O Estado de S. Paulo

Netanyahu acusa Irã de trapacear em acordo nuclear

Donald Trump apoia premiê de Israel e ameaça retirar EUA de pacto; Teerã reage e diz que tem capacidade para enriquecer urânio

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O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, revelou ontem o que chamou de “arquivos nucleares secretos” do Irã e acusou o país de mentir por anos para construir armas nucleares. Netanyahu apresentou uma série de documentos dias antes do presidente americano, Donald Trump, decidir se retira os EUA do pacto nuclear firmado com Teerã.

Em uma apresentaç­ão teatral transmitid­a pela TV, o premiê, contrário ao acordo, mostrou “cópias exatas” de dezenas de milhares de documentos originais iranianos obtidos há algumas semanas por espiões israelense­s em Teerã.

O Irã chamou de “revelações falsas” os documentos de Netanyahu. “Que convenient­e. Timing coordenado de supostas revelações de inteligênc­ia por parte do menino que dá um alarme falso dias antes do 12 de maio”, afirmou, pelo Twitter, o chanceler iraniano, Mohamed Javad Zarif, se referindo à data em que Trump deve decidir se os EUA deixam o pacto nuclear.

“Sabemos há anos que o Irã tem um programa nuclear secreto, chamado Projeto Amad. Agora, podemos demonstrar que era um programa completo para desenvolve­r, construir e testar armas nucleares. Também podemos demonstrar que o Irã está guardando em segredo material para utilizá-lo quando quiser”, disse Netanyahu.

O objetivo do projeto, segundo o premiê israelense, é “desenvolve­r, produzir e testar cinco ogivas nucleares cada uma com 10 quilotons de TNT para sua integração em um míssil”, o que, acrescento­u, “é como se colocassem cinco bombas de Hiroshima em um míssil balístico”. Os documentos, 55 mil páginas de papel e 183 CDs, constituem “evidências novas e conclusiva­s do programa de armas nucleares que o Irã escondeu durante anos”, completou.

O primeiro-ministro não revelou, no entanto, nenhuma prova de que Teerã tenha violado o acordo fechado com diversos países em 2015 – que entrou em vigor no começo de 2016. Durante o discurso, ele se limitou a dizer que, em 2017, o Irã “transferiu seus arquivos de armas nucleares para um local altamente secreto, que poucos iranianos conhecem”.

Após a fala de Netanyahu, Trump insinuou que planeja deixar o acordo internacio­nal ao dizer que não acredita que isso prejudicar­á seus contatos com a Coreia do Norte. “O que soubemos hoje (ontem) sobre o Irã mostra realmente que eu tinha 100% de razão sobre o acordo”, disse Trump, em entrevista na Casa Branca, ao lado do presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari.

Netanyahu afirmou ter fornecido o material aos EUA para que o governo americano possa atestar sua veracidade. Agências de inteligênc­ia americanas concluíram, em 2017, que Teerã havia suspendido a parte ativa

Jerusalém A polícia de Israel e seguranças dos EUA vistoriara­m ontem o terreno que receberá a embaixada americana em Jerusalém.

dos esforços para construir uma bomba nuclear – ações iniciadas após o começo da Guerra do Iraque, em 2003. Durante o discurso de ontem, o premiê israelense confirmou essa versão, mas acrescento­u que outros elementos do Projeto Amad continuara­m ativos e avançaram.

“O Irã tem capacidade técnica para enriquecer urânio a um nível mais alto do que tinha antes de assinar o acordo”, afirmou o chefe da organizaçã­o de energia atômica do Irã, Ali Akbar Salehi, à TV estatal. “O Irã não está blefando. Tecnicamen­te, estamos totalmente preparados para enriquecer urânio acima do que costumávam­os. Espero que Trump caia em si e continue no acordo”, completou Salehi.

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SEBASTIAN SCHEINER/AP Pressão. Premiê israelense diz que Teerã mentiu sobre intenções nucleares: no dia 12, Trump decide se os EUA se retiram do pacto

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