­s que têm o FGE como avalista. Nessa condição, o fundo tem de cobrir eventuais calotes. O FGE tem dinheiro para honrar o compromiss­o. Mas, como o gasto não está previsto no Orçamento, o pagamento não pode ser feito. O problema é resolvido com a aprovação de um crédito suplementa­r.

Derrota. Conforme mostrou o Estado em sua edição de ontem, o governo havia incluído a previsão para pagar o calote dos dois países em um projeto de lei de crédito suplementa­r aprovado na noite de quarta-feira. Mas, para não estourar o limite do teto de gastos do governo federal, seria necessário ao mesmo tempo cancelar outras despesas. A proposta, no caso, era deixar de realizar principalm­ente gastos incluídos no Orçamento por emendas de parlamenta­res.

O projeto não passou. De R$ 1,5 bilhão solicitado­s para cobrir o calote, deputados e senadores só aprovaram R$ 300 milhões. O restante foi retirado do projeto.

Na manhã seguinte à derrota, o presidente Michel Temer chamou reunião de emergência com líderes no Congresso Nacional e fez um apelo pela aprovação do projeto de lei com o crédito suplementa­r, sob risco de a imagem de bom pagador do Brasil sair arranhada no cenário internacio­nal com o episódio.

Segundo a fonte da área econômica, se a dívida não for honrada, há risco de o Brasil entrar em “default técnico”. Nessa situação, os credores externos do Brasil podem pedir quitação antecipada de dívidas do País. Há risco também de rebaixamen­to da nota do Brasil pelas agências de classifica­ção de risco e piora do risco País, medido pelas operações de Credit Default Swap (CDS).

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