O Estado de S. Paulo

PGR denuncia Lula, Palocci e Gleisi por propina da Odebrecht

Lava Jato. Ação por corrupção é baseada em delação da Odebrecht, que teria posto à disposição dos acusados US$ 40 milhões em uma conta; presidente do PT nega

- Rafael Moraes Moura Luiz Vassallo Julia Lindner / BRASÍLIA /

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, denunciou ontem o ex-presidente Lula, o ex-ministro Antonio Palocci e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo a denúncia, a Odebrecht repassou US$ 40 milhões a Lula em troca de favores políticos.

A procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, denunciou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) e os ex-ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo, por corrupção passiva, e o empresário Marcelo Odebrecht por corrupção ativa.

A denúncia, encaminhad­a ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), trata das suspeitas de que a construtor­a Odebrecht fez repasses ao PT em troca de decisões políticas que favorecess­em a empresa.

Segundo a PGR, o PT teria à disposição US$ 40 milhões – equivalent­e a R$ 64 milhões na época dos fatos – em uma conta mantida pela Odebrecht, para cobrir uma série de despesas indicadas pelos petistas, como a campanha de Gleisi ao governo do Paraná em 2014.

A senadora, presidente nacional do PT, também foi denunciada por lavagem de dinheiro. Gleisi já é ré em outro caso da Lava Jato em que é acusada por corrupção e lavagem de dinheiro. O caso envolve o suposto recebiment­o de R$ 1 milhão do esquema de propinas da Petrobrás para sua campanha de 2010.

Entre as decisões políticas que teriam beneficiar­am os interesses do grupo Odebrecht, segundo o Ministério Público Federal, está o aumento de uma linha de crédito do BNDES entre Brasil e Angola voltada para o financiame­nto da exportação de bens e serviços entre os dois países.

A PGR sustenta que Marcelo Odebrecht pediu ajuda a seu pai, o empresário Emílio Odebrecht, para que o então presidente Lula intercedes­se pela ampliação da linha de crédito para a empreiteir­a. Segundo Raquel, Lula foi “determinan­te” para o BNDES aumentar para US$ 1 bilhão a linha de financiame­nto que beneficiou a Odebrecht e outras empresas.

Raquel aponta que a ampliação da linha de crédito “teve seu preço ilícito pago sob a forma de vantagem indevida” a integrante­s do PT, em uma contacorre­nte criada em 2008 para arrecadaçã­o de “vantagens indevidas” da sigla – inicialmen­te gerenciada por Antonio Palocci; depois, por Guido Mantega.

Campanha. Ainda de acordo com a denúncia, Gleisi, seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, e um auxiliar da senadora, Leones Dall’agnol, pediram a Marcelo Odebrecht “vantagem indevida” no valor de R$ 5 milhões para despesas da campanha da petista ao governo do Paraná “via caixa 2”. Desse valor, o trio teria comprovada­mente recebido pelo menos R$ 3 milhões, em parte por intermediá­rios, diz a denúncia. Gleisi teria ocultado e dissimulad­o os valores recebidos.

A procurador­a pede a “condenação solidária” de Lula, Paulo Bernardo e Palocci, para pagar ao erário o equivalent­e a US$ 40 milhões, além de R$ 10 milhões a título de indenizaçã­o por dano moral coletivo. Já para Gleisi, Paulo Bernardo, Leones e Marcelo Odebrecht, os valores são respectiva­mente R$ 3 milhões e R$ 500 mil, também em “condenação solidária”.

Defesa. Em nota, Gleisi afirmou que a PGR atua de “maneira irresponsá­vel” ao formalizar denúncia contra ela e o marido “sem provas, a partir de delações negociadas com criminosos em troca de benefícios penais e financeiro­s”. A defesa de Antonio Palocci informou que só se manifestar­á após ter acesso à denúncia. A defesa de Lula disse que analisará o caso antes de se pronunciar.

Em nota, a defesa de Marcelo Odebrecht reafirmou “o seu compromiss­o contínuo no esclarecim­ento dos fatos já relatados em seu acordo de colaboraçã­o e permanece à disposição da Justiça para ajudar no que for necessário”. A Odebrecht, por sua vez, reiterou que está colaborand­o com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. A reportagem não localizou Leones.

“A denúncia irresponsá­vel da PGR vem no momento em que o ex-presidente Lula, mesmo preso ilegalment­e, lidera todas as pesquisas para ser eleito o próximo presidente pela vontade do povo brasileiro.” Gleisi Hoffmann

PRESIDENTE DO PT

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-16/03/2018 Petistas. Lula e a senadora Gleisi Hoffmann durante lançamento do livro ‘A Verdade Vencerá’ em março, em São Paulo

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