Reforma trabalhista encolhe festa de centrais no 1º de Maio
Sem a contribuição sindical obrigatória, comemorações têm menos atrações; evento da Força Sindical em São Paulo perdeu R$ 500 mil em investimentos
A primeira comemoração do Dia do Trabalho após a reforma trabalhista será menor que em anos anteriores, sob efeito do fim da contribuição sindical obrigatória. Só a festa organizada pela Força Sindical em São Paulo, que costuma reunir o maior público da data, perdeu R$ 500 mil em investimento – a média de gasto no evento era de R$ 2,5 milhões. O número de carros sorteados diminuiu, assim como o palco que recebe artistas e políticos. “Os sindicatos, que bancam parte da festa, estão sem condições financeiras”, disse o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves. A Central dos Sindicatos Brasileiros, que fez uma festa grandiosa
no ano passado, não programou evento para hoje. A CUT, que organiza atos mais modestos, vai focar seus eventos pelo Brasil na defesa do ex-presidente Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato. Ato em Curitiba pedirá a liberdade do petista e reunirá as centrais sindicais pela primeira vez após 20 anos.
As seis maiores centrais sindicais do País estarão hoje, pela primeira vez em 20 anos, juntas no mesmo palanque no dia 1.º de Maio. A liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será uma bandeira unificada, mas as organizações – boa parte delas controladas por partidos da base do governo federal – também escolheram o presidente Michel Temer (MDB) e a reforma trabalhista como alvos.
Os dirigentes das centrais negam o esvaziamento da pauta trabalhista em favor da solidariedade a Lula, condenado na Lava Jato e preso em Curitiba desde o dia 7. “A UGT é solidária ao Lula, mas não temos isso de todo mundo levantando essa bandeira como prioritária. Não há consenso”, disse o presidente da UGT, Ricardo Pattah, que é filiado ao PSD – presidido pelo ministro de Ciências e Tecnologia, Gilberto Kassab.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, admitiu a intenção do ato e tratou a defesa do expresidente como prioridade. “A estrela do 1.° de Maio será o povo, que estará lá em defesa da democracia, do ‘Lula Livre’ e candidato a presidente. Os presidenciáveis do campo da esquerda devem aparecer.”
Segundo ele, os demais pontos da pauta comum, “além do apoio a Lula”, são “direitos dos trabalhadores e democracia”. Outros dois dirigentes, ouvidos reservadamente pelo Estado, confirmaram que as pautas trabalhistas ficarão de lado hoje em Curitiba – os organizadores esperam 25 mil pessoas para o ato, que contará com os militantes acampados no bairro de Santa Cândida, a 750 metros da sede da PF, onde está Lula.
Governo. Os ataques ao governo Temer também estão na pauta. Pattah prometeu um discurso duro contra o Planalto, chamado por ele de “mentiroso”, mas desconversou quando lembrado de que seu partido está na base de sustentação do governo, com Kassab. Até recentemente, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, entusiasta da reforma trabalhista, também era do PSD e circulava com desenvoltura nos eventos da UGT. “Política não tem lógica”, disse Pattah.
João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, seguiu a mesma linha: integra um partido da base de Temer, o Solidariedade, mas faz críticas ao presidente quando está em cima do palanque.
“A Força não apoiou o Temer. É o Solidariedade que tem relação política com ele”, disse o sindicalista. Além do ato em Curitiba, CUT e Força também realizarão atos nos Estados no formato de sempre, com shows e distribuição de prêmios.
Mesmo que só os políticos de esquerda sejam bem-vindos em Curitiba, nem todos estão confortáveis em subir no palanque. Reservadamente, um dirigente do PDT disse que Ciro Gomes, pré-candidato do partido à Presidência, não vai ao evento em Curitiba porque o ato será um palanque eleitoral para Lula.
Unidade. Para o cientista político Cláudio Couto, da FGV, “é surpreendente a adesão da Força e de outros grupos que apoiaram o impeachment da Dilma Rousseff” ao ato em Curitiba.
Pesquisador sobre trabalho na USP, o professor Ruy Braga apontou que a reforma trabalhista favorece a unidade. “Juruna, Paulinho (da Força) e Pattah têm sensibilidade política. Não querem aparecer para suas bases como lideranças sectárias ou que não colaboram a fim de defender os trabalhadores.”
De acordo com Braga, o fato de Lula – “maior liderança sindical do País” – estar preso também tem impacto. Já Temer gerou insatisfação no meio. “O governo editou a MP (que atenuou pontos da reforma), e depois deixou ela morrer por inanição”, afirmou Couto.
Separados. Enquanto em Curitiba o palco estará montado para o ex-presidente Lula, em São Paulo, vários presidenciáveis irão ao tradicional evento da Força Sindical, na Praça Campos de Bagatelle. Segundo Juruna, Rodrigo Maia (DEM), Aldo Rebelo (SD), Manuela d’Ávila (PCdoB), Ciro Gomes (PDT) e Paulo Rabelo de Castro (PSC) confirmaram presença.
A CUT fará em São Paulo um ato na Praça da República em parceria com a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiros (CTB), ligada ao PCdoB. O evento terá líderes locais.