CBG fala em ‘providências urgentes’
Um dia após denúncia contra ex-técnico da seleção, entidade que comanda o esporte afirma que ‘trabalha para apurar casos de abusos sexuais’
A Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) manifestou-se por meio de nota oficial sobre as denúncias veiculadas no programa Fantástico, da TV Globo, contra o extreinador da seleção masculina, Fernando de Carvalho Lopes, acusado por pelo menos 40 ginastas ou ex-ginastas de ter cometido abusos sexuais enquanto trabalhava como técnico do Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), de São Bernardo do Campo. Ontem, o clube anunciou o afastamento de Fernando de suas funções e o Luís Ricardo Davanzo, advogado do acusado, reforçou que seu cliente afirma ser inocente.
De acordo com a reportagem do Fantástico, mais de 80 pessoas foram ouvidas. Destas, 40 alegaram ter sido vítimas de algum tipo de abuso físico, moral ou sexual por Fernando, que fez carreira no Mesc e integrou, durante dois anos, a comissão técnica da seleção.
Os relatos apontam para um comportamento padrão do treinador: ele se aproveitava das instruções para apalpar nádegas e genitais dos atletas. Também os abordava enquanto tomavam banho no vestiário ou estavam na sauna.
Em nota, a CBG afirma que trabalha em parceria com o Ministério do Trabalho e promete tomar providências urgentes para apurar casos de abusos sexuais. “A CBG informa que adotará providências urgentes, em consonância com orientações do Ministério Público do Trabalho no sentido de avaliar o melhor procedimento que o caso requer”, diz o comunicado.
“Nenhum caso de Assédio ou Abuso ficará sem rigorosa apuração e eventual sanção, conforme a hipótese”, finaliza a nota.
O advogado Luís Ricardo Davanzo, que defende o ex-técnico da seleção brasileira, reforçou que seu cliente alega inocência, disse ser necessário aguardar o término da investigação policial. “Temos de analisar também o momento da acusação. Ele (Fernando) estava prestes a ter o melhor momento na carreira, que era ir para a Olimpíada como professor. Por isso, temos de apurar com calma, aguardar a Polícia Civil, ouvir todos que se sentem vítimas”, falou Davanzo ao Estado.
Ele se refere à primeira acusação formalizada contra Fernando, ainda em 2016, pouco antes dos Jogos Olímpicos do Rio, baseada no relato de um menino menor de idade que alegou ter sido abusado durante anos.
O caso corre na Justiça há dois anos. Ontem, o Mesc anunciou o afastamento de Fernando. O clube garantiu que desde 2016 ele já não tinha mais contato com os ginastas, cumprindo tarefas administrativas.
Alguns atletas utilizaram as redes sociais para falar do caso, como a ex-nadadora Joanna Maranhão, que em 2008 revelou ter sofrido abuso de um ex-treinador quando tinha 9 anos. “Nunca vai deixar de doer. Sempre vou me sentir impotente quando me deparo com histórias como essas”, escreveu.
Outro caso. No final da noite de ontem, o ginasta Diego Hypolito afirmou ao Jornal Nacional que foi vítima de assédio de cunho sexual quando era criança e treinava no Flamengo, no Rio.
De acordo com Hypolito, esses tipos de agressões eram constantes, e tinham o consentimento dos treinadores. Nos abusos, atletas mais velhos e os técnicos forçavam os ginastas mais jovens a “pagar castigos”, como pegar uma pilha com o ânus. Ele afirmou que esse tipo de humilhação era frequente e acontecia inclusive durante a disputa de campeonatos.
O medalhista olímpico e bicampeão mundial no solo afirmou que nunca relatou os abusos aos seus pais e decidiu contar após o caso Fernando de Carvalho Lopes, seu ex-treinador, ter se tornado público. “A gente precisa, para um mundo melhor, expor isso. Espero que, daqui pra frente, nunca mais essas coisas voltem a acontecer.”
Conf. Brasileira de Ginástica EM NOTA ENVIADA À IMPRENSA ‘Nenhum caso de Assédio ou Abuso ficará sem rigorosa apuração e ainda eventual sanção’