Extremistas matam 38 em ataques no Afeganistão
Violência. Dois atentados na capital afegã deixaram 26 mortos, sendo que segunda bomba tinha como alvo profissionais da imprensa e equipes de resgate que se dirigiam ao local da primeira explosão; facção do Estado Islâmico reivindicou autoria das ações
Quatro ataques terroristas deixaram pelo menos 38 mortos ontem no Afeganistão. Na capital, Cabul, duas explosões mataram 26 pessoas, entre elas nove jornalistas. Uma facção do grupo extremista Estado Islâmico assumiu o crime. Um repórter morreu na cidade de Khost. Em Kandahar, outro ataque matou 11 crianças.
Dois bombardeios simultâneos mataram 26 pessoas ontem em Cabul, no Afeganistão, entre elas nove jornalistas, no pior ataque contra profissionais de imprensa no país desde 2002, segundo o Comitê para Proteção dos Jornalistas. Em outros dois ataques, 11 crianças morreram em Kandahar, e um repórter da BBC foi morto em Khost. Com isso, o dia de violência no país terminou com 38 mortos.
Nos ataques em Cabul, suicidas explodiram uma primeira bomba na hora do rush e um segundo artefato, 40 minutos depois, com o intuito de atingir jornalistas e equipes de resgate que se dirigiram ao local do primeiro ataque, segundo autoridades locais. Uma facção afegã do Estado Islâmico assumiu a autoria dos atentados, ocorridos oito dias depois do ataque que matou 57 pessoas que se registravam para votar.
Segundo o porta-voz da polícia afegã Hashmat Stanikzai, o duplo atentado deixou 26 mortos e 49 feridos, mas o número de mortes deve subir. Entre os jornalistas mortos está o fotógrafo da agência France Presse Shah Marai, que há 20 anos cobria os conflitos no Afeganistão.
O fotógrafo da Reuters Omar Sobhani, um velho amigo e colega de Marai, estava ao lado dele quando a bomba explodiu. “Estávamos parados em uma pequena elevação para ter um melhor campo de visão para a foto quando ouvi um estrondo e o vi no chão. Fiquei chocado, não pude acreditar”, disse Sobhani, que sofreu ferimentos leves.
“O suicida parece ter tido como alvo os jornalistas, apresentando um cartão de imprensa para a polícia antes de se juntar ao grupo que estava perto do local da explosão”, afirmou o porta-voz do Ministério do Interior Najib Danesh.
Entre os jornalistas mortos, sete eram de veículos afegãos: dois repórteres da TV Mashal, um cinegrafista e um repórter que trabalhavam para a 1TV, dois repórteres da Rádio Azadi e um da Tolo News, segundo a Comissão Afegã de Proteção aos Jornalistas (AFJSC).
Em Khost, Ahmad Shah, que trabalhava para o serviço de idioma pashtun da BBC e também para a Reuters, foi morto na periferia da cidade, de acordo com Talib Mangal, porta-voz do governador da Província de Khost. A BBC confirmou a morte em um comunicado divulgado no Twitter.
Algumas horas depois, outro suicida em um veículo atacou um comboio da Otan na Província de Kandahar, no sul do país, matando 11 crianças que estudavam em uma escola religiosa da região – 5 soldados romenos também morreram na ação. O governo afegão disse, por meio de nota, que os atentados “constituem um ataque ao Islã” e um “crime imperdoável”.
Os atentados evidenciam a natureza interminável da violência no país, que ao menos desde os anos 1980 tem sofrido com uma onda de conflitos armados, invasões e guerras civis. A fase atual do conflito começou com a invasão americana, em 2001, que derrubou o regime Taleban logo após o 11 de Setembro. Apesar disso, o grupo nunca foi completamente derrotado e o governo civil instalado desde então não tem conseguido pacificar completamente o país.
A ascensão do Estado Islâmico, em 2014, complicou o cenário político. Cabul se tornou, de acordo com a ONU, o local mais perigoso do Afeganistão para os civis. A capital registra um aumento do número de atentados, geralmente cometidos por homens-bomba e reivindicados pelo Taleban ou pelo EI. Os ataques contra civis provocaram o dobro de vítimas nos primeiros três meses de 2018 – 763 civis mortos, 1.495 feridos – na comparação com o mesmo período do ano passado.