O Estado de S. Paulo

Sem imposto sindical, centrais encolhem eventos do 1º de Maio

Ajuste. Primeira comemoraçã­o do Dia do Trabalho após a entrada em vigor da reforma trabalhist­a terá menos atrações, um efeito direto das novas condições financeira­s dos sindicatos; Força Sindical investiu R$ 500 mil a menos em seu evento em São Paulo

- Cleide Silva

Na primeira comemoraçã­o do Dia do Trabalho após a entrada em vigor da nova legislação trabalhist­a, a festa encolheu, um efeito principalm­ente do fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a. O evento que tradiciona­lmente reúne o maior público na data, realizado pela Força Sindical em São Paulo, perdeu R$ 500 mil em investimen­to. Na festa anterior foram gastos R$ 2,5 milhões, valor que, na média, vinha sendo mantido havia alguns anos.

“Os sindicatos, que também bancam parte da festa, estão sem condições financeira­s”, justificou o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna. Este ano, o número de carros a serem sorteados, um dos grandes atrativos do evento que já chegou a ter público de mais de 1 milhão de pessoas, também diminuiu, e haverá menos “estrelas” se apresentan­do no palco hoje.

A Central dos Sindicatos Brasileiro­s (CSB) também sentiu a mudança de cenário. Depois de ter feito uma festa grandiosa no Sambódromo de São Paulo no ano passado, com cantores como Emicida e Fernando & Sorocaba, a central não programou evento para hoje. “A ideia era repetir o formato (da comemoraçã­o), mas a reforma afetou nossa estrutura”, disse Álvaro Egea, secretário-geral da CSB.

A Central Única dos Trabalhado­res (CUT), que costuma fazer atos mais modestos, vai focar seus eventos pelo Brasil na defesa da liberdade do expresiden­te Lula, condenado e preso na Operação Lava Jato. A central programou atos em diversas cidades – em São Paulo será na Praça da República, a partir das 12h. O principal ato deste ano será em Curitiba, onde Lula está preso desde 7 de abril (leia mais na página A9).

A reforma trabalhist­a deve ser o principal alvo das críticas econômicas dos sindicatos nos eventos de hoje. “Ao contrário do que prometiam seus defensores, a reforma não reduziu a inseguranç­a jurídica, ao contrário, aumentou; também não está gerando empregos e nem modernizou as relações trabalhist­as”, afirma Egea, da CSB.

Para Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhado­res (UGT), “a reforma é mentirosa e criminosa”. A entidade este ano focou suas ações em um seminário sobre a indústria 4.0 e o emprego do futuro e em um debate com candidatos à presidênci­a da República.

Na opinião do pesquisado­r em economia do trabalho do Ibre/FGV, Tiago Barreira, porém, também há inseguranç­a jurídica por parte das empresas diante de ações na Justiça promovida por sindicatos para manter o imposto sindical aprovado em assembleia­s. E ressalta que o fim da contribuiç­ão obrigatóri­a também afeta os sindicatos patronais. “As entidades precisam buscar fontes alternativ­as de receita.”

Atrações. No ano passado, a Força Sindical sorteou 17 modelos Hyundai HB20 (que no mercado custa R$ 44 mil) ao público que foi à Praça Campo de Bagatelle, na zona Norte de São Paulo. Hoje, serão 15. O grandioso palco para receber artistas, políticos e sindicalis­tas está 20% menor. Entre os políticos, devem estar presentes o presidente do Câmara, Rodrigo Maia, o governador Márcio França e o prefeito Bruno Covas. Entre os cantores a se apresentar estarão Leonardo e a dupla Simone & Simaria.

Juruna acredita em um público de 500 mil pessoas, ante as cerca de 700 mil em 2017. Em anos anteriores a Força chegou a atrair mais de 1 milhão de

“Os sindicatos, que também bancam parte da festa, estão sem condições financeira­s.” João Carlos Gonçalves (Juruna) SECRETÁRIO­GERAL DA FORÇA SINDICAL

pessoas. Segundo ele, todos os candidatos à presidênci­a foram convidados – “exceto Bolsonaro, pois o discurso dele não é bem vindo no meio dos trabalhado­res”. De acordo com Juruna, boa parte dos custos da festa é bancada por patrocinad­ores como a Caixa Econômica Federal e a montadora Hyundai.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Menor. Funcionári­os montavam ontem o palco da Força
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