EUA fecham acordo ‘em princípio’ com Brasil sobre aço
Termos desse acordo, que também inclui Argentina e Austrália, não foram especificados, e negociações em relação à sobretaxa continuam
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiou para até 1.º de junho a imposição de tarifas de importação de aço e alumínio produzidos no Canadá, União Europeia e México, e alcançou acordos “em princípio” com Argentina, Austrália e Brasil, informou ontem a Casa Branca. A decisão foi tomada a poucas horas do fim do prazo das isenções temporárias concedido para alguns países – o prazo vencia hoje.
Em comunicado, Trump disse que os acordos com Brasil, Argentina e Austrália ressaltam a estratégia bem-sucedida do seu governo para “alcançar resultados justos com os aliados”, com a finalidade de proteger a segurança nacional americana e de enfrentar os desafios globais das indústrias de aço e de alumínio.
Disse ainda que, como os EUA concordaram em princípio com esses países, não é necessário definir uma data de expiração para as isenções. “Mas, se os meios alternativos satisfatórios não forem finalizados em breve, considerarei uma nova imposição das tarifas”, disse. E lembrou que já havia chegado a um acordo final com a Coreia do Sul sobre as importações de aço, cujos detalhes foram anunciados anteriormente pelos governos dos dois países.
Trump impôs em março tarifas de importação de 25% para o aço e de 10% sobre o alumínio, mas tinha dado isenções temporárias para Canadá, México, Brasil, UE, Austrália e Argentina.
Autoridades do governo americano afirmaram que os países exportadores de aço e alumínio vão ter de concordar com cotas para proteger de maneira similar os produtores dos EUA. A isenção permanente dada à Coreia do Sul ocorreu em troca de o país aceitar reduzir suas exportações aos EUA em cerca de 30%. Mais cedo, uma fonte do governo brasileiro com conhecimento das discussões tinha afirmado à Reuters que a expectativa era de “atendimento em parte (do pedido do Brasil de isenção)”, mas que isso só ficaria claro com a divulgação dos EUA.
O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os EUA. Na terça-feira passada, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, afirmou que uma comitiva brasileira se reuniria com representantes do departamento de Comércio dos EUA nesta semana para tentar prorrogar a isenção temporária de produtos brasileiros das tarifas americanas. Na ocasião a entidade comentou que os EUA já tinham definido que pediriam cotas de exportação ao Brasil.
Perda. Mas os negociadores brasileiros vinham resistindo à adoção das cotas. Eles argumentavam que uma autolimitação das exportações poderia ser prejudicial à própria indústria americana, uma vez que 80% dos embarques para aquele mercado são de aço semiacabado. Ou seja, de matéria-prima para a indústria local. Além disso, perto de 14% do aço produzido naquele país vem de empresas com capital brasileiro, que empregam cerca de 100 mil pessoas.
Outro argumento repetido pelo Brasil é o da complementaridade das indústrias. As siderúrgicas brasileiras não só fornecem insumos para as norteamericanas, como são grandes importadoras de carvão produzido naquele país, com compras anuais de US$ 1 bilhão.
O governo brasileiro também insistiu com os americanos que as relações econômicas entre os dois países são francamente favoráveis aos EUA. Se consideradas as trocas de mercadorias e serviços, o saldo foi de US$ 250 bilhões em 2017.
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, afirmou ontem que qualquer decisão dos EUA de impor tarifas sobre aço e alumínio canadense seria “uma ideia muito ruim” e que isso iria interromper o comércio entre os dois países. O Canadá é o maior exportador de aço para os EUA, com uma indústria siderúrgica altamente integrada com a do país vizinho.